terça-feira, 7 de abril de 2020

Crónica Saúde - Joana Franco




Olá,
Esta semana gostaria de aproveitar este espaço dedicado à sua, nossa, saúde para alertar em especial o as nossas leitoras sobre as principais doenças que afectam as mulheres.

Apesar do nosso enfoque ser nas mulheres é sempre importante reforçar que a informação que se segue é também para os homens, maridos e companheiros que se preocupem com as mulheres que os rodeiam.

Diferentes combinações de hormonas femininas, factores genéticos ou ambientais e causas desconhecidas tornam as mulheres mais vulneráveis a certas doenças como a esclerose múltipla ou a fibromialgia.

Há nove doenças que afectam mais as mulheres do que os homens sendo elas:

1.  Esclerose Múltipla
É uma doença crónica, inflamatória e degenerativa que perturba o sistema nervoso central e surge frequentemente entre os 20 e os 40 anos. Afecta três a quatro vezes mais mulheres do que homens e por isso é uma das hipóteses colocadas pelos médicos perante doentes do sexo feminino nesta faixa etária e que apresentem sintomas da doença:
– Fadiga;
– Visão turva;
– Alteração do equilíbrio;
– Perda da força muscular (que pode ocorrer não só em ataques temporários, nos chamados surtos da doença, mas também como um processo gradual);
– Alterações da sensibilidade;
– Queixas urinárias (dificuldade em urinar ou em esvaziar completamente a bexiga, urgência miccional);
– Queixas intestinais;
– Problemas sexuais (na mulher, perda de sensibilidade nos órgãos sexuais, dispareunia (dor intensa durante e após o ato sexual) ou incapacidade de atingir um orgasmo).

Os sintomas da Esclerose Múltipla (E.M.) variam muito (dependem da localização da inflamação e da desmielinização no sistema nervoso central) e podem ter uma evolução gradual e insidiosa, ou, pelo contrário, surgir em surtos, seguidos de períodos de remissão com recuperação total ou parcial.

As causas da E.M. não são conhecidas, mas a ciência sabe que há factores relacionados com o aparecimento da doença: ambientais, de hereditariedade e imunológicos. Sabe-se que a E.M. é tanto mais frequente quanto mais afastado do equador está o país onde a pessoa passou infância/adolescência. É provável que as pessoas com E.M., por razões hereditárias, sejam, até certo ponto, propensas a desenvolver a doença. Ou seja, um factor ambiental desconhecido poderá activar o sistema imunológico, conduzindo a alterações na imunidade que levam ao aparecimento da doença.



2. Neoplasia da mama
O cancro de mama é a neoplasia mais frequente no sexo feminino e representa cerca de 25% de todos os cancros diagnosticados nas mulheres. A evolução das taxas de incidência das neoplasias mais frequentes mostra um aumento progressivo e gradual dos tumores da mama, do cólon e do pulmão, de acordo com o esperado. É a segunda causa de morte por cancro nos países desenvolvidos. Muito embora seja muito mais frequente no sexo feminino, há homens com neoplasia da mama (um homem para cada 135 mulheres).

3. Lúpus Eritematoso Sistémico
Esta doença inflamatória crónica de origem autoimune, que surge mais frequentemente entre os 20 e os 45 anos, é dez a 15 vezes mais frequente no sexo feminino. A diferença é explicada por factores genéticos, hormonais (estrogénios) e ambientais, que participam no aparecimento da doença, causando alterações imunológicas (produção de auto-anticorpos) que levam ao aparecimento dos sintomas.

Os sintomas do Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) são muito diversos. A par com as queixas gerais de cansaço, astenia (perda de forças), adinamia (prostração), febre, emagrecimento e perda de apetite, surgem manifestações mais específicas, de acordo com os anticorpos produzidos:

– Lesões cutâneas, que surgem tipicamente em zonas expostas à luz, em 80% dos casos. A lesão mais característica, de cor avermelhada ao nível da pirâmide nasal e região malar, em forma de asas de borboleta, é típica desta doença.

– Queixas articulares, nomeadamente a dor, com ou sem sinais inflamatórios associados, ocorre em cerca de 90% dos casos de LES, em algum momento da doença, envolvendo principalmente as articulações da mão, punho, joelho e pé.

– Lesão renal, que ocorre em cerca de 50% dos doentes.

– Alterações hematológicas, neuropsiquiátricas (alterações do humor ou do comportamento), entre outras.

4. Infecção Urinária
A infecção urinária é mais comum no sexo feminino e isso deve-se ao facto de a uretra feminina ser mais pequena, pelo que as bactérias chegam com mais facilidade à bexiga causando infecção. As bactérias intestinais são frequentemente causadoras de infecção urinária, devido à proximidade entre o meato urinário e o ânus. As mulheres grávidas, sexualmente activas ou na menopausa, são mais susceptíveis às infecções urinárias.



5. Fibromialgia
A doença afecta 2 a 10% da população, e está presente em todas as idades, grupos étnicos e culturais. A única grande diferença é a sua prevalência por género: a fibromialgia é sete vezes mais comum no sexo feminino.

As mulheres são quem mais sofre com a doença, que se caracteriza por dor músculo-esquelética crónica e difusa, que envolve os quatro membros e o tronco e se mantém por  mais de três meses, frequentemente associada a outras patologias, tais como depressão, síndrome do cólon irritável, fadiga, distúrbios do sono e alterações reumatológicas.

