Uma obra que concilia “imaginação e rigor”, nas palavras do escritor e académico Álvaro Manuel Machado, “que faz justiça à prodigiosa obra de Agustina Bessa-Luís”, segundo Inês Pedrosa, ou que, na opinião de Lídia Jorge, equilibra “a busca da verdade histórica com a paixão pela figura biografada” de forma “perfeita. Está a caminho das livrarias a segunda edição de O Poço e a Estrada – Biografia de Agustina Bessa-Luís, da autoria de Isabel Rio Novo e publicado pela Contraponto. Esta segunda edição não contempla alterações de fundo no corpo do texto, ainda que gralhas, pequenos erros factuais e omissões, entretanto descobertos, tenham sido naturalmente corrigidos. Foi também feita a indexação das notas finais e incluída a bibliografia de Agustina Bessa-Luís, em resposta a pedidos e sugestões feitos por alguns leitores, a que o editor e a autora foram sensíveis.
O Poço e a Estrada, que dá a conhecer uma Agustina ainda mais interventiva e inesperada, e em alguns pontos ainda mais controversa, é o primeiro livro da coleção de Biografias de Grandes Figuras da Cultura Portuguesa Contemporânea, da Contraponto. As restantes cinco biografias estão à responsabilidade de Filipa Melo, que vai escrever a biografia da fadista Amália Rodrigues (1920-1999), Bruno Vieira Amaral a do escritor José Cardoso Pires (1925-1998), João Pedro George a do poeta Herberto Helder (1930-2015), Paulo José Miranda a do cineasta Manoel de Oliveira (1908-2015), a segunda a ser publicada, já em Setembro de 2019, e Filipa Martins a da poetisa Natália Correia (1923-1993).
«Mas tenho uma história, e que história. […] Ninguém a conhece.» Era com estas palavras enigmáticas que, aos setenta anos, muito perto da viragem do século, Agustina Bessa-Luís perspetivava a sua existência. Já nessa altura contava com mais de cinquenta títulos, entre romances, contos, biografias, peças de teatro, ensaios, livros para a infância e de memórias, dialogando com a História, com a sociedade que a rodeava, com outros escritores, com outros artistas.
Desde cedo, Agustina revelou ter consciência de que não era uma pessoa convencional. Não foi uma criança comum. Não casou nas circunstâncias que se esperariam de uma rapariga da sua condição social. Não foi a típica esposa e mãe burguesas. Não foi a apoiante política esperada. Nunca se afirmou feminista, mas a sua história de vida foi mais radical e corajosa do que a de muitas feministas convictas. E, como escritora, raros são os que têm dúvidas em apontá-la como uma das mais geniais e complexas personalidades da literatura em língua portuguesa.
Através de uma pesquisa extensiva e rigorosa, baseada em dezenas de entrevistas, testemunhos, documentários, registos oficiais e textos epistolares, estabelecendo pontes constantes com a obra literária de Agustina, Isabel Rio Novo, uma das mais talentosas romancistas portuguesas da atualidade, reconstitui o percurso de vida de uma figura ímpar da nossa cultura contemporânea, numa biografia que se lê como um romance.