O 23º Super Bock Super Rock tem o orgulho de apresentar Língua Franca ao vivo, dia 14 de Julho, no Palco EDP.
Língua Franca é Brasil e Portugal, é Valete e Capicua, Emicida e Rael. Língua franca é rap. E tanto mais.
O rapper de São Paulo Emicida tem sido um dos mais activos construtores de pontes entre as realidades urbanas dos dois lados do Atlântico. Em Portugal assinou vários concertos intensos, recrutando aliados a cada novo palco que foi pisando. O hip hop, o rap, a língua provaram serem cordões umbilicais capazes de ligar duas culturas distintas, dois países longínquos unidos e desunidos pela história, dois sabores singulares que se sentem no ouvido. Daí à Língua Franca foi um passo.
No microfone: Emicida e Rael, do lado de lá; Valete e Capicua, do lado de cá. E no estúdio: uma equipa de luxo, com Fred Ferreira (Orelha Negra, 5:30) e ainda Kassin e Nave, elementos-chave de uma importante modernidade brasileira, cúmplices neste plano transatlântico de destravar a língua, produtores que arquitetaram os grooves que tudo parecem unir – sentidos e sensibilidades, experiências e paisagens.
Fred Ferreira trabalhou em São Paulo com Kassin e Nave desenhando uma paisagem sonora de grooves modernos, fluídos, tropicais e atlânticos, com funk e batidas gordas, capazes de elasticamente suportarem qualquer salto da língua. E depois, juntos em Lisboa, Valete e Emicida, Rael e Capicua trocaram ideias e sotaques, palavras que são só de cá ou de lá, amassos e pixinguinhas, fado da Carminho e saia rodada, como se rima em “Ideal”.
Faz pleno sentido: rappers e DJs há muito que cruzam o Atlântico em ambos os sentidos, carregando nos ombros uma linguagem universal que não reconhece diferenças antes estimula semelhanças e alianças. Emicida a pisar palcos em Lisboa, Capicua a falar nos morros do Rio de Janeiro, Valete e Rael a descobrirem que a internet carrega palavras mais facilmente do que o vento e que tudo faz sentido nos ouvidos das duas margens do Atlântico.
Capicua e Valete são dois expoentes da cena hip hop nacional: cruzaram-se ambos em “Medusa”, tema de abertura do projecto com o mesmo título que Capicua lançou em 2015, o terceiro numa discografia oficial (há um passado de mixtapes) que já se expandiu em 2016 com Mão Verde, disco feito com Pedro Geraldes e pensado para um público ainda mais jovem. Valete, por outro lado, tem pisado palcos de norte a sul do país enquanto prepara o seu futuro: as suas rimas acutilantes fazem parte da história do rap em Portugal que não se pode contar sem paragens demoradas em Educação Visual e Serviço Público. E depois temos Emicida e Rael, dois mestres do Brasil, ambos oriundos de São Paulo: Emicida ergueu o nome nas ruas, em círculos de improviso, e lançou trabalhos aplaudidos pela crítica, incluindo o fantástico Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, de 2015; e Rael começou por se impor como parte do Pentágono antes de se lançar para uma vibrante carreira a solo que o ano passado acolheu mais um importante trabalho, Coisas do Meu Imaginário.
O single de apresentação de Língua Franca é “Ela” – como “Ella”, como “Fela” – um atmosférico filme de palavras, com drama e acção, rimas honestas de palavras funestas, com os quatro MCs a trocarem ideias e rimas como se o Terreiro do Paço fosse ali mesmo, ao fundo da Avenida Paulista, como se o Corcovado estivesse do lado de lá da Ponte, a olhar Lisboa a partir de Almada.
Não é só entre o Brasil e Portugal que esta Língua Franca elimina distâncias. É também entre o norte e o sul, entre África e o mundo, entre homens e mulheres, entre brancos e negros. Tudo se esbate na procura de um terreno comum, de um sentir comum, num álbum que quer repensar a história para reinventar o presente e o futuro.
Língua Franca é isto tudo: amizades e oceanos, continentes e palavras comunicantes, balanços universais. Tudo na nossa língua, esta que só diz verdades, que é franca, que não custa nada, que todos conhecemos. Que todos falamos. Que todos podemos cantar.