A fibromialgia não tem cura e compromete a sua qualidade de vida do paciente, mas o tratamento da doença permite uma melhoria significativa dos sintomas.

6. Depressão nas mulheres
A depressão é actualmente a quarta causa de incapacidade no mundo e deverá ser a segunda até 2020, segundo a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença tem uma maior prevalência no sexo feminino, afectando duas vezes mais mulheres, mas a ciência não tem uma explicação única para esse facto. Até porque, apesar da investigação desenvolvida, persistem dúvidas relativamente à origem da doença.

Actualmente, a depressão é referida como uma doença multifatorial, ou seja, com várias causas envolvidas no seu aparecimento:

– Algumas teorias referem uma explicação genética e estudos feitos com gémeos monozigóticos corroboram a existência de uma tendência familiar. No entanto, não é claro como é feita a transmissão genética.
– São igualmente importantes as causas físicas, como o desequilíbrio hormonal (patente na adolescência, depressão pós-parto ou associada à menopausa).
– A doença surge ainda associada a certas patologias (neurológicas, infecciosas ou oncológicas) e como efeito secundário de alguns medicamentos.

7. Doença Celíaca
A doença celíaca é uma doença autoimune que ocorre em indivíduos com predisposição genética, causada pela permanente sensibilidade ao glúten. Por cada quatro doentes celíacos, três são mulheres — e este desequilíbrio mantém-se em todas as faixas etárias, só desaparecendo na terceira idade. Nestes doentes, a ingestão de glúten, mesmo em pequenas quantidades, leva o organismo a desenvolver uma reacção imunológica contra o próprio intestino delgado, provocando lesões na sua mucosa que se traduzem pela diminuição da capacidade de absorção dos nutrientes. Trata-se de um problema crónico.

A eliminação do glúten da alimentação permite que o intestino regenere por completo da lesão e o organismo recupere — mas se houver reintrodução do glúten, a inflamação regressa e os sintomas reaparecem.

8. Doenças Sexualmente Transmissíveis nas mulheres
Mesmo com o desenvolvimento de novos métodos diagnósticos e de tratamento, as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) mantêm elevada prevalência, especialmente no sexo feminino, que muitas vezes não refere queixas. Frequentemente subvalorizadas do ponto de vista clínico e em termos de Saúde Pública, as DST podem provocar infertilidade, gravidez ectópica, malformações fetais ou infecções neonatais. A cada ano ocorrem, entre adultos de 15 a 49 anos, cerca de 340 milhões de novas infecções curáveis transmitidas através relações sexuais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Chama-se Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) a infecções de diferentes tipos que têm em comum o facto de serem transmitidas através da relação sexual:

DST venéreas causadas por bactérias
Gonorreia, clamídia (mais frequente nas mulheres, atingindo cerca de 45% das jovens que mantêm relações sexuais sem protecção), a sífilis e a úlcera mole venérea. Todas elas podem ser curadas, se forem tratadas adequadamente.

DST virais
Infeção por HPV, herpes genital, hepatite B e HIV.

DST causadas por parasitas
Pediculose e a tricomoniose (a mais frequente em todo o Mundo, representando 50% das DST com cura).



9. Lesão por Esforço Repetitivo (LER)
A “expressão” generalista Lesões por Esforços Repetitivos (LER) surgiu nos anos 50 para designar um conjunto de patologias, síndromes e/ou sintomas músculo-esqueléticos que afectam particularmente os membros superiores.

Aproximadamente 85% dos pacientes são mulheres na faixa etária dos 20 aos 40 anos. O aparecimento de LER está directamente relacionado com a actividade profissional — e são elas quem mais sofre com este tipo de lesões músculo-esqueléticas.

A LER, provocada pela execução de movimentos repetitivos e contínuos, favorecida por uma postura incorrecta ou levantamento de pesos, é cada vez mais comum e surge associada ao uso das novas tecnologias (nomeadamente à utilização do computador). Actividades como tocar piano, guiar camiões, fazer crochet ou bordar provocam igualmente lesões deste género.

Não se esqueça que em caso de dúvida deverá contactar o seu médico de família ou o hospital mais próximo para que seja feito o acompanhamento adequado.

Apresentação Joana Franco

Chamo-me Joana Franco, tenho 32 anos, e sou natural de Geraldes, aldeia pertencente ao Concelho de Peniche.
Enfermeira de Profissão, terminei o Curso de Licenciatura em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Francisco Gentil, em Lisboa, no ano de 2010.
Nos anos mais recentes abracei desafios noutros países, nomeadamente Dubai onde fiz parte um projecto na área de Turismo, e em Inglaterra, onde trabalhei como Enfermeira em “Nursing Homes”, a cuidar de Pessoas com Demência.
Em Portugal, demonstrei o meu trabalho como Enfermeira no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Hospital Júlio de Matos e, atualmente, trabalho na Clínica Psiquiátrica de Lisboa, em Telheiras.
Sou uma pessoa que aceita novas aventuras e, como tal, aceitei o convite de escrever para o Blog ‘Cultura e não Só’, em que apresento novos pontos de vista e dicas para tornar melhor a saúde do leitor.