O Rock in Rio realizou o lançamento do
Amazonia Live – Projecto Social do Rock in Rio para todas as edições do festival
até 2019. Foi apresentada uma grande campanha de mobilização que incentiva a
população a abraçar a causa, sob o mote “Mais do que Árvores, Vamos Plantar
Esperança”. O encontro contou com artistas, formadores de opinião e parceiros. Em
Portugal, e dado o impacto mundial do projecto, o Amazonia Live conta com o apoio
técnico e mobilizador da Quercus.
Segundo a Rede Amazónica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg),
de 1500 a 1977, cerca de 4,7% da Amazónia foi desflorestada. Só nos últimos 36
anos esse número subiu para 18%. Até 2013, o Brasil perdeu, segundo a Raisg, 632
mil km2 de florestas. A desflorestação afecta o clima e o equilíbrio das chuvas, afecta
directamente quem está perto, mas também quem vive longe da floresta. E o que é
que o Rock in Rio tem a ver com isso? Tudo.
Para o Rock in Rio, a música é uma linguagem universal que une pessoas em todo o
mundo através da emoção e é uma importante plataforma para as causas
socioambientais. O pilar de sustentabilidade do festival — Por Um Mundo Melhor —
foi criado em 2001 e já beneficiou milhares de pessoas no Brasil, em Portugal,
Espanha, nos Estados Unidos e em diversos outros países. Os investimentos resultam
da venda de bilhetes e de acções promovidas juntamente com os parceiros. Agora, a
organização do festival inicia um movimento global que ajudará a restauração
florestal da Amazónia e que tem como principal objectivo chamar a atenção das
pessoas para a importância do consumo consciente dos recursos naturais do planeta,
convidando-as a serem agentes activos no combate às alterações climáticas através
da sua própria mudança de comportamento.
A região da Amazónia é estratégica, já que abriga a mais importante reserva de
biodiversidade do mundo, tendo um papel fundamental na redução do impacto do
aquecimento global. A acção vai restaurar as áreas desflorestadas nas cabeceiras e
nas nascentes do Rio Xingu.
“Pela primeira vez, estamos a adoptar globalmente uma causa comum que será
promovida em todos os países onde o Rock in Rio está, e não só, estendendo-se pelas
várias edições do evento. Estamos a garantir a plantação de um milhão de árvores
e, com a ajuda dos parceiros e fãs do festival, queremos chegar a cerca de 3 milhões
de novas árvores na região. Com esta acção, vamos chamar a atenção do mundo
inteiro para um problema urgente e mostrar que é possível plantar, sobretudo,
esperança. Para se ter uma ideia da importância desta iniciativa, segundo dados do
ISA, uma floresta com 3 milhões de árvores transpira a cada dia cerca de 48 milhões
de litros de água. Outro dado importante e que merece a nossa atenção é o fato da
Amazónia ter 20% de toda a água doce do planeta e isso não se pode perder”, explica
Roberto Medina, Presidente do Rock in Rio.
Pela influência que a região da Amazónia tem no equilíbrio climático do planeta, e
sendo uma campanha que visa mobilizar a população para um problema global, a
organização ambiental Quercus abraçou este projeto e será, em Portugal, um dos
elementos mobilizadores e tem a responsabilidade da validação técnica do processo.
“Cerca de 90% de todas as catástrofes naturais registadas na Europa desde 1980
foram causadas directa ou indirectamente pelas alterações climáticas. Temos
consciência que esta acção, ainda que aconteça na Amazónia, terá impacto e efeitos
em todo o mundo, e é por isso que achamos que faz todo o sentido envolver Portugal
neste projecto, contribuindo assim para um mundo melhor. Ter o apoio técnico e
mobilizador da Quercus é, para nós, fundamental”, afirma Roberta Medina, vicepresidente
executiva do Rock in Rio.
Para João Branco, Presidente da Quercus “o Amazonia Live é um projecto de uma
dimensão e importância socioambiental inquestionável. Como tal, a Quercus não
poderia ficar de fora. É com enorme dedicação que abraçamos esta causa,
associando-nos a esta iniciativa e querendo ter um papel determinante,
nomeadamente em Portugal. Queremos ser agentes activos na sensibilização da
população mundial e, mais especificamente, nacional, reforçando o apelo para que
as pessoas mudem pequenas acções do seu dia-a-dia que poderão fazer toda a
diferença no impacto ambiental em todo o mundo.”
