Na sequência da apresentação pública da programação da 69ª edição do Festival d'Avignon, decorrida na tarde de hoje, o Teatro Nacional D. Maria II assinala a sua participação neste que é um dos eventos mais importantes da cena contemporânea, à escala mundial.
António e Cleópatra, um espectáculo de Tiago Rodrigues, interpretado por Sofia Dias e Vítor Roriz, integra a programação desta edição. De 12 a 18 de Julho será possível assistir a 6 apresentações desta obra no Théâtre Benoît-XII.
Esta que será a primeira presença do TNDM II no Festival d’Avignon, resulta da oferta de Tiago Rodrigues de uma parte do repertório da companhia Mundo Perfeito, que agora encerra a sua actividade, ao Teatro Nacional. A cedência dos direitos de exploração destas obras permitirá ao D. Maria II a circulação por teatros e festivais internacionais, sendo esta uma das premissas do seu Projeto Artístico para o TNDM II.
Na sequência desta integração, os espectáculos circularão por diversas cidades portuguesas, bem como teatros e festivais internacionais. Até Agosto de 2015, destacamos a participação do TNDM II em diversos festivais e teatros, entre os quais: Festival TransAmériques, em Montreal; Festival Printemps des Comédiens, em Montpellier; Festival Theaterformen, em Hanover; e no teatro HAU Hebbel am Ufer (HAU1), em Berlim.
DIGRESSÕES TNDM II
ABRIL - AGOSTO 2015
BOVARY 10 abr | Teatro de Vila Real (PT) 11 abr | Teatro Municipal de Bragança (PT)
BY HEART 24 abr | Centro de Arte de Ovar (PT) 25 - 27 mai | Carrefour International de Théâtre, Québec (CA) | em francês 29 - 31 mai | Festival TransAmériques, Montreal (CA) | em francês 6 jun | PT.15, Montemor-O-Novo (PT) 16 - 18 jun | HAU 1, Berlim (DE) | em inglês com legendas em alemão 27 - 28 jun | Festival Printemps de Comédiens, Montpellier (FR) | em francês 2 jul | Festival Belluard, Fribourg (CH) | em francês com legendas em alemão 5 - 7 jul | Festival Theaterformen, Hannover (DE) | em inglês com legendas em alemão 16 jul | Festival Contre Courant, Avignon (FR) | em francês
TRÊS DEDOS ABAIXO DO JOELHO 9 mai | Cineteatro de Águeda (PT) 20 jun | FITEI, Porto (PT) 30 ago | Festival Internacional de Teatro de Setúbal, Fórum Municipal Luísa Todi (PT)
ANTÓNIO E CLEÓPATRA 6 jun | PT.15, Montemor-O-Novo (PT) 13 jun | Centro Cultural Vila Flôr, Guimarães (PT) 3 - 4 jul | Festival Theaterformen, Hannover (DE) | em inglês com legendas em alemão 12 – 15 e 17 - 18 jul | Festival de Avignon (FR) | em português com legendas em francês
SE UMA JANELA SE ABRISSE 24 - 25 jun | Malta Festival, Poznan (PL) | em inglês
BOVARY
Dizemos “Bovary” em voz alta e sentimos imediatamente o cheiro a perfume e escândalo. Retrato da vida de uma mulher que, buscando fugir ao tédio de uma vida banal, embarca em relações adúlteras e vive muito acima das suas possibilidades, Madame Bovary é hoje considerada a obra seminal do realismo e um dos marcos da literatura mundial. Publicado pela primeira vez em fascículos em La Revue de Paris, em 1856, o romance de Gustave Flaubert foi acolhido por uma parte da sociedade francesa como um atentado à boa moral cristã. Em Janeiro de 1857, começa o julgamento que senta o autor no banco dos réus, acusado de obscenidade pelo Ministério Público.
