Acabei de aterrar em Medellin…
Viajo com 10 colegas numa viagem de inspeção à Colombia e Panamá, irrepreensivelmente liderada pela Susana Fernandes, tenho que referir…
Já sei o que estão a pensar. Colômbia ? Netflix ? Series? Narcotráfico?
Não vou esconder que quando soube desta viagem não tenha pensado o mesmo! Obviamente que sim, mas bastou um primeiro contacto com o nosso guia local, Daniel, para perceber que iria ter uma agradável surpresa.
Pois bem meus amigos, a Colombia é bem mais que isso. É cor, é cultura, natureza, história e muita hospitalidade.
Mas vamos por partes. Comecemos então por Medellín.
É uma cidade que luta diariamente para reverter uma imagem que passou ao Mundo, por culpa própria.
Capital da província montanhosa de Antioquia e a segunda maior cidade da Colombia com aproximadamente 3 Milhões de habitantes. Fica localizada no vale do Aburrá, uma região central da Cordilheira dos Andes na América do Sul.
A primeira imagem que temos ao chegar impressiona! A quantidade de comunas (bairros) que cobrem quase a totalidade das montanhas que ladeiam a cidade é arrebatadora! Ao todo estamos a falar de 16 Comunas, espalhadas pelas 6 zonas que dividem a cidade.
A nossa primeira paragem é no centro, bem no meio do vale. Ali, podemos ter um primeiro contacto com a população e apercebermo-nos do seu acolhimento. Vê-se que existem grandes diferenças sociais mas sinceramente nunca senti qualquer tipo de insegurança nesta viagem, pelo contrário.
O passeio continua pelo parque do Poblado, parque Lleras e uma caminhada por entre as famosas esculturas do mestre Botero. Entramos no museu de Antioquia para observarmos uma exposição do artista onde, através da sua pintura e das inúmeras esculturas, nos guia numa viagem pelos principais acontecimentos da historia da cidade de Medellin e da Colombia em geral.
Fazemos um breve passeio panorâmico pelas ruas centrais de Medellin. Observamos a sua Catedral e o Jardim Botânico.
Bem perto do jardim, apanhamos o metro de superfície até à estação de Acevedo.
Até aí estava a gostar da cidade mas questionava-me várias vezes como promover o destino ou fazer com que as pessoas desassociassem a ideia do Narcotráfico, do crime ou da mítica lenda da cidade de Medellin “ Pablo Emilio Escobar Gaviria”. A sua imagem está tão presente na cidade que existem múltiplas excursões organizadas a locais como: edifício Mónaco, onde viveu e se deu inicio a uma guerra sem precedentes entre o cartel de Medellin e o de Cali, a Catedral, prisão mandada construir pelo próprio aquando da sua rendição, o cemitério, onde está sepultado e a casa onde passou os últimos dias da sua vida tendo sido assassinado no telhado.
Chegados à estação de Acevedo, apanhamos um dos teleféricos do Metrocable de Medellin. É uma rede de teleféricos que vão desde o vale da cidade até ao cimo das colinas, facilitando a vida dos milhares de habitantes que vivem em autenticas favelas localizadas nas montanhas.
Até este momento funcionam 4 linhas com 13 estações numa extensão total de 10,7 Kms. Este sistema, a funcionar desde 2004, entra no plano social de reabilitação e recuperação da cidade de Medellin.
À medida que subimos, podemos ver e constatar as condições extremas em que muitas pessoas vivem, em casas de tijolo totalmente degradadas. Quando já estamos bem no alto da montanha, paradoxalmente, a paisagem tem algo de deslumbrante. As milhares e milhares de casas sobre o vale e a cidade, dão a sensação de estarmos perante um enorme presépio…
Uma vez no topo, inicia-se a descida até ao vale. O passeio demora cerca de 20 minutos. Não me canso de observar a cidade desde o alto. Sinto-me uma migalha na imensidão desta cidade!
Vem-me à memória as series “Narcos”, ou mais recentemente,“ Pablo Escobar, El Patron del Mal”, sugerido pelo nosso guia Daniel, (recomendo)…
Tudo é tão real, com exceção do som dos tiros ou das explosões provocadas por atos terroristas que, nos anos 80, patrocinados pelos seus cartéis, nomeadamente os de Medellin e de Cali, dominavam estas Comunas. Ao contrário, hoje, ao observamos a cidade, ficamos com a certeza que os seus habitantes têm uma enorme vontade de virar essa pagina negra da historia.
