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terça-feira, 7 de novembro de 2023

O interminável e terrivelmente belo mundo da poesia de Roberto Bolaño



Ninguém pode deixar de se comover quando começa a folhear o livro que reúne toda a poesia de Roberto Bolaño. Belíssimo exemplar de capa dura, com sobrecapa a cores, que a Quetzal Editores produziu com tanta dedicação e que toma de assalto as prateleiras das livrarias a 16 de novembro. Finalmente, a poesia de Roberto Bolaño. Com tradução de Carlos Vaz Marques.

Roberto Bolaño cultivava a poesia como uma forma de arte superior: «A poesia é mais corajosa do que ninguém.» Autor de alguns dos livros mais marcantes do nosso tempo, como Os Detetives Selvagens ou o monumental 2666, a sua obra confirma o dom de Bolaño para associar registos completamente diferentes, reunindo poemas escritos em prosa, histórias em verso e outros fragmentos que dificilmente podem ser catalogados num ou noutro campo. Para Bolaño, poesia e prosa não são duas, mas muitas coisas sempre em movimento, alterando a sua identidade e a forma como a literatura ilumina a nossa vida – e explica parte da sua biografia.

Há muito desespero e desamparo na poesia de Roberto Bolaño, refere Manuel Villas no prólogo desta edição: «Bolaño estava obcecado pelos poetas, porque eram os únicos a resistir ao dinheiro. Os poetas não tinham dinheiro, mas tinham conhecimentos.» Aliás, muitos dos seus poemas são profundamente autobiográficos e – como a generalidade da sua ficção – estão cheios de poetas e artistas famintos, errantes, em cenas de pugilato, loucos por sexo, magoados, egocêntricos, mergulhados na noite, à beira da penúria, literatos corruptos ou canções que nunca foram escritas. É um mundo interminável, belo e terrível.

Sobre o Autor

Roberto Bolaño nasceu em 1953, em Santiago do Chile. Aos quinze anos mudou-se com a família para a Cidade do México. Durante a adolescência leu e escreveu poesia. Com amigos, fundou o Infrarrealismo, um movimento literário punk-surrealista, que consistia na «provocação e no apelo às armas» contra o establishment das letras latino-americanas. Nos anos setenta, Bolaño vagabundeou pela Europa, após o que se instalou em Espanha, na Costa Brava, com a mulher e os filhos. Aí, dedicou os últimos dez anos da sua vida à escrita. Fê-lo até à morte (em Barcelona, julho de 2003), aos cinquenta anos. A sua herança literária é de uma grandeza ímpar, sendo considerado o mais importante escritor latino-americano da sua geração – e da atualidade. Entre outros prémios, como o Rómulo Gallegos ou o Herralde, Roberto Bolaño já não pôde receber o prestigiado National Book Critics Circle Award, o da Fundación Lara, o Salambó, o Ciudad de Barcelona, o Santiago de Chile e o Altazor, todos atribuídos a 2666, unanimemente considerado, juntamente com Os Detetives Selvagens, o maior fenómeno literário das últimas décadas.