sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Festival A Estrada de 9 a 13 de Agosto



Depois da muito bem-sucedida primeira edição, realizada de 8 a 12 de Setembro de 2021, que valeu ao Festival A Estrada o prémio de “Best New Festival – National Winner” nos Iberian Festival Awards, este ano a segunda edição realiza-se de 9 a 13 de Agosto, consolidando a proposta do ano passado e ambicionando chegar a novos públicos. 

O conceito original e pertinente do Festival A Estrada propõe experienciar e descobrir o território entre a Aldeia de São Francisco da Serra e a praia da Costa de Santo André, no Concelho de Santiago do Cacém, ao longo da estrada municipal 544 e suas ramificações que fazem parte da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha.  Através de uma programação cultural multidisciplinar e itinerante, estruturada em vários palcos integrados na paisagem e no ambiente dos lugares que os acolhem, pondo em evidência o potencial da região associado ao turismo de natureza, à sua maravilhosa costa, ao binómio campo-praia, aos produtos da gastronomia local e à qualidade das suas gentes, das suas tradições e da sua cultura.

A razão da escolha da data do festival (como já era suposto ter acontecido o ano passado, o que não foi possível por causa da Covid), prende-se com a memória coletiva da Festa de São Romão, celebrada a 9 de Agosto, dia em que toda a população serrana se deslocava até à praia da Costa de Santo André para o banho anual de mar. Essa tradição, catalisadora de toda uma população em movimento, registada nos caminhos que atravessam a Serra de São Francisco até ao mar e no carácter do território e das suas gentes, encontra agora no Festival A Estrada a sua equivalência e descendência contemporânea. Ancorado nessa memória e nessa relação autêntica e genuína com o território, o Festival A Estrada é o evento catalisador do carácter cultural e paisagístico de toda uma região.

Em 2022, o Festival A Estrada volta a percorrer os seus quatro palcos, ao longo de cinco dias: os dois primeiros dias, 9 e 10 de Agosto, acontecem no Palco Serra, em São Francisco da Serra, o terceiro dia, 11 de Agosto, no Palco Estrada, no lugar do Farrobo, junto ao Café Pinhal Novo, o quarto dia, 12 de Agosto, no Palco Lagoa e finalmente o quinto dia, 13 de Agosto, no Palco Praia, no espaço da concessão do Beach Lounge / Lagoa ó Mar. Paralelamente, num novo palco - o Palco Floresta  - todas as manhãs o festival iniciará mais um dia com atividades especiais, aulas de Alente(y)joga (yoga do Alentejo) e a possibilidade de assistir e participar em várias atividades artísticas e musicais, como uma orquestra do momento, proposta por Junior (fundador dos Terrakota), tendo a relação corpo-natureza-som como foco. Estas atividades no Palco Floresta têm acesso reservado a um número muito restrito de pessoas (10), mediante o pagamento prévio de uma inscrição, e depois, para aqueles que queiram vir só para as atividades musicais, mais 20 lugares. Este ano o Festival tem um conjunto de palcos, concertos e atividades pagas, em alternância com outros palcos, concertos e atividades de entrada livre. Os bilhetes poderão adquirir-se na plataforma da See Tickets e no site do festival.

O Festival A Estrada é uma proposta da Transiberia Productions, financiada pela DGArtes, no âmbito do Programa de Apoio a Projetos de Programação, em parceria institucional com o Município de Santiago do Cacém e com o Atelier Artéria, e com o apoio do Instituto da Conservação da Natureza e das Flores, I.P., a cruzar caminhos para a qualificação e dinamização da oferta cultural da região. Através de uma programação fundada na relação entre propostas artísticas contemporâneas e a especificidade da cultura e da economia locais, quer-se potenciar cruzamentos e leituras do território na confrontação sensível dos espaços do quotidiano, e outros mais inusitados, com as propostas artísticas apresentadas, cuidadosamente destinadas a quem vive, a quem visita os lugares da estrada e a quem visita a região em função das suas praias, qualificando a oferta cultural de verão e estimulando a descoberta de um território que é muito mais que uma linha de costa, induzindo a vontade de voltar noutras épocas do ano.

O Festival A Estrada traça uma linha de programação cultural multidisciplinar, com foco na música, mas também propondo dança, teatro, instalações artísticas, cinema, conversas temáticas, caminhadas, gastronomia e visitas a lugares de interesse cultural, paisagístico e económico, misturando o talento local, nacional e internacional.  Sustentando a sua relação com o território na relação com as pessoas que nele vivem e com as empresas e instituições que nele atuam, a Estrada reúne, dialoga e entrelaça os caminhos dos que a vivem diariamente e dos forasteiros que a atravessam.

