Leonor Baldaque, se o nome é desconhecido ainda do grande público é também um nome que convém reter na memória, pois iremos ouvir falar dela com mais regularidade.
O "Cultura e Não Só" esteve à conversa com a cantora, compositora e escritora a pretexto dos seus vários projectos no campo musical e literário.
O seu primeiro álbum “Few Dates of Love” bem como o seu segundo romance “Piero Solidão” (Quetzal Editores) vão chegar ao público no dia 5 de Abril, neste mesmo dia o público poderá assistir ao concerto da cantora em Lisboa.
Cultura e Não Só (C.N.S.) - Como é que surgiu este “Few Dates of Love”?
Leonor Baldaque (L.B.) - Este álbum surgiu muito depressa porque rapidamente tive muitas canções, e a maior parte das canções que estão no álbum foram compostas nos primeiros sete a oito meses quando adquiri a minha guitarra.
Adoro estas canções porque são todas muito próximas e reflectem também esse início do contacto com este instrumento e o quanto ele me inspirou.
Existe uma canção neste álbum, e refiro este detalhe no vinil, que se chama “Charleston” que é uma longa canção, um longo poema descritivo. Esta música foi colocada no vinil tal como estava na demo, algo que raramente se faz, mesmo que a voz não estivesse tão trabalhada e apesar das imperfeições a música está tão bonita.
Este é um registo fonográfico de uma época recente, mas estou sempre à procura de novas canções ou a tentar terminar as que já estão inacabadas.
(C.N.S.) - Referiu que o surgimento deste trabalho discográfico veio do facto de ter começado aquando da aquisição da sua guitarra, fale-nos um pouco mais dessa relação.
(L.B.) - Tudo começou antes da Pandemia quando me ofereceram um ukulele, eu não sabia o que fazer com aquele instrumento, até então tinha apenas tocado piano e violoncelo, comprei um livro e comecei a estudar ukulele.
Nessa altura estava a trabalhar no meu terceiro romance e passava os dias na biblioteca a fazer trabalho de investigação, quando chegava a casa pegava no ukulele e foi então que descobri a magia dos acordes e a magia de ouvir 3 ou 4 notas quando se põe os dedos numa determinada posição.
Aquilo fez nascer em mim um ambiente e certas palavras, era imediato, como se a descoberta deste instrumento e desses acordes tivesse ligado um botão automático.
Aquando da pandemia não pude voltar para Paris e acabei por ficar no Porto, já tinha o ukulele há 3 meses e queria evoluir para a guitarra, precisava de mais acordes e cordas, precisava de um som maior.
Naquele clima da pandemia em que tudo parecia proibido, consegui encontrar um senhor que me vendeu uma guitarra perfeita para mim, feita em Portugal, comprei um manual e comecei a estudar guitarra sozinha e aí começaram a nascer mais e mais canções.
(C.N.S.) - Sente que até encontrar esses instrumentos musicais tinha em si algo que necessitava de exprimir, mas que não tinha encontrado o meio ideal?
(L.B.) - Foi como um momento Eureka, pois eu não sabia sequer que tinha voz para cantar, nunca pensei que poderia cantar.
Quando percebi ser algo sério comecei a ter aulas de canto, e entendi também que tinha uma voz perfeita para mim, para aquilo que quero dizer e em sintonia com o que quero exprimir.
Ainda me custa a acreditar que em tão pouco tempo consegui fazer tantas canções e que gosto tanto delas.
(C.N.S.) - Muitos artistas referem que as canções são como se fossem os seus filhos, sente que alguns desses rebentos que não entraram neste álbum terão lugar num próximo trabalho?
(L.B.) - Sinto que as canções que estão terminadas não tenho nada a acrescentar às mesmas, quanto às outras por terminar ainda tenho que me debruçar sobre elas.
Quando não acabo as canções fico um pouco preocupada porque não sei se vou conseguir voltar àquele estado de espírito.
No outro dia a Billie Eilish referia que teve quatro anos entre começar e terminar uma canção, espero não estar tanto tempo, mas sinto que não estou sozinha.
A única coisa que preciso para fazer uma canção é silencio e de estar algumas horas a trabalhar, manter um ritmo constante a trabalhar seja de manhã ou à noite.
(C.N.S.) - Quantas canções compôs para este álbum e que ficaram no baú?
(L.B.) - Talvez tenha sessenta canções terminadas das quais dez entraram no álbum, e tenho cerca de dez por terminar.
