A Bicicleta do Ourives Ambulante de Silvério Manata é um romance que tem o Alentejo na memória, mas calcorreia outros lugares de lembrança nem sempre feliz, por um Portugal de outros tempos, conduzindo os leitores para um mundo também ele de recordação ou, não sendo o caso, de aprendizagem, de encontro com as raízes, de desencontro com a correria dos novos tempos, percebendo-se que vidas intensas não têm de ser sinónimo de velocidade nos afazeres.
Contada a duas vozes, a do gandarês que se tornou ourives e a da alentejana que se tornou professora primária, nesta história cruzam-se vidas, unem-se destinos e aproximam-se geografias. Aqui se narram desafios de quem se negou a receber a sina sem luta e conseguiu superar o que aos olhos da tradição e do conformismo pareceria uma impossibilidade.
Excerto
«O maior afastamento entre dois lugares é o tempo, e muitos anos me separam dessas paredes caiadas de pasmaceira onde me ia fazendo mulherzinha — paredes de taipa em ruínas, imagem de mim que nenhum atalho poderá recuperar. Se a infância mora a uma lonjura enorme, a sua recordação nem tanto. Guardei perus; para que as não percam, afoito-me a guardar memórias do Alentejo.»
«Sentado no tempo vazio da soleira da porta, via as horas escorrerem devagar. Na dormência em que me encompridava resvalava para a saudade dos dias e das gentes dos Montes que batia a correr em ânsias de governar a vida. Depois, a vida rural migrou para a vila e para a margem sul da cidade grande.»
Sobre o Autor
Silvério de Jesus Manata nasceu em 1959 em Carapelhos - Mira, em terras da Gândara, onde cresceu até concluir, na Universidade de Coimbra, o curso de Línguas e Literaturas Modernas.
Foi professor efectivo do ensino secundário até 1993, ano em que optou definitivamente pela actividade empresarial.