quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Crónica de Viagens - Jorge Santos


O cheiro é forte e abundante, as pessoas empurram-se por entre caminhos estreitos ladeados por bancas de especiarias, produtos de pele, joalharia, candeeiros de mil cores...Tudo se vende, tudo é negocio.

O Sol mal consegue penetrar por entre as ripas de madeira que emitam uma espécie de tecto, preservando o fresco.

O barulho é ensurdecedor por força dos comerciantes locais e das suas motas, que percorrem os labirintos estreitos por toda a imensidão da Medina.


O som dos encantadores de serpentes faz-se ouvir perante uma atmosfera confusa e de multicores. Tudo aquilo é estranho mas, ao mesmo tempo, único e de beleza discutível. Temos a cabeça à roda com este choque cultural.  
Chegamos então à praça que está com tons de fogo no cair da tarde…  Subimos à varanda do café central e ei-la, bem à nossa frente, a imponente praça “ Jemaa El Fna” … que atmosfera incrivel!!!



Bem-vindos a Marrocos. A nossa aventura começa precisamente em Marraquexe…  venham dai!

No dia seguinte começamos uma aventura de 7 dias, onde percorreremos todo a zona sul de Marrocos até às míticas Dunas de Merzuga, em pleno deserto do Saara.

O nosso guia é alguém que tem uma forma de estar na vida e que se pauta pela humildade, cultura e hospitalidade. É uma honra dizer que é meu amigo! Já o conheço há anos, e sempre que tenho grupos em Marrocos não abdico da sua presença, do seu olhar terno e sincero. É, sem dívida, um dos melhores seres humanos que já conheci por este mundo.

A viagem é longa e a paisagem muda a cada 30 kms. A primeira grande aventura é a imponente travessia do Atlas.



É normal as pessoas não se darem bem com a comida Marroquina. Que diga o meu amigo António Murteira da Silva, com o qual tive o privilégio de partilhar estes dias, e que foi traído precisamente por uns malditos pimentos recheados. A comida é boa, mas os nossos hábitos alimentares sofrem grandes alterações e é normal este tipo de episódios. Estávamos, inclusive, a preparar uma surpresa com alguns vídeos em directo do deserto, mas infelizmente não foi possível. Graças a Deus o António está bem e ficará para uma próxima oportunidade certamente.

Por entre curvas e contracurvas lá ultrapassamos a cordilheira do Atlas, que está a mais de 2000 metros de altitude! Para trás ficaram paisagens e precipícios de cortar a respiração.


Marrocos é daqueles destinos que não se consegue explicar, nem tão pouco documentar através de fotos, ou videos. Temos que sentir o pulsar e a cultura das suas gentes em cada cidade, vila ou aldeia.

O que ao principio parece ser um enorme choque cultural, ao fim de 7 dias habituamo-nos. É incrível o ser humano e sua capacidade de adaptação…

Dormimos em Boumalne e no dia seguinte seguimos a todo o “gás” para aquele que seria, sem dúvida, um dos pontos altos desta viagem.



Antes, fazemos mais uma paragem num local de visita obrigatória: os Canyon de Todra.

Apesar do frio intenso, o grupo não abdica de realizar um passeio a pé pela enorme garganta de Todra com o seu riacho de água gélida. Percebemos aqui que a natureza faz coisas simplesmente incríveis.

Seguimos até Erfoud, passando por diversas vilas Berberes. A ansiedade aumenta e, após um reconfortante almoço, partimos em veículos 4 x 4 em direção ao deserto de Merzouga.



O grupo é grande e dividimo-nos em 13 jeeps. Seguimos por uma estrada alcatroada cuja paisagem, a cada km, teima em mudar.  De repente deixamos de ver aldeias, pessoas ou montanhas, e a paisagem torna-se totalmente árida. Parece que estamos em Marte!

A viagem prossegue e começamos a tentar avistar as famosas dunas, que teimam em não aparecer. De repente, e sem aviso prévio, os jeeps saem da estrada alcatroada e começam a andar em todo-o-terreno sobre um manto de areia fina.

As primeira dunas começam a aparecer e os veículos afastam-se uns dos outros, num cenário fantástico de registar.

