"One Trick Pony" é o 1º single de Dirty Coltrane Volume I e II, para além de ser o tema que abre o novo disco. Neste tema a banda assume mais uma vez o seu gosto pela simplicidade garage punk e expressa-o nessa carta de amor que é o tema: "I'm a one trick pony with a broken leg". Ou seja, embora a banda não seja quadrada de ouvido nem nas criações (como este álbum onde há uma versão de um clássico free jazz evidencia uma vez mais), vem afirmar a plenos pulmões: "Somos autodidatas com limites nos nossos conhecimentos musicais e fazemos temas inteiros com um acorde e ritmos do costume" a par de um "e adoramos isso". É uma carta de amor aos Ramones, aos Dead Moon, aos Cramps, aos Half Japanese, ... como tantas outras cartas que se lêem nas entrelinhas dos temas anteriores da banda na procura do seu novo som mas sempre com o pezinho no passado a impulsionar o novo salto no escuro. Não será essa a fórmula do progresso do rock desde que bebeu na pia baptismal do blues?
Depois de um álbum duplo cheio de convidados, Portuguese Freakshow, e um álbum em trio gravado "ao vivo em estúdio" no Brasil, Primitive, os The Dirty Coal Train voltam a baralhar cartas e a dar novamente.
Para começar, assinam o disco novo como Dirty Coltrane, tal como faziam no início da banda, voltam a esta assinatura no ano em que celebram 10 anos de projecto. Depois parece que reduziram os convidados nas gravações para centrar grande parte da instrumentação no duo Ricardo e Beatriz. Espalharam as canções de Dirty Coltrane Volume I e II por uma edição em LP de vinil + CD ou uma edição limitada em LP de Vinil + cassete.
O disco abre com um "I'm a one-trick-pony with a broken leg" como quem avisa e assume que o núcleo duro dos temas é o habitual garage com a energia e fórmula do punk. Mas ao invés de serem "burros velhos que não aprendem línguas", a banda tem no disco lugar para coisas "fora da caixa" como também é costume. São disso exemplo as escolhas de covers de Volume I: um tema freefazz de Ornette Coleman e uma versão para um tema dos DeCanja, a primeira banda onde Ricardo e Beatriz tocaram juntos em que convidaram a vocalista original da banda Miss Volatile para cantar e Pete Beat dos Act Ups para a bateria. Atiram-se sem vergonha ao pseudo-rockabilly com um "Blue Jean Baby Bop" (piscadela de olho a Gene Vincent) para logo de seguida fazerem uma manta sónica no final de "Snakebite". Ocupam o lugar de balada-venenosa deixado vago por Cave (que anda noutras paragens) em "Riding the rails". Servem um temazorro garage punk à-la Cramps com "This World" para seguirem com um no wave dissonante de "Shit king of Skullfuck Mountain" e em "Indian Joe" voltam a brincar aos Suicide.
Mas não se enganem, este Volume I é punk e "rock sem merdas" típico do duo. Mesmo a versão de Ornette Coleman deve tanto ao saxofonista e a Sun Ra como aos Stooges e aos MC5.
Já o Volume II parece funcionar como o "Lado B" da moeda. Não o típico lado das sobras mas sim um local onde o duo pensou "Ok, aqui temos carta branca para expandirmos ainda mais o que nos der na telha". O tema de abertura "Millennial Kid" é um garage punk de nove minutos sobre fake news e manipulação de opinião pública. As versões são de Corey Hart (um chavão dos 80s) e de um tema clássico de Neil Young. O tema "Indian heart" é um poema da escola Captain Beefheart lido em cima de uma manta de sons à-la Morton Subotnick. Ouçam-se as versões dos originais da banda: "Gringo Aburrido" (canção editada originalmente no split com o Argentino Trash Colapso) ou a versão despida de "Casino" (editada originalmente no split com a banda Strobe Talbot de Jad Fair). Ninguém reconheceria os Dirty por este som mas, no entanto, para quem tem seguido o trabalho do duo também não é uma experiência de todo estranha (e este colocar os temas referidos no final do Volume II não será inocente mas sim para não chocar muito os mais puristas). Engraçado que talvez as sonoridades mais atípicas de Dirty sejam nas novas versões para dois temas da primeira demo tape (gravada a solo por Ricardo), em ambas acompanhados pelo violino de Maria Côrte: "Waltz" e "The Neurotic Bartender". Nota também para os novos temas em português: "Requiem por um freak" e "Pangolim".
Os The Dirty Coal Train (ou será Dirty Coltrane?) não avançam nem recuam nem tão pouco andam em círculos. Desenvolvem a sua própria espiral de géneros à volta do Garage Punk!