A Estrada é o lugar para observar, auscultar e vivenciar uma região. Um meta-lugar, entre a realidade física dessa linha e os imaginários em torno desta e de outras estradas que percorremos, enquanto nos confrontamos com elementos que nos ligam ao entendimento do território: aldeia, fábrica, monte, venda, lagar, montado, asfalto, ruína, areia, vento, céu e mar.

Se a primeira edição foi uma espécie de ano 0, de auscultação e tração ao terreno, a segunda edição confirma a relação do carácter itinerante e multidisciplinar do Festival A Estrada com os lugares do território que o acolhem, na sua dimensão paisagística, social, cultural e económica, em relação aberta com a comunidade residente e com o mundo, diluindo fronteiras e estabelecendo pontes entre aqueles que já cá estavam, aqueles que aqui passam as suas férias e aqueles que visitam pela primeira vez o território atraídos pela programação. 

Na sua segunda edição, o festival conta com vários nomes em ascensão na música portuguesa, com alguns mestres cuja carreira fala por si e com outras propostas, não só portuguesas, que adensam o carácter surpreendente do festival na relação da sua programação diária com os lugares que a acolhem e com o seu público heterogéneo. Para além de tudo isto há ainda caminhadas e atividades surpreendentes, petiscos e bebidas espirituosas da região e do mundo, bem como as famosas “sandes” várias do ancestral pão alentejano. Tudo para deixar andar ou triturar nas sessões matinais de Alente(y)joga. Parece contraditório, mas não é. Na Estrada, tudo flui pela encosta, da serra até ao mar.




PROGRAMAÇÃO

O Teatro do Mar volta a marcar presença no segundo dia do festival, no lugar da Antiga Corticeira de São Francisco da Serra, onde se situa o Palco Serra, desta vez com o espetáculo de circo contemporâneo e teatro físico – Mutabilia - assente numa estrutura cenográfica oscilante e mutante, ao mesmo tempo que a artista e videasta Irit Batsry, cujo trabalho foi extensamente mostrado em todo o mundo, tendo mesmo recebido o prestigioso Whitney Biennial Bucksbaum Award (2002), intervém nos armazéns da Corticeira, inaugurando o festival. O jovem Coletivo Multidisciplinar TETO apresenta uma improvisação que explora as relações plásticas e texturais entre dança e música no Palco Lagoa; já Tiago Pereira revela os resultados da 2ª residência da MPAGDP no Festival A Estrada, com o objetivo de dar continuidade ao trabalho de levantamento do património imaterial no Concelho de Santiago do Cacém. Abrem-se ainda novas rúbricas, Fado à Estrada e Provas de Vinho e Azeite Musicadas respetivamente da Herdade do Cebolal e Lagar do Parral.

De fora vêm propostas muito diferentes, como a música medieval do mestre espanhol Eduardo Paniagua e do seu ensemble, que se junta à música do Alentejo de Celina da Piedade, de Ana Santos e do Cante Alentejano do Grupo Coral da Mina de São Domingos, para redescobrir o cerne e as franjas desse património comum que é a música Andalusi. Também o Flamenco marca presença, juntando as guitarras da Família Vargas, de Mérida, com a voz telúrica do alentejano Luis Trigacheiro, vencedor do “The Voice” em 2022. Desta forma celebramos o encontro de sonoridades vizinhas e profundamente enraizadas nas culturas dos povos dos dois lados da fonteira, a partir de uma residência artística com a marca do Festival A Estrada, abrindo novos caminhos e possibilidades. Da Estónia chegam os Puuluup, uma mistura de surrealismo e folclore contemporâneo tocado em “Talharpas”, instrumento de cordas ancestral e tradicional do norte da Europa, convidando à dança. Da Holanda para o Alentejo, aterra na Estrada a irreverência e emergência da banda austro-holandesa-portuguesa Bonnie Bonny & The Rocky Mountains, que se junta à festa dos amigos do festival, que já caracteriza o ambiente do Palco Estrada, aka Farrobo, aka Café Pinhal Novo. Será ali, ao princípio da noite e depois de saboreadas as maravilhosas açordas da “Luisinha” (proprietária do café - venda - ponte de encontro) que  Tiago Cação, defensor e apoiante de causas em cima da sua bicicleta, apresenta “Horizontes”, um projeto documental da sua autoria que questiona e equaciona a relação entre o incremento da atividade turística e a qualidade paisagística e natural dos Açores, filmado ao longo de uma “volta de bicicleta às Ilhas” e realizado por André Tentugal e Afonso Abreu.