Após o almoço iniciamos a visita à comuna 13 que, desde a década de 80 e até há 11 anos, se destacava como um dos bairros mais perigosos do Mundo. Hoje, felizmente, a Comuna 13 mostrou ao Mundo o poder da palavra “Oportunidade”!
Antes de entrarmos no bairro, o nosso guia liga a um local que nos vai acompanhar nesta visita. Fico com a estranha sensação de, apesar de nos sentirmos seguros, só podermos aqui entrar acompanhados por alguém que lá resida.
A nossa VAN estaciona e um rapaz de seu nome Zeta entra na carrinha. Com um estilo Rapper ostenta um boné e uma t-shirt preta, ambos têm escrito a palavra “COMUNA 13”. Rapidamente nos apercebemos, através das suas palavras, o orgulho que tem em falar do seu mítico bairro.
Começamos a subir a comuna pelas suas ruas estreitas e sinuosas, ao longo da montanha. Olho para os meus colegas de grupo e sinto em todos nós alguma ansiedade relativamente ao que esperar da visita a este local. Paramos a carrinha e Zeta informa-nos que o resto do percurso será a pé. Sentamo-nos numa espécie de um beco onde existem alguns degraus, local ideal para uma primeira explicação sobre o bairro.
Zeta rapidamente conquista-nos!
Com o seu ar meio gingão, conta-nos como o trabalho de reabilitação da comunidade tem sido um exemplo para todos. Como se pode regenerar um bairro onde a vida antigamente valia muito pouco, onde se matavam pessoas em troca de uns míseros 15€, onde se traficava droga a céu aberto e o medo de sair à rua era uma constante. Só em 2011, após a intervenção de 1500 militares, conseguiu-se pôr cobro a um dos locais de maior trafico de toda a América do sul.
Por essa altura o governo manda construir uma escada rolante, que faz com que os habitantes possam subir e descer os mais de 380 metros em apenas 6 minutos, ao contrario dos anteriores 30.
Aos poucos os seus habitantes começam a dar nova cor ao bairro através da arte urbana! Hoje, a Comuna 13 é uma tela a céu aberto, cheia de “Graffits” e espectáculos de musica e dança Rapper.
Começamos a passear pelo bairro e a constatar isso mesmo. Zeta conhece bem toda a comunidade e é interessante ver as crianças virem ao seu encontro, tentando ajudar nas explicações das simbologias dos grafitis, o que nos mostra já um enorme trabalho no acompanhamento e educação de uma nova geração. A cor toma conta de todo o bairro e as crianças brincam juntamente com locais e turistas em perfeita harmonia. Deparamo-nos com um escorrega gigante e rapidamente o grupo decide deslizar por entre as gargalhadas das crianças.
Observo algumas pessoas em varandas coloridas onde hoje, outrora com olhares de medo, sorriem e acolhem quem os visita. Oxalá as restantes 15 comunas consigam seguir este exemplo!
Os miradouros são de cortar a respiração com reflexos de um céu alaranjado anunciando o anoitecer. Infelizmente temos que ir embora mas não queremos, apesar do bairro estar cheio de turismo, o que só acontece por força de uma comunidade que deseja tornar, definitivamente, a cidade num dos pontos de visita obrigatória da Colômbia.
A noite cai e saímos da cidade. Bem no cimo do montanha, olho uma ultima vez para Medellín. Desta vez o presépio está cheio de milhares, diria mesmo, milhões de luzes… Que imagem inolvidável...
Que Deus abençoe este povo!
Fico com a sensação de querer aqui voltar um dia, isso é bom!
Para a semana, falamos mais deste surpreendente país chamado Colômbia. Vale mesmo a pena a sua visita!
Até lá, bem no alto da “Piedra del Peñol” em Guatapé!
Apresentação Jorge Santos
O meu nome é Jorge Santos, tenho 48 anos e trabalho na Agência Abreu há mais de 33 anos. A minha paixão é a família, e o Mundo, afinal de contas a minha verdadeira casa ao longo dos tempos. Como coordenador nacional dos grupos de lazer da Abreu, acompanho inúmeros clientes por esse mundo fora, assim como construção de viagens à medida e respectivas viagens de inspecção.
O que vou tentar transmitir através de alguns artigos, são simplesmente sentimentos e experiências vividas na primeira pessoa, e não falar tanto da vertente organizativa da viagem em si.