A voz da psicanalista Françoise Dolto continua a ter eco no mundo da educação. Preconizando a total autonomia da criança, a recusa da autoridade e o evitar das frustrações, as suas ideias não escaparam à controvérsia. Didier Pleux, especialista do «pensamento Dolto», debruçou‑se sobre o percurso desta mulher que influenciou pais e professores, pondo em perspectiva a sua vida e a sua obra. Encontrou práticas educativas longe de ideais e um pensamento em contradição com o seu próprio trajecto.
Quem era na realidade esta mestra da educação psicanalisada? A questão é merecedora de resposta. Por isso, com este novo livro, Didier Pleux quis dar a conhecer como a realidade desta mulher explica o ‘fora da realidade’ das suas teorias educativas».
No campo da Educação, uma voz dominou em França nos últimos quarenta anos. Mas não só em França: também em Portugal, as ideias e o discurso de Françoise Dolto foram componente maior das teorias e da ideologia que dizimou o nosso sistema educativo noslongos anos de devastação do eduquês.
Dolto foi sobretudo intelectualmente perniciosa no campo daquilo que Didier Pleux chama «construção da criança-rei», daquilo que define como intolerância à frustração. Esta mulher, que chega a escrever (em Les Étapes décisives de l´enfance) «É uma criança, ajudem‑na a ser egoísta!», vai ao arrepio de qualquer empreendimento pedagógico digno desse nome, que deve ter como fim conduzir a criança do seu egoísmo natural para a prática dum altruísmo cultural, pois não é preciso ensinar à criança o que ela já é — e deve deixar de ser, se quiser tornar‑se um dia um adulto!
Com essa máxima, Françoise Dolto desacredita os pais, os adultos, os educadores, os professores; chega mesmo a falar de nazismo no caso de um professor que censure um aluno por chegar atrasado às aulas… Para Françoise Dolto não há maus alunos, apenas péssimos pedagogos; não há subdotados comprovados, apenas sobredotados ignorados; não há delinquentes relacionais, apenas uma instituição pedagógica castradora. A seus olhos, a criança não tem de se adaptar ao sistema, o sistema é que tem de se adaptar à criança.
Desresponsabilizantes e facilitistas, as ideias delirantes de Dolto, impostas entre nós centralizadamente ao sistema educativo e inculcadas nos cursos de formação de professores, infectaram e dominaram também os pais,sobretudo, como se compreende, os menos informados, determinandoa violência nas escolas, designadamente a exercida sobre os professores.
Didier Pleux leva a cabo uma desconstrução existencial e documentada do delírio e da origem dessas ideias. Cita textos, apresenta factos e provas, demonstra calmamente. Uma saudação fraterna a Didier Pleux pela sua obra de desmistificação!
Sobre o Autor
Didier Pleux, doutorado em psicologia do desenvolvimento e psicólogo clínico, dirige o Instituto Francês de Terapia Cognitiva. É autor de várias obras de referência sobre questões de educação, entre as quais Da Criança-rei à Criança Tirana.