O "Cultura e Não Só" esteve à conversa com José Rodrigues dos Santos que recentemente editou, "O Protocolo Caos", o seu mais recente livro pela Editorial Planeta.
Cultura e Não Só (CNS) – De onde surgiu a génese da ideia para escrever este livro com um tema tão actual?
José Rodrigues dos Santos (JRS): Estava no Canadá e comecei a aperceber-me da dimensão das campanhas russas para influenciar o resultado das eleições nos vizinhos Estados Unidos. Moscovo fez todos os possíveis para conseguir a eleição de Donald Trump, e a questão que se coloca é: porquê?
CNS - Diz que é baseado em "factos verídicos", quais os factos que levam à escrita deste seu mais novo romance?
JRS: Toda a atualidade. O uso das redes sociais pela Rússia para manipular as pessoas e destruir o Ocidente e a implantação de cavalos de Tróia no Ocidente para conseguir o mesmo objetivo, tudo o que o meu romance conta é baseado em factos.
CNS – No inicio do livro o seu personagem fetiche aparece como o "mau da fita", foi uma decisão fácil este volte face do Tomás Noronha?
JRS: Foi uma decisão necessária. O romance começa com um homem encapuzado a massacrar dezenas de pessoas, incluindo bebés. No fim, ele tira o capuz e descobrimos que é Tomás Noronha. Porque fez ele aquilo? Terá enlouquecido? É o ponto de partida para o romance.
CNS - Sem querer spoilers para quem ainda não leu o livro, a leitura do prologo faz-nos "viver" um filme de acção de Hollywood com toda a acção a ser transmitida online através do Facebook. Acha que as redes sociais e a internet vieram ajudar a proliferar ainda mais o extremismo?
JRS: Sim... e é intencional. A radicalização das pessoas através das redes sociais faz parte da estratégia russa para destruir o Ocidente, e Donald Trump é um agente dessa estratégia. Ele é, no jargão dos serviços de informações, um agente russo. Já viu o que é a Casa Branca ser ocupada por um agente russo num contexto como o atual?
CNS – Com a recente eleição de Donald Trump e o apoio que este teve por parte de Elon Musk acha que por exemplo a rede social X poderá ser usada para difundir cada vez mais conteúdos de extrema -direita?
JRS: Não percebo bem o que entende por extrema-direita. Grupos nacionalistas? Sim. Mas também grupos socialistas e grupos teocráticos. Todos os movimentos e ideologias antiliberais, e consequentemente antidemocráticos, estão a ser arregimentados pelas ditaduras para destruir o Ocidente. Rússia, China, Coreia do Norte e Irão estão aliados nessa guerra.
CNS – Este livro fala das relações entre as várias potencias mundiais e dos perigos da proliferação de fake news por grupos ligados directa ou indirectamente a quem está no poder, a seu ver a guerra de desinformação é tão ou mais perigosa/poderosa do que aquela que se faz com armas?
JRS: As armas são mais perigosas, claro. Mas a desinformação está a ser usada como arma numa guerra híbrida para atacar o Ocidente, fomentar divisões, intensificar problemas, colocar toda a gente contra toda a gente nas nossas sociedades. Os nacionalismos e o wokismo são imensamente explorados pela Rússia e seus parceiros e cavalos de Tróia nessa guerra silenciosa contra o Ocidente e as suas democracias.
CNS – Vivemos um período com muitas semelhanças ao que antecedeu a 2ª Guerra Mundial....acha que as pessoas, em especial, os governantes não aprenderam com os erros do passado?
JRS: Acho que os governantes já perceberam o que se passa. As populações é que não. O Protocolo Caos ajuda-nos a entender o desafio que os nossos países estão a enfrentar. Vamos ter de fazer escolhas, e não serão fáceis.
CNS – Como é que faz a pesquisa para os seus romances? Desloca-se aos locais, através da internet, bibliotecas, etc?
JRS: Procuro toda a informação disponível sobre o tema em causa.
CNS – Depois de acabar de escrever um livro e de o entregar à editora, começa logo a preparar o seguinte? Ou faz um período de descanso?
JRS: Não há descanso, receio bem. Estou sempre a preparar um livro. Nem podia ser de outra maneira para quem publica um livro todos os anos.
CNS – Como é o seu processo criativo em relação ao fio condutor das suas obras?
JRS: Um romance nasce com uma ideia. A ideia ganha profundidade e torna-se uma história. Procuro usar a ficção para revelar coisas verdadeiras.
CNS – Qual foi o livro que até hoje mais prazer lhe deu a escrever ?
JRS: Acho que todos.
CNS – É um dos escritores preferidos dos portugueses, isso põe um "peso adicional" quando começa a escrever um novo livro?
JRS: Sim, um pouco. Sei que tenho de estar à altura das expectativas dos leitores. Isso não é fácil.
CNS – Há pouco perguntei-lhe qual tinha sido o livro que até hoje mais prazer lhe deu a escrever, agora a minha pergunta vai no sentido oposto, recentemente qual foi o livro que mais gosto lhe deu ler e porquê?
JRS: Of Human Bondage, de William Somerset Maugham. É um romance simples mas com muita profundidade. Mostra que é possível expor coisas profundas de uma forma acessível.
CNS – Como é que o José Rodrigues dos Santos organiza o dia a dia de forma a conseguir escrever ao ritmo de um livro por ano? É muito organizado com o tempo que dedica à escrita ou nem por isso? Tem alguma rotina?
JRS: Sim, tenho rotinas e organização. Não se publica um romance por ano passando o tempo sem fazer nada.
CNS – No ano passado pudemos assistir a Codex 632 na RTP1, como viu a série? Gostou do resultado final? Qual foi seu papel nesta adaptação? Colaborou com os guionistas ou na produção?
JRS: Gostei da série, claro. O Paulo Pires e os restantes atores estiveram muito bem. Em vários países as pessoas pedem-me para mostrar uma imagem do Paulo Pires, para conhecer o rosto do Tomás Noronha. É divertido.
CNS – Em 2007 chegou-se a falar da adaptação para cinema do Codex 632 após a aquisição do Gotham Group dos direitos cinematográficos para esta obra, o que aconteceu entretanto para não ter chegado a acontecer o filme "Codex 632"?
JRS: Aconteceu a crise de 2009.
CNS – Que outro livro seu gostaria de ver adaptado ao pequeno ecrã?
JRS: Talvez A Filha do Capitão. Ou O Anjo Branco. Ou O Segredo de Espinosa. Ou, porque não?, O Protocolo Caos.