A Casa das Letras edita na próxima terça-feira, 8 de abril, "A Cidade e as Suas Muralhas Incertas", o mais recente romance do escritor japonês Haruki Murakami, o primeiro em seis anos, que conta uma história de amor, perda e busca pessoal, mas é também uma ode aos livros e às bibliotecas e uma parábola para os estranhos tempos pós-pandémicos... O livro foi traduzido por Maria João Lourenço (a partir do inglês) e Inês Rocha Silva (a partir do japonês).
– Como podes imaginar, estando a cidade cercada por muros altos, é muito difícil entrar – disse Tokimi. – E sair é ainda mais complicado.
– Como é possível aceder-lhe, então?
– Basta desejá-lo. Mas tem de se desejar do fundo do coração, o que nem sempre é fácil. Pode demorar algum tempo. Entretanto, podes ter de abdicar de muitas coisas. Até do que te é mais querido. Mas não desistas.
Mal imagina o protagonista que a rapariga por quem se apaixonou está prestes a desaparecer. Nos breves encontros entre os dois, sentados à sombra das glicínias ou passeando pela margem do rio, a jovem revela ao rapaz a existência de uma misteriosa cidade rodeada de uma alta muralha, situada num outro mundo. Se um dia quiser reencontrá-la e conhecer o seu verdadeiro «eu», ele terá de o desejar com todas as suas forças e abdicar de parte de si.
Chegado o outono, o rapaz recebe uma última carta, o prenúncio de uma despedida, e ela desaparece do mapa, como que por magia. Perdido de amores, apodera-se do rapaz uma tristeza sem fim, mas eis que se decide, investido de um verdadeiro espírito de peregrinação, procurar a elusiva via de acesso à cidade, na esperança de reencontrar a amada. Finalmente diante do portão, tem de prescindir da sua sombra e é-lhe atribuída a função de leitor de sonhos numa biblioteca sui generis, que não alberga nem um livro para amostra. Afinal, a cidade tal como ela a descreveu existe, e tudo é possível nesse assombroso universo paralelo, onde a realidade, a identidade, os sonhos e as sombras pairam e escapam aos limites rígidos e implacáveis da lógica.
Sobre o Autor
Haruki Murakami é, sem dúvida, um autor de culto, lido por todas as gerações e procurado com especial curiosidade pelos jovens leitores, encontrando-se traduzido em mais de 50 línguas. Sendo um dos escritores japoneses contemporâneos mais divulgados em todo o mundo, é simultaneamente aplaudido pela crítica, que o considera um dos «grandes romancistas vivos» (The Guardian). Recebeu vários doutoramentos honoris causa pelas universidades do Hawai, Liège e Princeton em reconhecimento da sua obra, recompensada através da atribuição de importantes galardões internacionais, com destaque para os prémios Noma, Tanizaki, Yomiuri, Franz Kafka, Jerusalém e Hans Christian Andersen.