Acaba hoje no Palácio Sinel de Cordes a exposição “The Clothed Home” no âmbito da Trienal de Arquitetura de Lisboa, e o Cultura e Não Só teve a oportunidade de entrevistar Małgorzata Kuciewicz e Simone De Iacobis, responsáveis pelo design e conceção desta exposição.
Numa entrevista zoom entre Portugal e a Polónia abordámos temas como a eficiência energética, a inspiração por detrás deste conceito, entre outros.
CNS - Como surgiu esta exposição e a sua inspiração?
Em 2018 estivemos com o filho de um arquitecto espanhol, que criou um vestido para uma casa, esta casa que é também um museu foi construída por uma família ao longo dos anos segundo a teoria da arquitetura. Nós conhecíamos os materiais duros da casa, mas rapidamente entendemos que não sabíamos muito sobre os materiais macios para o interior da casa.
A partir daí começamos a pesquisar os têxteis na arquitetura e também a trocar observações. Em Itália, avistamos alguns desenhos dos têxteis nas paredes usados como decoração, percebemos então que não existe muita pesquisa sobre este tema.
Ao voltarmos alguns anos depois à casa que referimos encontrámos alguns edredons que colocámos onde deveriam estar de acordo com as indicações do filho do arquiteto, segundo ele este edredon deveria estar suspenso no teto entre as vigas de madeira desta casa de campo.
Concorrendo para o concurso da Bienal de Design de Londres, convidamos a Alizia para nos apresentar a proposta, queríamos que fosse uma composição de peças de arte e não uma exposição histórica, queríamos que fosse uma inspiração para as pessoas.
Queríamos vestir o espaço, em Portugal a luz é incrível e muito adequada, inspiramo-nos em palácios e casas de campo. A roupa da casa era algo transversal a todas as classes.
CNS - Que impacto poderá ter o tecido nas nossas casas?
É algo que no futuro podemos fabricar e introduzir nos nossos hábitos comuns, podemos abdicar do aquecimento central ou do ar condicionado, com este ritual de vestir e despir a casa com o passar das estações.
Esta é uma tradição pode ser recuperada pois foi retirada do nosso modo de vida.
CNS - Que relação têm os tecidos dentro de uma habitação com o nosso modo de vida?
Os tecidos ajudam a criar um microclima artesanal dentro de casa de forma que o tecido permite criar uma bolha de temperatura dentro de casa, os tapetes são exemplo disso pois isolam o chão.
Queríamos também mostrar que as pessoas perderam a sincronização com a nossa biologia natural, temos um lado diurno e noturno, temos ciclos mensais, etc., mas porque vivemos com o hábito de queimar combustíveis fósseis temos uma temperatura perfeita dentro de casa e perdemos contato com o exterior. Com o início da pandemia, também entendemos que perdemos o contato com a natureza
CNS - No inverno pode-se vestir o interior da casa para proteger contra a temperatura?
Tradicionalmente no sul da Europa existem tetos altos para ajudar a circular o ar nos meses quentes, por isso para o verão, pode fazer-se uma peça para a porta, com listras, esta peça vai deixar o vento entrar, bloquear o sol e também evitar que as moscas entrem em casa
CNS - Alguma peça que gostariam de destacar na exposição de Lisboa?
Estamos a mostrar uma peça de janela em Portugal, que mais nos agrada, que é para o exterior da casa, como terraços e varandas. Bloqueia a visão dos vizinhos e chamamos de discreto.
A Alicja que é a artista responsável pela exposição Clothed Home, é uma grande artista e combina com grande maestria as cores e texturas, ela brinca com a luz dos tecidos.
As fotos da exposição não traduzem toda a luz e sombra que o tecido cria, é preciso ver no local para perceber os efeitos, nesse sentido o melhor horário para a exposição é pela manhã, quando a luz do sol atinge o tecido e a sala.
CNS - Planos para o futuro?
Gostaríamos de expandir os microclimas do exterior das casas, estamos a pensar nos espaços sociais das casas, como podemos sombrear estes lugares e arrefecer esses espaços no verão.
Estamos também a trabalhar numa casa multi-materiais, composta por 7 divisões, cada divisão com um material natural diferente, sala de madeira, sala de tijolos, sala de cerâmica, etc.
Ao trabalhar na casa vestida, percebemos que existem outros elementos na atmosfera interna, como cheiros, que estão conectados aos materiais da arquitetura, que dão uma acústica diferente.
Este é todo um novo aspeto que estamos a explorar e a trabalhar.