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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Plataformas de entrega ao domicílio e estafetas


Os serviços de entrega ao domicílio têm o potencial de criar emprego real, ao mesmo tempo que satisfazem eficazmente exigências crescentes face às necessidades dos consumidores. Mas para que esta nova economia digital possa oferecer a proteção e a qualidade de trabalho que os prestadores destes serviços esperam legitimamente, todos as partes envolvidas devem abraçar responsabilidades que equivalem a um Novo Contrato Social. O Grupo Adecco faz uma breve análise do contexto e aponta três rumos fundamentais a seguir para que esta nova economia esteja enquadrada por uma regulamentação laboral adequada, consistente e justa.  

Nos últimos 15 anos, a globalização e digitalização de muitas atividades tem contribuído para uma proliferação de plataformas digitais que asseguram entrega ao domicílio de todo o tipo de produtos, em particular, comida. A pandemia acentuou o crescimento deste setor, registando-se o aumento tanto de plataformas de entrega como de trabalhadores filiados. Neste contexto de crescimento exponencial, surge a necessidade de regular as relações laborais entre as partes envolvidas – empresas e prestadores de serviços (comumente designados por ‘estafetas’) –, que é atualmente muito deficiente. 

Na sequência de uma análise às condições de trabalho que envolvem os prestadores de serviços neste ecossistema empresarial das plataformas de entrega, o Grupo Adecco emitiu recomendações aos empregadores e decisores políticos no sentido de ajudar a promover um modelo responsável e flexível que crie uma relação mais justa entre as plataformas de entrega e os estafetas. As recomendações baseiam-se num leque alargado de entrevistas a representantes de plataformas, sindicatos profissionais e decisores políticos. Conheça as conclusões mais relevantes: 

Uma indústria jovem e em crescimento 

As plataformas especializadas na entrega de refeições ao domicílio têm aparecido em número crescente nos últimos anos, em particular durante a pandemia pelas restrições impostas durante os confinamentos, atuando como intermediários entre o cliente; um fornecedor, como um restaurante ou outro comerciante; e o profissional afiliado à plataforma (o ‘estafeta’). A plataforma cobra uma comissão para interligar as três partes. As margens de exploração são magras para os operadores, resultando frequentemente em baixos rendimentos a atribuir aos estafetas. 

Para os estafetas a trabalhar neste tipo de plataforma, os benefícios mais frequentemente mencionados são os horários flexíveis, as poucas barreiras no acesso ao trabalho e fácil acesso ao rendimento e experiência de trabalho. No entanto, o trabalho é muitas vezes imprevisível e os ganhos dependem fortemente dos parâmetros estabelecidos pela plataforma. Como trabalhadores independentes, os estafetas também carecem dos benefícios e proteção social inerentes às contratações tradicionais. 

Falta a coerência e consistência à escala global 

Atualmente, não existe um quadro regulamentar consistente que estabeleça parâmetros para uma relação ‘justa' entre a plataforma e os estafetas. As políticas variam de país para país; até agora, os tribunais nacionais, geralmente, tomam decisões legais relacionadas com a relação entre a plataforma e os colaboradores (especialmente no que toca estatuto laboral dos trabalhadores) numa base casuística ou específica da empresa. Os principais tópicos para os decisores políticos incluem a segurança do emprego e dos rendimentos dos trabalhadores; o acesso a benefícios e proteção social; oportunidades de desenvolvimento de carreira; e o direito de negociar contratos. 

A criação de uma relação mais equilibrada entre plataformas de entrega ao domicílio e os seus colaboradores, mantendo ao mesmo tempo o crescimento empresarial e a flexibilidade da força de trabalho, exigirá uma abordagem inclusiva – com a participação de estafetas, plataformas, fornecedores de soluções de recursos humanos. É o caminho para encontrar uma solução que beneficie todas as partes interessadas. 

O Grupo Adecco acredita que os decisores políticos devem abordar a redefinição dos modelos laborais para a era digital, nomeadamente enquadrando o trabalho de entrega ao domicílio, para proporcionar aos que optam por este trabalho, hoje precário, mais opções para a estabilidade económica, mobilidade profissional e certeza no seu futuro. As soluções eficazes podem incluir o seguinte: 

  • Dissociação do estatuto laboral do acesso aos benefícios 
  • Negociação coletiva ou cooperativas para negociar as condições dos colaboradores da plataforma 
  • Flexibilidade nos contratos e modelos de contratação 
  • Apoios governamentais para os benefícios dos trabalhadores das plataformas 
  • Alavancar as empresas de serviços de recursos humanos como ecossistema intermediário de ajuda às plataformas na contratação de colaboradores numa base mais flexível, sem necessidade de as plataformas serem os empregadores diretos.