People Walker
Nestes dias em que vivemos um desnorteio generalizado e numa tentativa de aligeirar o sentimento de incerteza e de algum pânico, tem-se ouvido amiúde, nas pausas para café, ainda que em tom de brincadeira, o desejo de ficar de quarentena em casa, naquilo que podiam ser umas férias merecidas ou o desejo de um afastamento desta realidade que muitas vezes nos atropela.
Estranho ao nosso quotidiano, anseia-se pela possibilidade do trabalho remoto, que nos permita ficar no conforto de casa sem enfrentar o trânsito, os horários, as correrias, as multidões apertadas no metro
Há no entanto realidades em que existe uma espécie de quarentena social auto imposta pela escolha de um estilo de vida cada vez mais isolado do contacto social.
Escondidos atrás dos ecrãs, estes eremitas tecnológicos, fazem depender a interação humana dos serviços “uberizados”, que de nós, apenas sabem, que somos o senhor(a) do 3.º Esq.
A solidão, o isolamento não é natural a um ser humano tendencialmente gregário, e estes comportamentos terão necessariamente, não só uma fatura social, mas também ao nível da saúde mental que não deve ser descurada.
Atento a esta realidade, um jovem empreendedor americano decidiu criar um serviço de “ passeadores de pessoas”. Ao que parece, a ideia ter-lhe-á surgido ao passar por diversos anúncios que publicitavam serviços de treino personalizado e passeio de cães…
Pois é, ainda esta semana na assembleia alguém dizia que se começa a dar mais importância aos direitos dos animais do que das pessoas. Na verdade, sem descurar os direitos dos primeiros, existe uma estranha tendência para humanizar os animais e desumanizar as pessoas.
Atento a uma realidade de isolamento que ele próprio experimentou, este jovem residente em Los Angeles, pegou nas necessidades de uma população citadina, em que, quase um terço dos agregados familiares é composto por uma única pessoa, e decidiu converter a solidão num negócio aparentemente bizarro, mas de enorme contributo social e igualmente lucrativo.
O modelo de negócio baseia-se no do “dog walker”, substituindo-se a trela por motivação, troca de experiências e meia hora de conversa. É o cliente que escolhe em cada dia, e de acordo com a sua vontade ou disposição, quem pretende que o acompanhe de entre os passeadores com as mais variadas origens, formações e experiências.
Sem lhe tirar o mérito, não podemos romantizar a ideia, porque se por um lado, obriga à interação humana, o que se pretende vender é um serviço que termina finda a meia hora contratada.
A amizade, cumplicidade e o companheirismo, dão mais trabalho.
Apresentação Deolinda Laginhas
O meu nome é Deolinda Laginhas, 47 anos.
Desde sempre apaixonada pelas relações internacionais, área em que inicialmente me formei, descobri posteriormente o direito, tendo-me licenciado em solicitadoria, profissão que tenho vindo a exercer.
Sendo as minhas várias áreas de interesse, indissociáveis na minha forma de ver o mundo, procuro nesta crónica falar “sobre isto e aquilo”, procurando temas que pela sua actualidade e importância legal ou social mereçam aqui ser abordados.