Passam, em 2021, oitenta anos sobre a primeira edição de Esteiros, romance de Joaquim Soeiro Pereira Gomes que, à época, denunciava um Portugal sem esperança e que, durante duas décadas, foi livro de leitura permanente nas escolas secundárias portuguesas. A Quetzal marca o reencontro com «os filhos dos homens que nunca foram meninos», personagens de um livro inesquecível que ocupa a memória de muitos portugueses. De novo nas livrarias, com edição de capa dura e cuidados gráficos acrescidos, a 25 de março.
Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Saguí são os heróis de um romance que, em 1941, trouxe à luz do dia a denúncia do trabalho infantil, da dureza da condição operária, da pobreza e da injustiça social. «Este mundo, o de Esteiros, foi demasiado amargo para os seus contemporâneos. É importante que o revisitemos na companhia do livro», escreve Francisco José Viegas na nota introdutória que revisita a maioridade da obra de Soeiro Pereira Gomes.
Graças à sua ingenuidade, bravura e simplicidade, Esteiros, referência emblemática do movimento neorrealista português, é um documento marcante da história portuguesa do século xx. Ao contrário de muitos outros romances de natureza programática, e graças à qualidade da escrita de Soeiro Pereira Gomes e a um conhecimento detalhado daquele mundo real, Esteiros ultrapassa o quadro ideológico a que estaria destinado numa leitura estritamente política – e deve agora ser relido para que não esqueçamos o sofrimento desses anos, nem um autor que não pode ser retirado das nossas livrarias, agora finalmente reabertas.