O festival conta com vários artistas nascidos e/ou residentes na região: a banda Groovin’ Train, banda do litoral alentejano nascida em 2019, que mistura no seu reportório temas originais e versões suas de temas bem conhecidos; a premiada e reconhecida acordeonista Maria Adélia Botelho, este ano em concerto intimista a acompanhar a prova de vinhos da Herdade do Cebolal que, para além de uma longa carreira a solo formou toda uma nova geração de talentosos instrumentistas, alguns deles com carreira nacional e internacional; a cantora Cabo Verdiana Dúnia Lobo que escolheu esta região para viver e que traz a sua voz quente e afetuosa, característica das ilhas Cabo Verdianas, para nos embalar em mornas e batukos ao final do dia; e finalmente a  jovem artista Madalena Ventura, apresenta a curta “Tempo”, filmada no território onde agora vem apresentar esta que é uma sua primeira obra. Uma ode poética à vida, as relações geracionais e à passagem do tempo no Alentejo litoral.

O artista nascido na região em destaque este ano é o mestre da guitarra portuguesa António Parreira no primeiro concerto com os seus dois filhos, Paulo e Ricardo Parreira, na terra que o viu nascer e crescer para a música – São Francisco da Serra.

António Parreira, Paulo Parreira e Ricardo Parreira são três guitarristas e compositores exímios, oriundos da Aldeia de São Francisco da Serra, onde nasceu o patriarca António Parreira, que acompanhou praticamente todos os grandes nomes do fado: Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues, Tristão da Silva, António Mourão, Fernando Farinha, Carlos do Carmo, Rodrigo, entre muitos outros. Com uma carreira internacional notável, quer como acompanhante quer como instrumentista a solo, Mestre Parreira é uma referência na escola do Museu do Fado em Lisboa e para todos os que aprenderam a tocar com ele.

Nos dois últimos dias do festival, a música improvisada, a música experimental, a música de dança e a música emergente assumem o protagonismo.

Vitor Rua é um nome incontornável da música portuguesa, como guitarrista e compositor, tendo tocado um pouco por todo o mundo, quer a solo quer com o duo Telectu. Uma vida dedicada à música rock, concreta, electrónica, acusmática e improvisada, desde os anos 70, tendo feito parte do grupo King Fischers Band e tendo sido um dos fundadores da banda GNR. Xoices, produtor e DJ, membro do colectivo Fazuma, foi responsável pelo programa 'Música Quebrada' na Antena 3 e Antena 3 Dance entre 2010 e 2016. Com vários temas editados (incluindo vinil), ganhou diversos concursos com remisturas suas. Os seus temas são tocados pelos principais DJs e colectivos portugueses, com quem tem partilhado palcos e cabines. Remisturou: Batida, Kumpania Algazarra, MatoZoo, Kussondulola, Mind Da Gap, Cacique '97, Blasted Mechanism, The Ratazanas, Cartell 70, SUPA, Freddy Locks, Mundo Secreto, Linha da Frente. META, aka Mariana Bragada, jovem música cujas sonoridades misturam ancestralidade e contemporaneidade é um valor adquirido na nova geração da música portuguesa. A sua participação no tema “La Tormenta” de Xinobi é a clara demonstração de toda a sua qualidade e versatilidade musical. Xinobi vem ao Festival A Estrada montar a pista e mostrar como a música de dança pode ser um espaço de consciencialização social. Juntamente com os seus amigos e parceiros Moullinex e Mr. Mitsuhirato, o produtor e DJ português é um dos fundadores da recente e já mítica editora Discotexas. Tempura é Bernardo D’Addario, músico, Dj, produtor e compositor luso-brasileiro. Hoje as suas linhas de baixo fazem parte de inúmeros temas de artistas portugueses, nomeadamente Lhast, Dillaz, Profjam, Valas, Wet Bed Gang e Richie Campbell. Para além do Set que abre o Palco Praia, forma atualmente com Edgar Pereira Valente o duo Bandua. Bandua, é o projeto da dupla Bernardo D’Addario (aka Tempura) e Edgar Valente. “Através da recriação de canções tradicionais da Beira Baixa, a dupla Bandua cria uma música profundamente livre e contemporânea, interrogando noções de território, espiritualidade e comunidade. Percebe-se que existem ideias próprias em abundância, um vocabulário imaginativo que as traduz e muito talento para as expressar, numa reinterpretação revigorante e aventureira de canções tradicionais.” Vítor Belanciano, Ípsilon. Venga Venga começaram por dar nas vistas em 2013, emergindo então na fervilhante cena cultural de São Paulo, criando festas-acontecimentos onde a arte, a música e a performance se conjugavam, para de seguida alargarem o seu raio de acção para a Europa. No Festival A Estrada, a partir do Palco Praia, iremos dançar com eles na areia, através de uma viagem sonora por ritmos de todos os continentes, uns mais conhecidos, outros mais inusitados e excêntricos. Vitor Belanciano encerrou o festival o ano passado e é o que vem fazer de novo este ano, o que já configura um princípio de tradição. Foi por vezes e outras vai sendo, cientista social, actor, DJ, jornalista, crítico de música, cronista, professor, contador de histórias, e está no jornal Público há mais de dez anos.