O primeiro livro de Rodrigo Magalhães (1975), Cinerama Peruana, foi uma
pedrada no charco. Tratava-se de uma nova voz na literatura portuguesa,
que imediatamente obteve o reconhecimento da crítica. Os Corpos, a sua
segunda obra, em breve nas livrarias, baseia-se no misterioso caso do
homem de Somerton. Em 1948, na praia de Somerton, na Austrália, deu à
costa o corpo de um homem não identificado. Apesar de todos os esforços
das autoridades, nenhuma identificação do corpo foi possível. Vestido de
fato e gravata, de boa constituição e aparência, o homem tinha apenas,
como facto distintivo, um cigarro preso atrás da orelha e, num dos bolsos,
um pedaço de papel com as palavras «Tamam Shud», «este é o fim», as
últimas palavras de Rubaiyat, do poeta persa Omar Khayyam. Um caso que
permanece sem solução até hoje. Tão misterioso que as autoridades
australianas decidiram embalsamar o corpo misterioso, algo de inédito
naquele país.
Rodrigo Magalhães toma o evento como mote, criando uma história que se
desdobra e multiplica por tantas perspetivas quantas as personagens, cujas
narrativas são interrompidas, afastando-se permanentemente da sua
completude.