(C.N.S.) - “It’s the wind” é o novo single, como surgiu e de onde veio a inspiração?
(L.B.) - Essa é uma das minhas canções preferidas, pensei até que seria o meu primeiro single, mas é uma canção um pouco mais “difícil” do que outras, não é uma canção tão evidente.
É muito complicado para mim dizer do que fala uma canção porque quando a escrevo não penso no tema, a canção nasce do que os acordes me dizem.
Pode ser inspirado num ambiente, num local, numa imagem.
Muitas das canções do álbum são uma improvisação do início ao fim, depois posso voltar a certas palavras e frases para melhorar algumas coisas.
Quando se trabalha neste processo de escrita automática, não existe muito tempo para pensar no que se vai escrever, e como trabalho neste formato por vezes tenho que parar e olhar de novo para a canção e voltar a redescobrir o tema.
Esta música fala do vazio que pode surgir em nós quando estamos numa espera amorosa, ou quando algo que pensávamos que ia acontecer não aconteceu, acho que fala também da relação como o vento pode condicionar o que sentimos cá dentro.
(C.N.S.) - Referiu que vai ser lançada uma edição em vinil, fale-nos um pouco dessa edição.
(L.B.) - O vinil foi muito trabalhado a nível das imagens e de trabalho gráfico juntamente com uma artista francesa, Jade Rouanet, penso que está um objecto bonito.
O facto de pudermos abrir o vinil, termos imagens, as letras das canções, tem também um texto meu sobre “Charleston”, trabalhamos também uma série fotográfica.
Quando compro um vinil gosto de ter um objecto bonito.
O vinil vai estar à venda no meu concerto em Lisboa e nas lojas habituais
(C.N.S.) – Tendo a hipótese de lançar um segundo álbum como gostaria que fosse a evolução para esse trabalho?
(L.B.) - Por acaso nunca tinha pensado nisso, o que sei é que quis que este primeiro álbum fosse muito despido apenas com a voz e a guitarra.
E quando penso no som que gostaria para o próximo álbum penso em sons muito urbanos, como os de Tirzah, uma espécie de onda eléctrica, indie, underground.
(C.N.S.) - Como está a ser a receptividade ao álbum?
(L.B.) - Está a ser óptima, estou supercontente porque nunca se sabe como vai ser recebido, ainda para mais canções em Inglês e poderia ser mais difícil.
(C.N.S.) - O que se pode esperar do concerto de dia 5?
(L.B.) - É um concerto muito intimista, gostei de trabalhar a questão da luz e uma pequena encenação no palco.
É tudo o que pude imaginar relativamente ao encadeamento das canções e que permite criar uma história.
Existe algo na ordem da performance que vai para além do facto de ser apenas alguém a cantar umas canções.
Vai ser um momento muito bonito, pois sentimo-nos humanos e estamos em contacto com as pessoas ali presente.
(C.N.S.) - A Leonor tem várias facetas artísticas e além de vir a Portugal para o concerto de dia 5 no Auditório Liceu Camões, Lisboa, irá lançar nesse dia o seu segundo romance “Piero Solidão”, fale-nos um pouco deste romance.
(L.B.) - Vivi em Itália durante 4 anos descobri a pintura de Piero della Francesca , um pintor do renascimento italiano do século XV.
Existem poucas obras dele em Itália, fiz um périplo por essas obras e tive uma espécie de choque emotivo e estético quando vi uma Virgem grávida com dois anjos, é das obras mais bonitas que já vi na vida.
Nesse mesmo dia comecei a escrever um texto sobre esse encontro com Piero, é um romance sobre o meu amor pelos artistas e pela arte, o amor pelo amor.
(C.N.S.) - E já tem um novo romance na calha?
(L.B.) - Sim, estou já a trabalhar no meu terceiro romance que vai ser publicado em França que é a minha língua de escrita.
Neste momento devido à promoção do disco e com os concertos a parte escrita está a avançar mais lentamente, mas penso que seja editado em 2025.
Os bilhetes para o concerto de Leonor Baldaque encontram-se disponiveis aqui: https://ticketline.pt/evento/leonor-baldaque-a-few-dates-of-love-81455
“Piero Solidão” pode ser adquirido aqui: https://www.quetzaleditores.pt/produtos/ficha/piero-solidao/29568397
Entrevista conduzida por Rui Cardoso em exclusivo para o "Cultura e Não Só".