Por momentos, parecemos que estamos em plena etapa do “ Dakkar “, ou não estivéssemos nós numa das principais pistas de entrada no deserto do mítico Rally.


Com a emoção e adrenalina ao máximo, um dos Jeeps ao subir uma pequena duna, fica atolado... pouca sorte?

Não, grupo que é grupo uniu-se e com um enorme espírito de entreajuda lá conseguiu retirar o Jeep para seguir viagem.

Que grande momento, que grande risada…



Ao fim de 35 minutos de pura diversão, e bem ao longe, começamos finalmente avistar  as enormes dunas de Merzouga. Finalmente chegamos ao deserto do Saara!


Os veículos param e, depois de uma breve paragem para refrescar no acampamento, seguimos apressadamente em direção até ao nosso próximo meio de transporte: camelos, que nos vão transportar por entre as enormes dunas para assistirmos a um dos maiores espectáculos naturais do planeta, pôr-do-sol….



Todo o grupo participa nesta actividade única, apesar de alguns receios iniciais. Incrível o silêncio e imensidão do deserto, a sua cor em tons “camel”, a espessura da sua areia… tudo é incrivelmente belo. Ali sentimos a natureza em estado puro.



Fazemos uma pausa numa enorme duna, que irá fazer de poltrona privilegiada para o espectáculo que estamos quase a presenciar. Entretanto as pessoas tiram fotos, escorregam pelas dunas, guardam areia do deserto… lá está o que dizia antes, como é possível explicar a todos os leitores o que é estar no deserto, o prazer que dá em descalçarmo-nos e pisar a areia fina do Saara? É indescritível…

Confesso que já estive  diversas vezes no deserto mas, para mim, é como se fosse sempre a primeira.

Todos devíamos um dia ter esta experiência, acreditem.

Após o pôr-do-sol voltamos ao acampamento, onde iremos pernoitar em tendas Berberes, um pouco mais evoluídas uma vez que já possuem casa de banho e chuveiro privativo. Seja como for, esta é uma experiência única…

Antes do jantar reunimo-nos à volta de uma enorme fogueira para apreciarmos um grupo de musica tradicional berbere, e onde contamos anedotas, historias etc… Que momento…

Antes de nos irmos deitar, ainda temos uma pequena surpresa oferecida pelo nosso guia. Afastamo-nos uns 200 metros do acampamento, sem lanternas ou luzes dos telemóveis, afim de conseguimos contemplar um extraordinário céu de estrelas… Meus Deus!! E eu a pensar que já tinha visto estrelas no céu…

A noite é fria, mas os cobertores quentes e acolhedores da tenda fazem que o grupo viva uma experiência que certamente irá permanecer para sempre em suas memórias.



No dia seguinte começamos de novo a aventura até Marraquexe, pernoitando uma noite em Ouarzazate. Serão novamente muitos kms com a já mítica travessia do Atlas, mas nada que este grupo espectacular não supere.

Na minha opinião, Marrocos tem que ser vista assim, sem filtros!

Nestes 7 dias visitamos mercados de rua, vimos crianças a percorrem Kms à beira da estrada para ir à escola, vimos gente simples e humilde, e tenho a certeza que saímos todos um pouco mais ricos.



Quem só conhece Marraquexe, Casablanca ou Saidia, está longe de conhecer e perceber uma cultura que, como digo sempre, não é melhor nem pior, é apenas diferente…!  Só se nos abstrairmos da nossa própria cultura é que podemos respeitar e interpretar outras culturas sem comparações, e assim conhecer o mundo e seus povos na sua essência e amplitude.

Sejam felizes e até para a semana!

Apresentação Jorge Santos

O meu nome é Jorge Santos, tenho 48 anos e trabalho na Agência Abreu há mais de 33 anos. A minha paixão é a família, e o Mundo, afinal de contas a minha verdadeira casa ao longo dos tempos. Como coordenador nacional dos grupos de lazer da Abreu, acompanho inúmeros clientes por esse mundo fora, assim como construção de viagens à medida e respectivas viagens de inspecção.

O que vou tentar transmitir através de alguns artigos, são simplesmente sentimentos e experiências vividas na primeira pessoa, e não falar tanto da vertente organizativa da viagem em si.