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sexta-feira, 16 de maio de 2025

Um astrofísico reputado que escreve com o coração de um poeta



«Este livro é sobre a vida na Terra, sobre a sua relevância cósmica, sobre o mandato moral da humanidade para se erguer acima do passado e remodelar o futuro coletivo. Escrevo-o com um sentido de urgência e esperança.» 

Desde Copérnico que a humanidade se vê a si própria como uma partícula insignificante, à deriva num universo grande e frio. O físico e astrónomo brasileiro Marcelo Gleiser, vencedor do Templeton Prize de 2019, defende que isso aconteceu porque perdemos a centelha do Iluminismo que norteou o desenvolvimento humano nos últimos séculos. Neste seu livro, onde combina a investigação profunda com uma escrita esmerada, convida-nos a adotar uma nova perspetiva centrada na vida, uma perspetiva que reconhece quão rara e preciosa a vida é e por que a nossa missão deve ser conservá-la e nutri-la.

Em 1543 Nicolau Copérnico apresentou a teoria de que a Terra não era o centro de tudo, mas sim apenas mais um planeta a girar em torno do Sol. A constatação levou a uma mudança na forma como os humanos se viam a si próprios, agora mais perto dos deuses do que dos animais, bem como ao triunfo de uma visão materialista. «Lamentavelmente, o copernicianismo evoluiu de uma descrição correta da posição do nosso planeta no sistema solar para uma afirmação sobre a nossa insignificância cósmica.» Neste livro, Marcelo Gleiser apresenta uma visão «pós-coperniciana que realinhe a humanidade com o mundo natural», rejeita as táticas do medo e apela a uma maneira coletiva de pensar. «Na sua necessidade de pragmatismo, a visão científica ortodoxa do mundo matou o espírito da Natureza.»

O autor explica que a história da vida na Terra começou com o surgimento do Homo sapiens há 300 mil anos, seguiram-se as suas aprendizagens e conquistas, mas no tempo dos nossos antepassados duas coisas eram sagradas: o laço com a Terra e a adoração da Natureza, que parecem estar atualmente perdidos. Gleiser conclui que «o nosso êxito na luta pela sobrevivência transformou-nos» e «tomámos posse da Terra, empurrando os deuses para os céus», segundo escreve no prólogo. «A Terra perdeu o seu feitiço e foi objetificada, tornou-se uma coisa para usar com descaso, um lugar de mudança e decadência, de humanos pecaminosos e animais selvagens. O que antes era sagrado foi aberto ao saque. O coletivo da vida sofreu uma rutura e as suas criaturas perderam o direito de existir.»

Na atual era digital, a continuação desta lógica conduz-nos ao fim da humanidade como a conhecemos. Perante isto, que futuro nos espera? O paradigma de Gleiser retoma e repensa os ideais do Iluminismo, e propõe um novo rumo para a humanidade, que seja guiado pela razão humana e pela curiosidade, e cujo objetivo é salvar a própria civilização. Com este modelo, poderemos ver-nos de novo no centro do universo – o local onde a vida se torna consciente – e recuperar uma bússola moral clara que pode ser usada para orientar tanto a ciência como a política que a rodeia.

Sobre o Autor

Primeiro vencedor latino-americano do Templeton Prize, Marcelo Gleiser é físico teórico e professor de Filosofia Natural, Física e Astronomia no Dartmouth College. O seu trabalho estende-se da cosmologia e das aplicações da teoria da informação aos fenómenos complexos, à história e filosofia da ciência e à interação de cultura e ciência. Membro da American Physical Society, foi galardoado com o Presidential Faculty Fellows Award atribuído pela Casa Branca e pela National Science Foundation. Gleiser é autor de cinco livros e cofundador do blogue 13.8, onde escreve sobre ciência e cultura com o físico Adam Frank. Dedicado divulgador da ciência junto do grande público, os seus livros foram traduzidos em quinze línguas. Nasceu no Rio de Janeiro e vive em Hanover, New Hampshire (EUA).