O senso comum, com o apoio da história e da ciência, ensinava-nos que cabia às mulheres cuidar das crianças, mas agora já não é bem assim. A proximidade entre os homens e os seus bebés não é só um sinal dos tempos, mas um facto científico e Sarah Blaffer Hrdy demonstra-o em O Tempo dos Pais.
Temos assistido ao que acreditamos ser uma fusão do comportamento parental com novas circunstâncias socioeconómicas e culturais, como por exemplo mulheres a trabalhar, patriarcados a ruir e novos métodos de conceber e alimentar bebés. Contudo, a autora mostra que não se trata apenas de andar ao sabor da onda cultural porque há, afinal, raízes biológicas, segundo descobriram os cientistas ao analisarem o que acontece no corpo e no cérebro dos homens que cuidam de bebés. E importa referir que, quando fala de bebés, a autora refere-se a crianças nos seus primeiros mil dias de vida.
«Vários endocrinologistas documentaram alterações em níveis hormonais semelhantes às que ocorrem nas mães, e quando os neurocientistas começaram a fazer tomografias ao cérebro de homens cuidadores primários, descobriram que o seu cérebro reagia do mesmo modo que o de uma mãe», segundo a autora na introdução do livro. A Professora Hrdy escreve que há agora «provas de que homens que nunca passaram por uma gestação, nunca deram à luz, muito menos amamentaram – homens que, durante a maior parte da evolução e da história humanas não cuidaram de bebés –, reagem aos bebés com tanta sensibilidade como as mães».
Em busca da explicação para este fenómeno, a autora convoca os dados de milhões de anos da evolução de mamíferos, primatas e humanos e incorpora novas descobertas da neurociência, genética, endocrinologia e outros domínios da ciência. Neste livro Sarah Blaffer Hrdy junta também sociedade, cultura, história e biologia e acrescenta ainda a sua própria experiência pessoal, tanto como mãe e avó, como enquanto antropóloga e primatóloga. Ao longo de mais 300 páginas, a autora descreve a sua investigação sobre quando e como emergiram emoções cuidadoras nos homens e relata também como tenta identificar o que é necessário para que se expressem. O livro conta ainda com uma parte dedicada a notas e outra a referências que mostram a profundidade e riqueza da investigação da autora.
A obra chega às livrarias amanhã.
Sobre a Autora
Sarah Blaffer Hrdy, nascida em 1946 no Texas, é professora emérita de Antropologia na Universidade da Califórnia, em Davis, e membro da National Academy of Sciences, da American Academy of Arts and Sciences e da American Philosophical Society.
É autora de seis livros, entre os quais The Woman That Never Evolved (1981), Mother Nature (1999) e Mothers and Others: The evolutionary origins of mutual understanding (2009). Combinando a rigorosa investigação científica com o talento literário de uma romancista, tem sido distinguida com numerosos prémios, como dois Howells Prizes for Outstanding Contributions to Biological Anthropology, o Panunzio Award da Universidade da Califórnia, o Staley Prize da School for Advanced Research e o Lifetime Career Award for Distinguished Scientific Contributions da Human Behavior and Evolutionary Society.
Um prémio para recensões científicas que recebeu da National Academy of Sciences refere «a sua síntese visionária e perspicaz de uma vasta gama de dados e conceitos das ciências sociais e biológicas que esclarecem a importância do processo biossocial entre mães, filhos e outros atores sociais na formação do cadinho evolutivo das sociedades humanas.»