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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

«Ofício», de João Rasteiro

Chegou às livrarias o 18.º volume da coleção de poesia elogio da sombra, coordenada por Valter Hugo Mãe. Ofício [Poesia: 2000 – 2020] é a recolha poética de João Rasteiro.

Dispersa e muitas vezes inacessível, este volume revela a obra com "um esplendor límpido que a denuncia acima de qualquer discrição possível", escreve o curador da coleção, criando nestas páginas "uma afirmação estável e inequívoca da importância do seu imaginário na poesia recente portuguesa".

São 20 anos de criação divididos em 6 idades, "um trajeto balizado por marcos esparsos nos vários livros da antologia", cujo prefácio de Mário Cláudio antevê que a "gesta do achamento destrinçará na charada das rotas, e ao sabor do capricho dos ventos, o clarão de uma glória casual".

Sinopse

A vasta obra poética de João Rasteiro encontra neste volume um esplendor límpido que a denuncia acima de qualquer discrição possível. Se por tanto tempo se teve como poeta na periferia, disperso por volumes de um sem-número de chancelas, constantemente esgotado e inacessível, é agora intenção criar nestas páginas uma afirmação estável e inequívoca da importância do seu imaginário na poesia recente portuguesa.

São inúmeros seus belíssimos versos, onde o sujeito poético me soa a litúrgico, solene em sua condição mortal perfeitamente assumida. Comove-me o jeito que tem de impedir qualquer sobranceria. O seu tremendismo é todo no reconhecimento dos outros, e da natureza, desde logo pela ânsia de haver um Deus que se responsabilize no diálogo absoluto. Comove-me que busque as coisas comuns, que não são pequenas, como o amor ou a amizade, a memória dos que morreram, a glória última de ainda matar a sede, persistir, sobreviver. Abre o livro dizendo que "a secura tem os teus olhos a fazer de sol". É o que sinto na sua poesia. Por maior tormento, por maior perturbação ou linear tristeza, tenho os seus versos a fazer de sol. Esta é uma poesia dirigida à luz, que sabe da luz, encontra-a. Não nos apouca ou impede. Muito ao contrário, intensifica-nos, deita-nos em movimento.