quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Do estranho que sente habitar em si



A Livros do Brasil publica Eu?, o romance de estreia de Peter Flamm. Editada originalmente na Alemanha em 1926 e durante quase um século por reeditar, esta pérola literária da prosa expressionista chega agora a Portugal com tradução a partir do alemão de Sara Seruya.
 
«O meu nome, que não é o meu nome e no entanto é, o meu destino, que não me pertence a mim, mas a outro, e que agora veio cair-me em cima, sufocante como o meu próprio.» É neste limbo existencial que encontramos Hans, médico sobrevivente da frente de combate no primeiro quartel do século xx europeu, protagonista do inquietante Eu?. Breve romance psicológico sobre as consequências trágicas da guerra sobre o indivíduo – quando no regresso a casa e à normalidade há que reaprender a viver –, este primeiro livro de Peter Flamm resulta de uma escrita quase automática, quase dramatúrgica, rica em pontuação, mas sem grandes pausas, sem quebras de capítulos. «Quem sou eu, afinal?» é a grande questão desta espécie de longo monólogo frente a um tribunal, no qual os diálogos – do estranho que habita em si com a mulher, a mãe, os amigos que o esperam – são narrados e psicanalisados em detalhe.

O presente volume abarca ainda a conferência «Olhar para trás», proferida no congresso internacional do PEN em 1959 e na qual o autor, que se viu obrigado a fugir da Alemanha com a subida ao poder dos nazis, sublinha que nasceu judeu, mas sentia-se mais alemão do que muitos outros alemães. Falava alemão, escrevia alemão, sentia em alemão. E o resto é uma página negra da História.

O livro já se encontra em pré-venda e estará disponível nas livrarias a 20 de fevereiro.

Sobre o Autor

Peter Flamm pseudónimo de Erich Mosse, nasceu em Berlim em 1891 e começou a publicar artigos e contos na imprensa quando era ainda aluno de Medicina. O seu romance de estreia, Eu?, lançado em 1926, surpreendeu o meio literário alemão e nos anos que se seguiram Flamm escreveu mais três livros. Judeu, viu-se forçado a deixar a Alemanha em 1933, mudando-se para Paris e depois para Nova Iorque, onde se fixou até à sua morte, em 1963. Distinguiu-se especialmente como psiquiatra e foi médico de figuras como Albert Einstein e Charlie Chaplin.