O ponto alto do projecto será a 27 de Agosto, o dia em que o Rock in Rio vai apresentar
um espectáculo inovador que tem como foco principal a causa que defende.
A
organização vai montar um palco flutuante no Rio Negro, em Manaus (AM), e o
espectáculo poderá ser visto em todo o mundo, através da transmissão de live
streaming na internet, e também no Brasil, com a transmissão do canal de televisão
Multishow. Apenas 200 pessoas, entre formadores de opinião e jornalistas, vão ter a
oportunidade de assistir ao espectáculo no local, numa plataforma flutuante montada
para o efeito. A apresentação contará com o tenor lírico Plácido Domingo, que vai
actuar com a Orquestra Sinfónica, e ainda com o tenor Saulo Lucas, que vai
interpretar a canção “Canto Della Terra”. Para abrir o espectáculo, sobe ao palco
flutuante Ivete Sangalo acompanhada também pela orquestra. Ainda em Manaus e
na mesma data, Ivete Sangalo apresenta um espectáculo aberto ao público, com o
objectivo de chamar a atenção da população para as questões socioambientais. Este
espectáculo será também o momento que vai dar início à contagem decrescente para
a próxima edição do Rock in Rio no Brasil, em 2017.
Paralelamente, o maior evento de música e entretenimento do mundo vai lançar, em
Portugal e no Brasil, uma campanha publicitária com o actor Marcos Palmeira. A
mensagem transmitida será um alerta para a importância do consumo consciente
dos recursos naturais do planeta e uma sensibilização para que cada pessoa seja
agente activo no combate às alterações climáticas através da sua própria mudança de
comportamento. Esta será uma campanha multimeios que vai também criar uma
gigantesca mobilização nas redes sociais, convidando cada pessoa a plantar uma
árvore na Amazónia. Em Portugal, o arranque da campanha de doações foi no passado 6 de Abril.
O investimento total nesta iniciativa será de quase 7 milhões de euros, incluindo
custos de plantação, assistência técnica, monotorização e gestão, campanhas de
media, produção do espectáculos e custos logísticos.
“Este é o grande investimento de uma empresa privada que pensa num retorno directo
para o planeta e não para uma causa própria. E o investimento não será apenas
financeiro, mas também uma união de esforços, com o envolvimento de figuras
públicas e anónimos em prol de uma causa social e ambiental”, afirma Roberto
Medina, Presidente do Rock in Rio.
A iniciativa do Rock in Rio para a plantação de árvores conta já com parceiros como
Itaú, Manaus Luz, Manaus Ambiental (responsável pela captação e tratamento de
águas na região) Banco Mundial, Universidade Estácio de Sá e a companhia aérea
Gol. Além do um milhão de árvores garantido pelo festival, os parceiros também se
comprometeram com a causa, subindo este número para os 2,1 milhões. A
Universidade Estácio vai doar 100 mil árvores e mobilizar 500 mil alunos e 15 mil
colaboradores a fazer o mesmo.
Para este prometo, o Rock in Rio associou-se a uma equipa de peso, garantindo assim
o melhor resultado. A parceria envolve o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
(FUNBIO) e o Instituto Socioambiental (ISA) e visa contribuir para a restauração
florestal, para a recuperação das nascentes e matas nas margens dos rios e ainda
gerar rendimentos, de forma participativa e inclusiva, para as comunidades locais.
Para a plantação das árvores será utilizado um mix de sementes chamado de
muvuca, uma técnica escolhida e aprimorada pelo ISA para reproduzir o processo
natural da floresta. Esta técnica utiliza sementeiras directas e a experiência dos
plantadores de árvores do Xingu-Araguaia prova que semear directamente no chão,
no seu local definitivo, é o melhor método para a maioria dos diversos tipos de
árvores. Durante os três primeiros anos após a plantação serão publicadas notícias e
relatórios técnicos sobre a situação das árvores e da floresta recuperada, garantindo
transparência e monotorização para quem acreditou nesta causa.
