segunda-feira, 27 de novembro de 2023

“Aqui Onde Canto e Ardo” é o romance vencedor em 2023 do Prémio Literário Revelação Agustina-Bessa Luís



Com o romance “Aqui Onde Canto e Ardo”, Francisco Mota Saraiva venceu o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2023, no valor pecuniário de 10 mil euros, garantindo a sua publicação através da Editorial Gradiva, com a qual a Estoril Sol mantém uma parceria desde 2008, ano do lançamento do concurso, em homenagem à escritora. 

Ao eleger “Aqui Onde Canto e Ardo” o júri presidido Guilherme D`Oliveira Martins, escreveu em acta que este romance “é a saga de uma família que a história portuguesa do século XX fez existir entre três continentes, Ásia - Índia, África – Moçambique, Europa – Portugal. A diversidade imaginária desses três mundos é dada através de narrativas da memória de algumas das principais figuras da família. Nelas se recordam diferenças promotoras de violências diversas, das dores e angústias do poder sobre todas as suas formas”. 

O júri destacou, ainda: “a riqueza vocabular e os cruzamentos como figuras da cultura literária ocidental, que dão ao texto uma maturidade estilística com assinalável alcance literário”. 

Francisco Mota Saraiva, pseudónimo de Francisco Saraiva, nasceu em Coimbra, em 1988, tendo vivido sempre entre Cascais e Lisboa. É licenciado em Direito, pela Universidade Nova de Lisboa, e, posteriormente, tirou um Mestrado em Direito e Gestão, pela Nova School of Business and Economics. Tem trabalhado como jurista e consultor quando a escrita não lhe ocupa nem o tempo nem o lugar. Em 2021, foi-lhe concedida, pela DGLAB / Ministério da Cultura, uma bolsa de criação literária, na categoria de prosa e narrativa, durante a qual escreveu grande parte do original agora vencedor deste Prémio.

Francisco Mota Saraiva recorda, “a minha primeira experiência de leitura mais vívida foi quando o meu pai, que todas as noites lia para mim para me adormecer, sugeriu que fosse eu a tentar fazê-lo sozinho. Desde então, nunca mais larguei os livros. Por volta dos meus 14 anos, inspirado pela leitura dos primeiros ditos clássicos, os quais achava tão difíceis quanto belos, comecei a escrever pequenos contos e narrativas; uma necessidade já decorrente da fraca poesia que punha no papel desde muito cedo. Cá dentro, Agustina, Lobo Antunes, Eça, Ferreira de Castro ou Gonçalo M. Tavares; lá fora, García Márquez, Dostoievski, Borges, Proust, Céline, Lispector ou Dickens. Foram estes e tantos outros os nomes que influenciaram a minha escrita, mas também o cinema (Kubrick, Bergman ou os irmãos Coen) e a pintura (Paula Rego, Graça Morais, Goya ou Rembrandt). A arte é um multiplicador”.

“Fui construindo a minha biblioteca. Aprendi sobre a minha escrita: um estilo confuso e enigmático, porém, creio, digno. A linguagem hoje não é a mesma. Amanhã não será. E, no entanto, as palavras, a frase escrita, permanecem. E foi por isto que decidi candidatar-me ao Prémio Literário Agustina Bessa-Luís; mas também pelo peso que tem o nome daquela que é uma das figuras maiores da nossa literatura, um nome que tenho a certeza que lerei para o resto da minha vida – nas palavras de Gonçalo M. Tavares, “os livros de Agustina duram”, explica o autor.

“Aqui Onde Canto e Ardo” foi o original com o qual me candidatei: passado entre Tete (Moçambique), Lisboa e Serpa, com vagas referências aos períodos pré e pós-colonial, pretende ser um conjunto de diversas narrativas que, entrelaçadas umas nas outras, e através de um coro de oito vozes, de algum modo se unem para contarem a história do absurdo da morte, tanto através da imagística como do quotidiano mais corriqueiro. Apesar das diversas narrativas se construírem como quase contos isolados, há toda uma amálgama de pormenores e detalhes que vão surgindo aos olhos do leitor como aparentemente supérfluos e secundários, mas que servem para a final contar a história única da fragilidade e do desconcerto do ser humano perante a sua condição fatal. A par disto, há relações proibidas ou devastadas pela cor da pele, pela falta de dinheiro, pelo passado, por aquilo que nos torna inevitavelmente mais frágeis. Depois disto, há o luto e mais nada sobra”, conclui Francisco Mota Saraiva.

O Júri que atribuiu o Prémio, além de Guilherme D`Oliveira Martins, que presidiu, em representação do CNC – Centro Nacional de Cultura, integrou José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, e, ainda, por José Carlos de Vasconcelos, Liberto Cruz e Ana Paula Laborinho, convidados a título individual e Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.

Recorde-se que, o Regulamento do Prémio Revelação, que deixou de fixar, em 2016, um limite de idade para os concorrentes, manteve, contudo, a exigência de serem autores portugueses, ”sem qualquer obra publicada no género”. A iniciativa conta, desde o primeiro momento, com o apoio da Editorial Gradiva, que assegura a edição da obra vencedora, através de um Protocolo com a Estoril Sol.