segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

«Obra Poética II» de Artur do Cruzeiro Seixas

Em 2020, ano em que se celebraria o seu centésimo aniversário, a coleção elogio da sombra, da Porto Editora, iniciou a publicação da Obra Poética completa de Artur do Cruzeiro Seixas. O primeiro volume foi lançado em junho e o segundo volume chega agora às livrarias .

«Diz Cruzeiro Seixas que o que pintou e escreveu são apenas fragmentos; “São fragmentos o que o meu dia a dia me dá; fragmentos de amor, fragmentos de génio, fragmentos de sonho etc, etc…, neste fragmento de país”. Por aqui seguimos, cegos pela intensidade da luz. Creio que é Jean Paulhan que refere “o furor poético do surrealismo”, e creio eu que é esse furor que passa nesta poesia como passa nessa África afinal ainda subjugada.», escreve a organizadora do volume, Isabel Meyrelles.

Decano da arte portuguesa, Artur do Cruzeiro Seixas é um dos nomes incontornáveis do movimento surrealista, do qual foi um dos principais precursores em Portugal. Com um vasto trabalho nas artes plásticas e visuais, foi também um poeta prolífico. «Penso em como os génios sempre independem do tempo e se definem pelo incrível.», escreveu Valter Hugo Mãe, curador da coleção. «Nesta vasta obra se encontra um surrealismo pleno, a relação mais indomável que ao espírito humano revela sobretudo o que tem de inexplicável e, ainda assim, profundamente necessário».


Tenho as mãos sujas de poesia

o caminho lacerado por certas aves,

o corpo em farrapos.


Com este absorto entardecer

por sobre os ombros

olho o espaço.


Aberta a paisagem inquieta

espera

inocente e inanimada.


Estamos frente a frente

como duas sombras inúteis

caídas ao lado da estrada.


Luanda 55

Sinopse

Artur do Cruzeiro Seixas é agora um homem com o tamanho de cem anos. Cada um dos seus gestos é um século em movimento. Penso nisso em todos os encontros, penso em como os génios sempre independem do tempo e se definem pelo incrível.

Na ansiedade de Cruzeiro Seixas, essa imparável pulsão começadora, nada se exclui. Tantas vezes lhe ouvi o protesto contra qualquer existência estúpida, aquela incapaz do sensível e do criativo, aquela incapaz da humanização que a arte e o conhecimento comportam. Para o grande e genial mestre a vida é uma gula que se revela em todas as formas de maravilha, a partir do fascínio ou do susto, a partir do belo e do que se torna belo em seu genuíno tremendismo.

A elogio da sombra repõe agora os volumes organizados por Isabel Meyrelles e que atónito, há umas décadas, encontrei inéditos na casa do mestre, ainda na carismática casa da Rua da Rosa. Mais adiante, daremos à estampa um quarto volume recolhendo os poemas dispersos. Nesta vasta obra se encontra um surrealismo pleno, a relação mais indomável que ao espírito humano revela sobretudo o que tem de inexplicável e, ainda assim, profundamente necessário.

Uma das figuras maiores do surrealismo do mundo, Artur do Cruzeiro Seixas ergue a poesia como “a boca que olha”. Tão feita do improvável quanto de presciência. Graça alquímica. A transcendência dos que foram eleitos para ver.

PVP: 24,90€