sexta-feira, 19 de abril de 2024

O western "A Savana e a Montanha" de Paulo Carneiro na Quinzena dos Cineastas de Cannes



A Savana e a Montanha, longa metragem de Paulo Carneiro em formato western, foi seleccionada para a secção Quinzena dos Cineastas do Festival de Cannes, que decorre de 15 a 23 de Maio, anunciou hoje o seu director artístico, Julien Rejl. O filme é produzido pela BAM BAM Cinema, em Portugal, foi co-produzido pelo Uruguai, através da La Pobladora Cine de Alex Piperno, e é distribuído internacionalmente pela Portugal Film - Agência Internacional de Cinema Português e nacionalmente pela No Comboio. 



Trata-se da terceira longa metragem de Paulo Carneiro, realizador/produtor, um western integralmente rodado em Covas do Barroso, com o apoio da Câmara Municipal de Boticas e da ACAU (Agencia del Cine y Audiovisual del Uruguay). Os seus filmes anteriores estrearam comercialmente em Portugal e estiveram presentes em dezenas de festivais internacionais, sendo que esta selecção em Cannes vem, de novo, confirmar o talento deste cineasta ímpar no contexto português.

Há sete anos, a comunidade de Covas do Barroso, no Norte de Portugal, descobriu que a empresa britânica Savannah Resources planeava construir uma das maiores minas de lítio a céu aberto da Europa junto às suas casas. 

Perante esta ameaça iminente, a comunidade decidiu organizar-se e expulsar a Savannah das suas terras. Após vários anos de conflito latente, o Governo português atribuiu uma declaração ambiental favorável ao projeto. Como resultado, a Savannah reiniciou as actividades de prospeção e a comunidade respondeu bloqueando o seu acesso à terra. A declaração ambiental reconheceu os impactos negativos para a população e para a Natureza causados pelo ruído, poeiras e vibrações das explosões e da actividade dos camiões, a destruição permanente das fontes de água subterrâneas e o desvio de cursos de água. O projeto é incompatível com o reconhecimento, pelas Nações Unidas, da região do Barroso como o único Sistema do Património Agrícola de Importância Mundial (SIPAM) em Portugal (e um dos poucos na Europa). A empresa Savannah afirma que estes impactos podem ser atenuados através de compensações monetárias, mas as populações locais dizem que nenhum dinheiro pode pagar a perda da sua qualidade de vida e a ameaça que o projeto representa para o seu futuro. A Savana e a Montanha inspira-se na recusa desta narrativa pelo povo de Covas do Barroso e na sua resistência contra um inimigo forte (mas não imbatível).



Diz o realizador que “Covas do Barroso é uma aldeia vizinha de Bostofrio, onde nasceu o meu pai e onde fiz o meu primeiro filme, Bostofrio, où le ciel rejoint la terre. Esta proximidade geográfica e afetiva levou a que, desde 2018, me mantivesse atento às notícias acerca de negócios pouco claros com vista ao eventual desenvolvimento de uma exploração mineira na região, por parte da Savannah Resources. Foi sobretudo pelo povo e pelas actividades ancestrais que florescem em Covas do Barroso que decidi juntar-me à luta pela defesa deste modo de vida. O cinema tem uma responsabilidade de envolvimento a que não posso fugir. Nos meus filmes, procuro estar ao lado das pessoas, sem me reger por políticas económicas ou especulatórias de quem não conhece ou vive o território.”