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quarta-feira, 13 de maio de 2020

Contra a Democracia nas livrarias


Nenhum modelo político deve ser sacralizado, por nenhum ser perfeito e não serem imutáveis as circunstâncias em que algum deles se tenha revelado como o menos mau.

A edição deste livro é um contributo para as pessoas livres, que o queiram continuar a ser, debaterem as disfunções crescentes que cada vez mais visivelmente estão a impedir a democracia de realizar alguns dos seus mais importantes ideais. É também um desafio para os que visam aperfeiçoar o seu funcionamento de modo a realizar os seus objectivos essenciais: a liberdade, o progresso social, a dignidade, o desenvolvimento humano.

A maioria das pessoas acredita que a democracia é a única forma justa de governo. Crê que todos temos direito a uma quota igual de poder político. E também que a solução de participação política "um homem um voto" é boa para nós – dá-nos poder, ajuda-nos a conseguir o que queremos e tende a tornar-nos mais inteligentes, virtuosos e atentos uns aos outros.

Mas Brennan considera que estão erradas, argumentando que a democracia deveria ser julgada pelos seus resultados,apresentando abundantes dados empíricos de que não são bons o suficiente.

Tal como os acusados têm direito a um julgamento justo, os cidadãos têm direito a um governo competente. Mas a democracia é com frequência o domínio do ignorante e do irracional, ficando demasiadas vezes aquém do que se espera. Além disso, uma enorme diversidade de pesquisa em ciências sociais mostra que a participação política e a deliberação democrática parecem tender cada vez mais frequentemente a tornar as pessoas piores – mais irracionais, tendenciosas e más. Considerando esse quadro sombrio, Brennan argumenta que um diferente sistema de governo – a epistocracia, ou governo dos sábios – pode ser melhor do que a democracia, e que é tempo de reflectir seriamente sobre isso.

Longe de se tratar de uma diatribe panfletária, esta é uma relevante obra de filosofia política em que se discute, de forma intelectualmente honesta, cada um dos melhores argumentos a favor da democracia. O resultado é uma crítica séria e uma defesa contemporânea do governo de quem mais sabe, com a resposta aos problemas práticos que tal solução possa levantar.

«Ninguém deve ter poder sobre os outros, a menos que seja globalmente competente», defende Jason Brennan, autor de Contra a Democracia, publicado pela Gradiva.

O filósofo Jason Brennan respondeu a uma questão que lhe colocámos já durante a pandemia por Covid-19. 

Cultura e Não Só - A maioria das pessoas acredita que a democracia é a única forma justa de governo. No livro argumenta que não é. Que aspecto destacaria para levar as pessoas a repensar a sua visão das democracias?

Jason Brennan Quando tudo está a correr bem, as pessoas preocupam‑se muito com o valor simbólico da democracia. Quando há uma crise, preocupam‑se menos com isso e mais com a possibilidade de ser encontrada uma solução para a crise. O quão bem as democracias ultrapassam a crise em comparação com os seus concorrentes terá um forte efeito sobre como as pessoas entenderão a filosofia política nos próximos anos. O problema, porém, é que, quando ocorre uma crise, as pessoas não estão de mente aberta e a pensar criticamente sobre que sistemas apresentam o melhor desempenho. Em vez disso, querem uma Pessoa Grande e Forte que as salve.

Então, em vez de equacionarem melhorias no funcionamento democrático, estão dispostas a conceder vastos poderes ditatoriais a líderes que os exigem em voz alta e que prometem salvar outros. Ao invés de avançar em direcção à epistocracia, seguimos em direcção ao autoritarismo. Veja‑se a Hungria, para um exemplo recente.

Em vez disso, devemos antes questionar‑nos, neste caso, se certos tipos de regulação restringem a capacidade de os mercados e de as agências governamentais responderem com competência ao problema.

Nós já sabíamos que este era um problema potencial em Dezembro, no entanto, governos de todo o mundo agem agora como se tivessem sido apanhados de surpresa. A solução pode não ser substituir a democracia por outra coisa, mas remover impedimentos internos que fazem com que a democracias funcionem mal.