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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A subversão na poesia de Ovídio



É um remédio usado contra o amor: combatê-lo ou persegui-lo? É nesta ambiguidade que reside a essência da nova e completa edição de Remédios contra o Amor, de Ovídio, com tradução, notas e introdução de Carlos Ascenso André, que a Quetzal faz chegar às livrarias em versão bilingue – latim e português. Trata-se de uma edição cuidada, em capa dura, com sobrecapa e pintura a cores, que estará disponível a 24 de outubro. 

Depois de Arte de Amar, Carlos Ascenso André revisita a tradução deste clássico intemporal e sugere uma nova interpretação do seu significado: «Os Remedia amoris eram bem mais do que o divertimento poético que pareciam ser à primeira leitura», sugere, admitindo uma revisão do lugar da mulher, que assume um papel muito mais profundo nestes poemas: «São um prodígio de ironia e uma afirmação do primado da mulher.»

Nestes versos, além de enumerar vários preceitos de grande utilidade para os amantes, Ovídio reafirma o que já antes pontualmente sustentara: o direito da mulher à livre fruição do seu corpo, o seu direito ao prazer, à escolha do parceiro, à infidelidade e ao engano, bem como o seu direito à definição ou rejeição da modalidade preferida nos jogos de amor. «Na relação amorosa quem fica em cativeiro é o homem, é ele quem tem precisão de libertar-se dessa espécie de escravatura. O amor fixou morada no seu “coração cativo”; impõe-se-lhe, pois, que rompa as “cadeias” que o prendem e recupere a liberdade.»   

Sobre o Autor

Ovídio (Publius Ovidius Naso) nasceu em Sulmona, na região italiana de Abruzzo, em 43 a.C., e morreu em 17 ou 18 d.C. em Tomos, atual Constança (Roménia), então colónia grega, um enclave entre o Danúbio e o Mar Negro. A sua obra é, ao lado da de Virgílio e de Horácio, de quem foi contemporâneo, um dos pilares fundadores da tradição poética ocidental. De entre os seus livros distinguem-se Arte de Amar (Ars Amatoria), bem como Remédios contra o Amor  (Remedia Amoris), Poemas de Tristeza (Tristia), Metamorfoses (Metamorphoses) ou o atualíssimo Heroides (Epistulæ Heroidum), uma série de cartas escritas por heroínas da tradição grega e romana aos seus amantes. O lirismo de Ovídio é ora confessional e melancólico, ora jocoso e pleno de erotismo, ora marcado pela tristeza e pelo exílio. 

Sobre o Tradutor

Carlos Ascenso André (Monte Real, 1953) foi professor de línguas e literaturas clássicas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Nela se doutorou em 1990, antes de passar pela China e por Macau, onde dirigiu o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau. Tem uma longa carreira dedicada ao estudo e à tradução de literatura latina – seja a da época clássica (Cícero, Virgílio, Ovídio, Séneca), seja a do Renascimento – e aos estudos camonianos. Foi visiting professor em várias universidades estrangeiras, como a Universidade da Ásia Oriental (Macau), além das de Hamburgo, Gotinga, Xangai e Poitiers. A Quetzal publicou a sua versão bilingue da Eneida, de Virgílio, bem como Eneida de Virgílio Adaptada para Jovens e Arte de Amar, de Ovídio, também em edição bilingue.