sexta-feira, 5 de abril de 2019

Timão de Atenas no CCB - 6 a 8 de Abril


Em 2010, o Teatro Praga apresentou, no Grande Auditório do CCB, Sonho de uma noite de verão, um espetáculo que partia de uma semi-ópera de Henry Purcell, The Fairy Queen, que por sua vez partia do encontro com um texto de Shakespeare, Sonho de uma noite de verão. Três anos mais tarde, no mesmo auditório, o Teatro Praga regressou a Shakespeare e a Purcell, apropriando-se de uma outra composição musical do inglês escrita para animar uma adaptação de Thomas Shadwell de uma peça de Shakespeare: A Tempestade ou A ilha encantada. Seis anos depois de A Tempestade e nove anos depois de Sonho de uma noite de verão, o Teatro Praga completa o que sempre foi pensado como uma trilogia.

Timão de Atenas é uma composição musical de Henry Purcell, datada de 1694, escrita a convite de Thomas Shadwell, que mais uma vez adaptou o texto de Shakespeare (A vida de Timão de Atenas) e encomendou ao jovem Purcell uma «mascarada» (mask). A «mascarada» era uma forma de entretenimento praticada entre membros da corte e bastante em voga nos séculos XVI e XVII. Envolvia música, dança, canção e representação, com cenografias elaboradas e figurinos sumptuosos. Os mascarados eram habitualmente membros da corte e por vezes o próprio rei, acompanhados por atores e cantores profissionais.

A peça de Shakespeare divide-se em duas partes, uma primeira passada na cidade e recheada de dinheiro, sumptuosidade e cordialidade, e uma segunda, na floresta, austera, por vezes azeda e misantrópica. O protagonista ateniense da peça de Shakespeare, homem abastado, distribui a sua riqueza por quem necessita: artistas, artífices, funcionários da sua casa, amigos e conhecidos, até nada mais lhe restar. Quando se acaba o dinheiro, pede ajuda a quem antes ajudou mas sem sucesso. Esta reação fá-lo mergulhar numa disposição misantrópica. Afundado em dívidas, abandona a cidade e refugia-se numa gruta onde passará a alimentar-se de raízes e a maldizer a espécie humana. Encontrará ouro, por acaso, que distribuirá, em gesto vingativo, por quem quiser destruir a cidade de Atenas.

Se em Sonho de uma noite de verão se procurava o lugar do poder antes ocupado pelo monarca, e de que modo a figura do programador ou curador preenche uma posição central na definição da arte que vale; se A Tempestade se voltava para o artista, para quem faz, e para a relação deste com o meio (público, teatro, escritas); já o terceiro momento da trilogia, que segue o formato do Teatro de Restauração, deverá concentrar-se nas relações entre arte e capitalismo, caminhando para um abandono progressivo dos objetos, da concretização e da partilha e aproximando-se de uma experiencialidade individualista, capaz de gerar capital sem produzir material. Timão de Atenas do Teatro Praga vai à procura da melhor forma de acabar.