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quarta-feira, 31 de julho de 2024

«O Livro Tibetano dos Mortos»: viver de forma consciente e morrer de forma pacífica



Em 1927, foi publicada a primeira tradução ocidental de três capítulos extraídos de um ciclo budista conhecidos como A Grande Libertação pela Escuta nos Estados Intermediários. Com tradução do Lama Kazi Dawa Sandup, importante divulgador do Budismo no Ocidente, e do antropólogo norte-americano W. Y. Evans Wentz, pioneiro no estudo do Budismo Tibetano e na sua divulgação no mundo ocidental, o livro suscitou um enorme e inesperado interesse fora do Tibete. Uma das razões para o fenómeno parece ter sido o título escolhido pelos tradutores, não o críptico A Grande Libertação pela Escuta nos Estados Intermediários, mas o simples Livro Tibetano dos Mortos. Por esse motivo, todas as subsequentes traduções da obra mantiveram o título de Sandup e Evans Wentz, incluindo a de Gyurme Dorje, eminente académico do Budismo Tibetano, que será publicada a 8 de agosto, pela Temas e Debates.

Com introdução de Sua Santidade o Dalai-Lama, o livro foi editado por Graham Coleman, presidente da Fundação Oriente no Reino Unido, e Thupten Jinpa, tradutor do Dalai-Lama, e traduzido para o português por Paulo Borges e Rui Lopo, especialistas em Budismo Tibetano. Dividido em 14 capítulos, cada um deles antecedido por uma breve introdução, inclui uma história literária da obra, escrita por Gyurme Dorje, que ajuda a contextualizar o texto, e um extenso glossário, que desconstrói os termos mais complexos. 

Mas o que é exatamente o Livro Tibetano dos Mortos?

De forma muito sucinta, é um guia completo sobre como viver de forma consciente e morrer de forma pacífica, aceitando que a morte é um regresso à natureza primordial e profunda. É composto por um conjunto de práticas meditativas que pretendem ajudar nesse caminho, tornando-o mais leve. Originalmente ensinado pelo grande mestre espiritual Padmasambhava, responsável pelo estabelecimento formal do Budismo no Tibete no século VIII, juntamente com o filósofo budista Santaraksita e Trisong Detsen, rei do Tibete, trata-se de uma das mais detalhadas e consistentes descrições do estado após a morte. A edição da tradução de Gyurme Dorje inclui dois textos adicionais, que normalmente não são incluídos, com práticas preliminares e ensinamentos sobre como transferir, no momento da morte, a consciência para um estado iluminado.

Constatando no comentário introdutório que «a incerteza e o medo constituem sensações humanas naturais quando se pensa na natureza da morte e na relação entre viver e morrer», sendo talvez por isso que um texto sobre este assunto «se tenha tornado uma da mais conhecidas obras de literatura tibetana no Ocidente», o Dalai-Lama desejou «que as profundas visões contidas neste livro sirvam como fonte de inspiração e apoio para todas as pessoas interessadas em todo o mundo», tal como o têm sido para a sua cultura.