Tal como em Três dedos abaixo do joelho, a multipremiada colagem teatral de relatórios dos censores do teatro durante a ditadura em Portugal, Tiago Rodrigues visita o território do confronto entre arte e lei, entre artistas e Estado. Em Bovary, o julgamento de Gustave Flaubert por atentado à moral serve como ponto de partida para uma adaptação da sua obra-prima Madame Bovary.
conceito de cenografia e figurinos Magda Bizarro, Tiago Rodrigues
desenho de luz Rui Horta
música Alexandre Talhinhas
com Carla Maciel, Gonçalo Waddington, Isabel Abreu, Pedro Gil, Tiago Rodrigues
produção TNDM II a partir de uma criação original pela companhia Mundo Perfeito
coprodução alkantara festival, São Luiz Teatro Municipal, TNSJ
[espetáculo estreado a 7 jun 2014 | alkantara festival, São Luiz Teatro Municipal, Lisboa]
BY HEART
Em By Heart, Tiago Rodrigues ensina um poema a 10 pessoas. Essas 10 pessoas nunca viram o espetáculo e não faziam ideia que poema iam aprender de cor à frente do público. Enquanto os ensina, Tiago Rodrigues vai desfiando histórias sobre a sua avó quase-cega misturadas com histórias sobre escritores e personagens de livros que, de algum modo, estão ligados à sua avó e a ele próprio. Esses livros também estão lá, em palco, dentro de caixotes de fruta. E à medida que cada par de versos vai sendo ensinado ao grupo de 10 pessoas, vão emergindo ligações improváveis entre o vencedor do Nobel Boris Pasternak, uma cozinheira do norte de Portugal e um programa de televisão holandês chamado Beleza e Consolação. E o mistério da escolha do poema que as 10 pessoas decoram vai sendo esclarecido.
By Heart é uma peça sobre a importância da transmissão, do invisível contrabando de palavras e ideias que apenas guardar um texto na memória pode oferecer. É sobre um teatro que se assume como esse lugar de transmissão do que não pode ser medido em metros, euros ou bytes. É sobre o esconderijo seguro que os textos proibidos sempre encontraram nos nossos cérebros e nos nossos corações, garantia de civilização mesmo nos tempos mais bárbaros e desolados. Como diria o professor de literatura George Steiner numa entrevista ao programa de televisão Beleza e Consolação: “Assim que 10 pessoas sabem um poema de cor, não há nada que a KGB, a CIA ou a Gestapo possam fazer. Esse poema vai sobreviver”. Em última análise, By Heart é uma recruta para a resistência que só termina quando os 10 guerrilheiros souberem o poema de cor.
texto e encenação Tiago Rodrigues (texto com fragmentos e citações de William Shakespeare, Ray Bradbury,
George Steiner, Joseph Brodsky, entre outros)
cenário, adereços e figurino Magda Bizarrocom Tiago Rodrigues
produção TNDM II a partir de uma criação original pela companhia Mundo Perfeito
coprodução O Espaço do Tempo, Maria Matos Teatro Municipal
[espetáculo estreado a 23 nov 2013 | Maria Matos Teatro Municipal, Lisboa]
TRÊS DEDOS ABAIXO DO JOELHO
No arquivo da Torre do Tombo, Tiago Rodrigues encontrou um arquivo enorme da censura exercida sobre o teatro durante o regime fascista. Entre milhares de textos de teatro submetidos ao exame dos censores do Secretariado Nacional de Informação, Tiago Rodrigues ficou particularmente interessado nos relatórios escritos pelos próprios censores onde explicam os cortes ou proibições de textos e encenações.
A ironia por trás de Três dedos abaixo do joelho é que transforma os censores em dramaturgos, usando os seus relatórios como o texto de um espectáculo que é uma máquina de censurar poética e absurda. De alguma forma, aqueles que oprimiram a liberdade artística e política do teatro deixaram-nos uma herança que nos pode ajudar a redescobrir o perigo e a importância do teatro na sociedade.
