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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Entrevista a António da Costa Neves

O Cultura e Não Só esteve à conversa com o escritor António da Costa Neves sobre a sua mais recente obra “Geraldo Sem Pavor”, editado pela Saída de Emergência.

Falar com o autor é como mergulhar na memória de Portugal, sentir a paixão que o mesmo nutre pela nossa riquíssima história e deixar-nos levar por detalhes infindáveis que nos levam a mente a imaginar tempos antigos.

Enquanto não se inventa uma máquina de viajar no tempo deliciamo-nos com os pormenores romanceados de Geraldo Sem Pavor.


Quando começou a sua carreira literária?

A minha carreira começou depois de me reformar à cerca de 15 anos, o meu primeiro livro foi publicado em 2007, anteriormente escrevi poesia para jornais e revistas, mas foi com a reforma que surgiu a prosa e a edição de livros.

Neste momento tenho cerca de 12 obras publicadas entre romances, poesia, contos, entre outros.


Porquê o romance histórico?

O romance histórico tem uma vantagem sobre a historiografia pura e dura, enquanto que a historiografia é baseada em documentos e numa pesquisa exaustiva de documentos, o romance preenche aqueles espaços intermédios onde não se sabe nada permitindo assim que teçamos uma trama entre as partes documentadas e aquelas de que não existe nenhum registro.


Quanto deste livro é baseado em factos históricos?

Em primeiro lugar da vida do Geraldo “sem Pavor” Pestana o que mais se sabe é lenda, existem alguns apontamentos na historiografia e documentação muçulmana, espanhola, e menos na historiografia portuguesa.

No último século tem-se escrito sobre o Geraldo mas as fontes são raras, no entanto o foral de Évora refere o nome de Geraldo.


Quem era o Geraldo e o que o atraiu nesta figura da nossa história?

Muitos dos meus romances nascem de conversas com o meu editor na Saída de Emergência, e o Geraldo é uma figura do meu imaginário pois como sou alentejano já o conhecia.

Por curiosidade o foral é também muito pródigo em dar favores aos vilões e bandidos e segundo consta Afonso Henriques teria dito que Évora sendo na altura uma terra de ladrões ninguém melhor que um ladrão para governar a cidade.

O Geraldo era um homem de fronteira por conseguinte um bandoleiro, e que o aproximava daquelas histórias de bandidos e cowboys que eu lia quando era jovem.

Sabe-se das conquistas que fez, nomeadamente a conquista de Évora, porque está na heráldica, no brasão e na estátua presente na cidade com a cabeça da moura e do mouro.

Eu optei por uma linha menos conhecida da vida do Geraldo, uma narrativa baseada no facto de ele saber ler e escrever o que lhe dava uma grande vantagem sobre a sua quadrilha e os outros bandoleiros locais.

Sabe-se que ele trocava correspondência com Afonso Henriques enquanto estava exilado em África, espionando a favor do rei e oferecendo-lhe oportunidades de assalto a Marrocos onde grassava a peste e os exércitos estavam diminuídos.

No que toca à narrativa do livro construi-o em 3 partes presentes em cada capítulo: 

- a primeiro parte no inicio de cada capitulo onde estão representadas as últimas 9 horas de vida do Geraldo e que serve de rememoração da sua vida.

-  a segunda parte é a parte romanceada juntamente com as personagens que vão circulando naquela altura da corte portuguesa e também da parte muçulmana.

- o terceiro ângulo é a intercalação do narrador que vai contando a história documentada.


Qual a importância de receber o prémio literário da Cidade de Almada na sua carreira?

Este foi o meu segundo prémio literário Cidade de Almada, em 2020, tendo sido o primeiro prémio atribuído ao meu primeiro livro, um prémio direccionado a escritores do concelho Almadense.

Tive também a honra de ser galardoado com outros prémios literários locais, como o prémio Alves Redol em Vila Franca de Xira, o prémio Miguel Torga em atribuído em Coimbra, entre outros.


O que se pode esperar depois deste livro?

No meu próximo livro abordo o período que antecede a ascensão de Salazar, o período de 1915 a 1926, pretendo compreender e explicar o que levou o país ao Estado Novo.

Em termos de figuras históricas, gostaria de escrever sobre o Dom António Prior do Crato, primeiro por estar intimamente ligado à minha cidade, Almada, segundo por ser um individuo que foi pretendente ao trono de Portugal.


Livro: Geraldo Sem Pavor

Autor: António da Costa Neves

Editora: Saída de Emergência