terça-feira, 25 de janeiro de 2022

As Cortes de Júpiter no Centro Cultural de Belém

A propósito dos 500 anos das Cortes de Júpiter, o Centro Cultural de Belém desafiou o encenador Ricardo Neves-Neves a adaptar esta tragicomédia de Gil Vicente. Para esta reconstrução, o encenador foi buscar ao mundo do jazz o compositor e pianista Filipe Raposo, que terá como missão dar uma estrutura de ópera à peça e à música de Gil Vicente. Com a participação do ensemble La Nave Va e direção musical de António Carrilho. Participa ainda o Alma Ensemble, com coordenação vocal de Filipa Palhares.

Esta é a primeira obra a sair do Laboratório de Ópera Portuguesa, criado pelo CCB em parceria com o CESEM e a APARM.

Sinopse do espectáculo 

Garcia de Resende, testemunha presencial da representação das Cortes de Júpiter, avança com o dia 4 de agosto de 1521, domingo, como a data de apresentação da obra na corte de D. Manuel I.

Trata-se de uma tragicomédia idealizada para o casamento e partida da Infanta D. Beatriz para Sabóia, à razão do seu casamento com o duque daquela cidade.

Nesta obra vicentina, a última a ser apresentada ainda em vida de «o venturoso», que faleceria no mesmo ano, a Providência, incumbida por Deus, ordena a Júpiter, rei dos elementos, que faça concertar bons planetas e signos para a viagem ao longo do Atlântico, pelo estreito de Gibraltar e Mediterrâneo, até Sabóia.

O mar, os ventos, o Sol (Febo) e a Lua (Diana) são informados da empreitada.

Os diferentes elementos da Corte, que partiram num pomposo cortejo encabeçado pelo próprio Rei, seguido pela Rainha, o Príncipe e os Infantes, em direção à Sé e, de lá, para a casa da Rainha viúva, D. Leonor, para dela se despedirem, acompanham a frota de D. Beatriz até à foz do Tejo, nadando, metamorfoseados em peixes, umas vinte léguas, até ouvirem do mar alto o canto ameaçador de trinta mil sereias.

Perante a ameaça, Marte é chamado e recebe a ordem de proteger a esplendorosa armada de dezoito naus.

Como amigo e admirador dos feitos portugueses, Marte recita louvores entusiastas a Portugal. No fim, uma Moura encantada, evocada aos sons de um romance, traz e entrega à Duquesa de Sabóia prendas de condão: um anel, um dedal e um terçado.



Laboratório de Ópera Portuguesa

A criação de um laboratório de ópera portuguesa especialmente vocacionado para a recuperação de obras escritas por compositores portugueses ou residentes em Portugal é um sonho antigo que começa agora a ganhar contornos concretos.

Efetivamente, há muito que sentíamos a necessidade da criação de uma estrutura que potencializasse a apresentação obras oriundas da produção dramática que tantos investigadores têm retirado, ao longo dos anos, das profundezas dos inúmeros arquivos e bibliotecas nacionais e estrangeiras, com o objetivo máximo de aproximar o grande público da produção dramática musical que encheu os palácios, casas senhoriais e teatros do nosso país ao longo dos séculos.

Para além de um trabalho de recuperação historicamente informada, o Laboratório de Ópera Portuguesa prossegue um outro e incontornável objetivo: considerando que o género operático não é apenas um género musical, mas, acima de tudo, um género teatral, pretendemos assumir a estrutura como um fórum de desenvolvimento de um trabalho profundo, no âmbito do qual as exigências técnicas vocais de cada obra não se sobreponham à dramaticidade do discurso global, permitindo às novas gerações de cantores desenvolver aptidões dramáticas ainda hoje relativamente subdesenvolvidas.