O melhor ensaio sobre Gabriel García Márquez. Um portento literário que junta dois Prémios Nobel da Literatura — a tese de doutoramento de Mario Vargas Llosa é um acontecimento tremendamente ambicioso e profundo, que explica com grande rigor as histórias às vezes inverosímeis que forjaram a prosa do escritor colombiano até chegar a Cem Anos de Solidão.
Foi em 1971 que Mario Vargas Llosa apresentou, em Madrid, o ensaio literário que o une a Gabriel García Márquez, com quem manteve uma amizade mítica, tumultuosa e suspeita, razão pela qual História de Um Deicídio se reveste de interesse e curiosidade. Constitui, ao mesmo tempo, uma análise da obra de García Márquez e uma declaração de amor à literatura, mostrando a estrondosa admiração do Nobel peruano pelo colega colombiano.
«Escrever romances é um ato de rebelião contra a realidade, contra Deus, contra a criação de Deus que é a realidade», escreve Vargas Llosa, explicando que é do sentimento de insatisfação com a vida que nascem os romancistas: «Cada romance é um deicídio secreto, um assassínio simbólico da realidade.» Cem Anos de Solidão é, para Vargas Llosa, o epítome dessa intenção, «inalcançável, eternamente misterioso.» «Cem Anos de Solidão é um romance total, na linha das criações demencialmente ambiciosas que competem com a realidade de igual para igual.»
Com tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra, García Márquez. História de Um Deicídio chega às livrarias a 12 de outubro.
Sobre o Autor
Mario Vargas Llosa nasceu em Arequipa, no Peru, em março de 1936. Aos 17 anos decide estudar
Letras e Direito e, no ano seguinte, casa com a sua tia Julia Urquidi – assegurando a subsistência com
trabalhos muito diversos, desde conferir e rever nomes de lápides dos cemitérios até escrever para a
rádio ou catalogar livros. Em 1959 abandona o Peru graças a uma bolsa para estudos de pósgraduação na Universidade Complutense de Madrid, fixando-se de seguida em Paris. Sempre próximo
da penúria, foi locutor de rádio, jornalista e professor de espanhol — tinha publicado apenas um livro
de contos. Regressa ao Peru em 1964, divorcia-se de Julia Urquidi e casa no ano seguinte com a prima
Patricia Llosa, com quem parte para a Europa em 1967, tendo vivido na Grécia, em Paris, Londres e
Barcelona. O seu afastamento em relação ao regime de Havana (que visitara pela primeira vez em
1965) irá marcar toda a sua biografia política e literária a partir de 1971, data em que obtém o doutoramento em Madrid. Em 1974 regressa de novo ao Peru e, em Lima, pode finalmente dedicar-se em
exclusivo à literatura e ao jornalismo, nunca abandonando a intervenção política que o levou,
em 1990, a aceitar candidatar-se à Presidência da República. Depois da derrota eleitoral passou a viver
em Londres e, mais recentemente, entre Paris e Madrid, escrevendo romances, ensaios literários, peças jornalísticas e percorrendo o mundo como professor visitante em várias universidades. Entre os
muitos prémios que recebeu contam-se o Rómulo Gallegos (1967), o Príncipe das Astúrias (1986) ou
o Cervantes (1994). Foi distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 2010.