quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Entrevista - Frederico Afonso, autor de “À Noite, Nunca Estarás Sozinho!”



O Cultura e Não Só conheceu o jovem escritor Frederico Afonso, autor de “À Noite, Nunca Estarás Sozinho!” durante uma ida à Feira do Livro de Lisboa.

Ao contrário de muitos outros autores de renome que esperam que os leitores venham até si, o Frederico fazia exatamente o contrário, abordava os leitores que passeavam na Feira e mostrava-lhes a sua obra literária.

Tivemos a sorte de ser abordados pelo Frederico e desde logo ficámos curiosos com a história do Tomás, editada pela Editora Flamingo, parte do grupo Chiado Editora. Depois de algumas dificuldades em conjugar agendas tivemos uma agradável conversa com o autor.



Cultura e Não Só (CNS) - Como começou a tua aventura na escrita?
Sempre gostei de ler, mesmo antes de entrar no ensino básico pedi à minha mãe para me ensinar a ler e aprender a escrever, não para estar à frente dos outros, mas porque queria saber mais sobre a vida.
Ao início achava a língua portuguesa massacrante a nível da gramática porque envolve a parte de decorar, no entanto, quando surge a parte da compreensão e da escrita atraiu-me mais porque permite-me voar para novos mundos.

CNS - Foi nesses voos que te surgiu o “Tomás” e as personagens desta história?
Vejo o mundo como um poço de pessoas, e as cidades são um pouco isso.
O Tomás foi criado no improviso, é órfão não só de pais mas também do mundo, pois ninguém lhe dá a atenção merecida, por isso pensei também no gato como animal de companhia para fugir ao cliché do cão como animal de estimação.
Joguei também com a noite, por ter um significado misterioso na literatura e no cinema, e o facto de ele estar órfão numa cidade para criar uma história que inspirasse jovens e adultos e os faça perceber que apesar de estarem sozinhos numa cidade na realidade não estão sozinhos.

CNS - Inspiraste-te em algum animal de estimação para a personagem do gato?
Tenho um pássaro, e apesar de dar-me bem com ele, só que não é um animal que se dê muito ao afecto, já o gato da minha tia é um gato muito afectuoso e já tem mais semelhanças de personalidade com o gato da história apesar de as parecenças físicas serem distantes.

CNS - Existe alguma semelhança entre o “Tomás” e o Frederico?
A parte de ter sonhos, eu tenho vários sonhos e tento sempre concretizá-los, e tal como o Tomás tenho em comum a iniciativa própria.
Apesar de ser órfão, o Tomás é capaz de viver sozinho numa cidade, de se desenvencilhar, de se alimentar sem conhecer ninguém, e todas estas características de ser curioso, de querer fazer mais e, ao mesmo tempo de sonhar com algo que é impossível.
Muitas pessoas ainda não acreditam que eu publiquei um livro com 15 anos de idade.

CNS - Porque julgas que existe essa descrença?
Para mim Portugal não está muito próximo da cultura e acabamos por investir o nosso dinheiro em outras actividades de lazer, as pessoas criaram por isso um estereótipo que um escritor é alguém que passa o seu tempo num quarto escuro, ou num café, a filosofar.
E quando me veem, mais comunicativo, jovem, e sem o tal perfil e idade para ser escritor julgam que é impossível.

CNS - Na tua opinião, porque não existem mais jovens escritores?
Talvez as pessoas não terem momentos de lazer em família, não irem a museus, não terem a sua curiosidade estimulada, acho que as pessoas vivem mais para mostrar aos outros e não vivem para eles próprios.
A cultura, a meu ver tem a tendência para ser desvalorizada ao menos que exista um grande investimento por parte do governo e das pessoas.

CNS - O teu percurso como escritor começou através de um concurso, correcto?
Sim, houve um concurso de literatura infantil de uma cadeia de supermercados, e apesar de eu ser menor de 16 anos consegui inscrever-me através do meu pai.
Sentei-me então ao computador, na nossa sala, e tal como os outros textos que escrevo e que me saem naturalmente, eu comecei a escrever esta história e enviei.
Apesar de não ter ganho o prémio pensei em enviar para uma editora, e após pesquisar o mercado literário português, contactei a Chiado Editora 

CNS - Qual a razão para fazeres um livro infantil em detrimento de outro tipo de escrita?
O concurso que referi levou-me a escrever para uma faixa etária dos 6 aos 12 anos, mas desde novo sempre escrevi histórias que depois representava na escola com os meus colegas.

CNS - Tens perspectiva de editar mais algum livro?
Eu já tenho outro livro para crianças terminado e estou prestes a terminar outro para adultos.
Este livro para adultos é de um estilo diferente do que está nos tops, vai ser algo vai puxar pela fantasia, traição, violento, e irá passar-se na era medieval.

CNS - Como leitor, estás a ler algum livro?
Livro dos sonhos roubados, de David Farr, fala de um tema que eu gosto que é sonhar, ter ambições para o futuro, sempre com uma mistura de mistério, romance, acção.
Vamos comprar um poeta, do autor Afonso Cruz, já o li e gostei muito da metáfora do poeta como animal de estimação.

CNS - Como encaixas a escrita, a leitura, a escola, os teus hobbies no teu dia-a-dia?
Não sou muito metódico, nem sou muito de horários.
Na escola sou bom aluno, mas não gosto de decorar matéria, prefiro falar com os professores, e deixo os assuntos da escola na escola e em casa aproveito o tempo para brincar com os meus irmãos, para ler, escrever, etc.
Quanto a ler e escrever varia dependendo das outras tarefas que tenho naquele dia, e acho que é muito importante ter também os meus momentos para de estar só a olhar para o tecto.

CNS - O sonho do Tomás é ir ver as estrelas e encontrar os pais, quais são os sonhos do Frederico?
Os meus sonhos vão variando, o meu livro, por exemplo foi um sonho até o ter publicado.
Se existir um concurso de magia na minha rua, e a magia é algo que gosto imenso, eu vou concorrer e o meu sonho vai ser ganhar aquele concurso.
Os meus sonhos são dificeis, mas que vou despender a minha energia num curto espaço de tempo para os alcançar, caso contrário tornam-se demasiado massacrantes.

CNS - Se pudesses deixar um conselho para outros jovens que queiram ser escritores, que conselho darias?
Nunca desistir, apesar dos falhanços mais cedo ou mais tarde vão conseguir
Se queres ser autor, tens de ter sempre alguma coisa pronta.

Entrevista conduzida em exclusivo para o Cultura e Não Só por Rui Costa