"As melhores soluções são criadas de maneira partilhada e em Rede. Este é o
ensinamento do nosso grande parceiro, a Rede de Sementes do Xingu. Nós, do ISA,
e os mais de 420 colectores de sementes estamos animados com o desafio de plantar
um milhão de árvores no coração do Brasil. Mas também muito empenhados em
espalhar a mensagem de alerta sobre os riscos que a Amazónia enfrenta neste
momento e o papel de cada pessoa nas questões socioambientais", afirma Rodrigo
Junqueira, do ISA. Segundo ele, a Amazónia é responsável pelo controlo climático
global e é a renovadora atmosférica da poluição causada pelo homem. “Sem ela, a
capacidade de retirar o dióxido de carbono atmosférico ia concentrar-se unicamente
no oceano, aumentando a temperatura da Terra e pondo em risco a vida de diversas
espécies animais”, explica.
Amazónia: a maior biodiversidade do planeta
Segundo dados da Raisg, a Amazónia estende-se por cerca de 6 milhões de
quilómetros quadrados ao longo de nove países sul-americanos: Brasil, Bolívia,
Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. É o maior
bioma do Brasil, ocupando 4,1 milhões de quilómetros quadrados deste país
(IBGE,2004), e é nesta floresta que crescem 2.500 espécies de árvores, o que
corresponde a 1/3 de toda a madeira tropical do mundo.
Só na Amazónia brasileira existem cerca de 30 mil espécies vegetais (das 100 mil da
América do Sul), 1,8 mil de peixes, 399 de mamíferos, 1,3 mil de aves, 284 de répteis
e 250 de anfíbios. No bioma está também a maior bacia hidrográfica do mundo, que
ocupa cerca de 6 milhões de km2 e tem 1.100 afluentes. O rio Amazonas, o maior
da região, lança a cada segundo cerca de 175 milhões de litros de água no Oceano
Atlântico. De acordo com o Atlas da Raisg, 58,8% do território brasileiro é
amazónico.
O impacto da desflorestação da Amazónia afecta a vida da população mundial
A Amazónia — "o pulmão do mundo“ — desempenha um papel crucial no ciclo de
carbono global que ajuda a dar forma ao clima mundial. Cerca de 200 biliões de
toneladas de carbono estão contidos na vegetação tropical do mundo inteiro, dos
quais se estima que cerca de 70% esteja apenas na Amazónia. Sem ela, a
capacidade de retirar o CO2 atmosférico concentrar-se-ia unicamente no oceano,
pondo em risco a vida de diversas espécies de animais, que correriam o risco de se
extinguir devido ao aumento da temperatura da Terra.
Um dos graves efeitos mundiais da desflorestação é, sem dúvida, a diminuição da
biodiversidade global, mas também a contribuição para o aquecimento global. Hoje,
1/3 da população mundial não tem acesso a água potável e, se a temperatura global
aumentar 2,5°C acima dos níveis pré-industriais, este número pode duplicar.
Os índices de desflorestação a um ritmo muito acelerado causam a conversão de
mais carbono em dióxido de carbono, seja quando as árvores são queimadas ou mais
lentamente pela decomposição de madeiras não queimadas. Estima-se que apenas a
destruição da floresta tropical mundial poderá, nos próximos quatro anos, libertar
mais carbono para a atmosfera do que todos os voos desde o nascimento da aviação
até 2025. O Brasil, por exemplo, está entre os cinco maiores emissores de gases
estufa, não por causa das elevadas emissões de combustíveis fósseis mas sim devido
à desflorestação.
As alterações climáticas têm vindo a potenciar mais riscos do que nunca em termos
de crises de água, escassez de alimentos, crescimento económico restrito, coesão
social mais fraca e aumento dos riscos que afectam a segurança. E, como a atmosfera
não tem fronteiras, estima-se que cerca de 90% de todas as catástrofes naturais
registadas na Europa, desde 1980, tenham sido causadas directa ou indirectamente
pelas alterações climáticas.
“A restauração florestal é um desafio global, e a plantação de um milhão de árvores
nas cabeceiras do Xingu é uma contribuição para a biodiversidade, a qualidade e o
volume de água. Em 20 anos, o Funbio já apoiou 39% da superfície protegida do
Brasil, e esperamos, com o apoio dos parceiros, ter o mesmo impacto na restauração
florestal”, diz Rosa Lemos de Sá, Secretária-geral do Funbio, a entidade que fará a
gestão financeira do projecto.