Espectáculo vencedor do prémio Autores SPA/RTP para melhor espectáculo de teatro de 2012, vencedor de um Globo de Ouro para Melhor Espectáculo de Teatro de 2012 e escolhido pelo Jornal Público com um dos melhores espectáculos no mesmo ano.
texto colagem de Tiago Rodrigues, a partir de relatórios de diversos censores do SNI, redigidos entre 1933 e 1974, incluindo breves fragmentos de textos dramáticos censurados de vários autores
encenação Tiago Rodrigues
cenário Magda Bizarro, Tiago Rodrigues
conceito de figurinos Magda Bizarro, Tiago Rodrigues, a partir do espólio do TNDM II
desenho de luz André Calado
canção original “O gosto do poder” Márcia Santos
edição de vídeo Tiago Guedes, Rita Barbosa (Take it easy), sobre diversas peças de teatro adaptadas à televisão
gentilmente cedidas pelo Arquivo da RTP
com Isabel Abreu, Gonçalo Waddington
drum’n’bass Alexandre Talhinhas
produção TNDM II a partir de uma criação original pela companhia Mundo Perfeito
coprodução alkantara festival, Kunstenfestivaldesarts (BE), De Internationale Keuze van de Rotterdamse
Schouwburg (NL) | projeto coproduzido pelo NXTSTP, com o apoio do Programa Cultura da União Europeia
[espetáculo estreado a 29 mai 2012 | alkantara festival, TNDM II, Lisboa]
ANTÓNIO E CLEÓPATRA
Se dizemos um dos nomes, o outro surge de seguida. A nossa memória não consegue evocar um sem o outro. Plutarco escreveu que, a partir deles, o amor passou a ser a capacidade de ver o mundo através da sensibilidade de uma alma alheia. Misturaram amor e política e inventaram uma política do amor. São uma história de amor histórico. São um romance baseado em acontecimentos reais frequentemente romanceados. Shakespeare ergueu-lhes um monumento verbal que transformou na verdade mais verdadeira aquilo que nunca lhes aconteceu. No filme de Mankiewicz que levou a 20th Century Fox à falência, Richard Burton e Elizabeth Taylor foram o casal celuloide e real que eles nunca e sempre foram. Neste espectáculo que Tiago Rodrigues escreve e dirige, Sofia Dias e Vítor Roriz são a dupla aqui-e-agora do que eles foram ali-e-então. São e não são António e Cleópatra. São o António a ver o mundo pelos olhos da Cleópatra. E vice-versa. Sempre vice-versa. Vice-versa
como regra do amor. Vice-versa como regra do teatro. Este espectáculo é ver o mundo através da sensibilidade das almas alheias de António e Cleópatra.
texto Tiago Rodrigues com citações de António e Cleópatra de William Shakespeare (tradução de Rui Carvalho
Homem)
encenação Tiago Rodrigues
cenografia Ângela Rocha
figurinos Ângela Rocha, Magda Bizarro
desenho de luz Nuno Meira
música excertos da banda sonora do filme Cleopatra (1963), composição de Alex North
com Sofia Dias e Vítor Roriz
colaboração artística Maria João Serrão, Thomas Walgrave
produção TNDM II a partir de uma criação original pela companhia Mundo Perfeito
coprodução Centro Cultural de Belém, Centro Cultural Vila Flôr, Temps d'Images
[espetáculo estreado a 4 dez 2014 | Centro Cultural de Belém, Lisboa]
SE UMA JANELA SE ABRISSE
Um telejornal é “dobrado” ao vivo por actores e um DJ, neste espectáculo que substitui o discurso público pelo íntimo e descobre formas alternativas de falar de um dia que passou. A partir daí, nasce um outro “jornalismo”, à escala humana de um palco, onde um olhar entre dois actores pode ter a mesma importância que o fenómeno do aquecimento global. Se uma janela se abrisse é o telejornal das notícias que nunca chegam ao telejornal.
cenário, figurinos e luzes Magda Bizarro, Tiago Rodrigues
sonoplastia e banda sonora DJ ALX
vídeo Bruno Canas, Tiago Rodrigues
com Paula Diogo, Cláudia Gaiolas, Tónan Quito, Tiago Rodrigues, DJ ALX
produção TNDM II a partir de uma criação original pela companhia Mundo Perfeito
coprodução alkantara festival, TNDM II
[espetáculo estreado a 2 jun 2010 | alkantara festival, TNDM II, Lisboa]