quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Ciclo Memórias Coloniais na Culturgest



O ciclo Memórias Coloniais realiza-se de 19 de Setembro a 5 de Outubro, na Culturgest, em Lisboa, e inclui conferências, debates, filmes, performances, uma instalação e um espectáculo de teatro.

O debate sobre as memórias do período colonial tem ocupado o espaço público e a produção artística de forma intensa. O ciclo Memórias Coloniais abre espaço a este tema, acolhendo pessoas e projectos implicados em continuidade na sua pesquisa. Um convite à reflexão sobre o que foi transmitido pelas pessoas que viveram o colonialismo às gerações vindouras.

No dia 19 de Setembro, às 18:30, no Pequeno Auditório, os grupos de investigação AFRO-PORT Afrodescendência em Portugal (ISEG) e Discursos Memorialistas e a Construção da História (Faculdade de Letras Universidade de Lisboa) apresentam a conferência Políticas da memória selectiva com a historiadora marroquina Fatima Harrak (em inglês). Uma reflexão sobre os efeitos da “memória selectiva” no presente político actual, onde a autora defende uma "história cruzada" dos colonizadores e dos povos colonizados e a necessidade de ouvir os testemunhos de ambos os territórios.

De 24 a 27 de Setembro, no Pequeno Auditório, Tudo passa, excepto o passado é um programa sobre a herança colonial no espaço público, em museus e nos arquivos de vários países europeus, liderado pelo Goethe Institut. Em Lisboa, o tema centra-se nos arquivos cinematográficos pós-coloniais em formato de mesa redonda , no dia 24 de Setembro, às 18:30, e de um ciclo de filmes e debates sobre os arquivos de cinema: Reimaginar o arquivo pós-colonial . Comissariado por Maria do Carmo Piçarra, o ciclo de filmes apresenta-se como uma retrospectiva dos vários subgéneros cinematográficos dos filmes coloniais e, após cada filme, segue-se um debate onde são discutidos temas como a origem destes materiais de arquivo, o seu presente e as questões éticas da sua utilização. Estes debates contam com a presença de Maria do Carmo Piçarra, Inadelso Cossa, Filipa César, Sana na N’Hada, Tiago Baptista, Tamer El Said, entre outros. No dia 25 de setembro, às 21:30, é apresentado Dal pollo all'Equatore (1986), de Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi, o raramente visto filme experimental em 16mm que deu reconhecimento internacional aos seus realizadores que reeditam material filmado por Luca Comerio (na década de 1910), um documentarista pioneiro italiano que fotografou povos desde o Polo Norte até ao Equador e recolheu material fílmico um pouco por todo o globo a fim de celebrar a vitalidade e as conquistas do colonialismo europeu - mas sobretudo do fascismo italiano. No dia seguinte, também às 21:30, são apresentados Sad song of Touha (1972), de Atteyat Al Abnoudy, um retrato fascinante dos artistas de rua do Cairo, Un carnaval en Bissau (1980), de Sarah Maldoror, que aborda o significado da identidade negra em relação aos festejos do Carnaval, através de uma investigação da história e cultura do continente africano, documentando estas festividades, Préface à des fusils pour banta (2011), de Mathieu Abbonnenc, centrado no filme perdido Des Fusils pour Banta, de 1970, a primeira longa-metragem de Sarah Maldoro. Financiado pelo Exército Nacional Popular da Argélia, que tinha a esperança de vir a utilizá-lo como um instrumento de propaganda, o filme foi confiscado a Maldoror por causa das exigências que esta fez no sentido de controlar plenamente o processo de montagem. Até aos nossos dias, as bobinas não foram recuperadas nem devolvidas. Por fim, é apresentado Uma memória em três actos (2016), de Inadelso Cossa, um ensaio poético sobre o trauma pós-colonial e a perda da memória colectiva, bem como uma investigação em torno do passado colonial português em Moçambique, dando voz àqueles que se viram silenciados durante o regime em confronto com os locais desse silenciamento. 



A 27 de Setembro, último dia deste ciclo, é possível ver, a partir das 18:30, Spell Reel (2017), primeira longa-metragem de Filipa César, que aborda a memória perdida do cinema realizado na Guiné-Bissau logo após a independência. À beira da ruína completa, as imagens testemunham o nascimento do cinema guineense enquanto parte da visão descolonizadora de Amílcar Cabral, o líder da libertação assassinado em 1973. Em colaboração com cineastas guineenses como Sana Na N’Hada e Flora Gomes, Filipa César imagina uma viagem em que esta matéria frágil do passado opera como um prisma visionário de estilhaço, através do qual olhamos. 

A 26 de Setembro, às 18:30, no Pequeno Auditório, a conferência Memórias africanas em Portugal debruça-se sobre histórias de africanos, afrodescendentes e afro-diaspórios em Portugal, marcado intensamente pela negação da queda do império após o 25 de Abril. Segue-se um debate com Julião Soares de Sousa (Centro de Estudos Interdisciplinares do século XX, Universidade de Coimbra), Inocência Mata (Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa), Iolanda Évora (Centro de Estudos sobre África, Ásia e América Latina, ISEG, Universidade de Lisboa) e Carla Fernandes (AfroLis).

Este encontro apresenta o resultado dos projectos de investigação AFRO-PORT Afrodescendência em Portugal e Discursos Memorialistas e a Construção da História com o objectivo de registar as memórias orais sobre a história do colonialismo e sublinhar a sua importância na história africana e portuguesa.

O colonialismo e as suas consequências tem sido o tema de eleição da companhia de teatro Hotel Europa que apresenta, em estreia absoluta, a sua nova produção - a quarta dedicada a esta temática - Os filhos do colonialismo português , de 26 a 28 de Setembro, no Grande Auditório da Culturgest. No contexto deste ciclo, André Amálio (um dos fundadores da companhia Hotel Europa) abre o seu arquivo pessoal de entrevistas, livros, vídeos, fotografias de família e documentos da guerra e revisita as suas criações teatrais na performance de 13 horas - em referência aos 13 anos de Guerra Colonial -  Hotel Europa: o fim do colonialismo português , no dia 5 de Outubro das 11:00 à meia-noite (Salas 4, 5 e 6). 



No dia 3 de Outubro, no Pequeno Auditório, o projecto MEMOIRS — Filhos do Império e Pós-memórias Europeias junta investigadores que se interessam de modo comparado às memórias coloniais dos contextos francês, belga e português, e apresenta um debate e uma performance à volta da questão "como se manifestam as memórias do fim do colonialismo em termos sociais, culturais e artísticos na Europa". 

Às 18:30, o músico e slammer belga-congolês Pitcho, a cineasta franco-argelina Fatima Sissani e a escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso reflectem sobre as mudanças culturais protagonizadas pelas gerações seguintes em Portugal, na Bélgica e em França, a partir das suas experiências artísticas, no debate Artes na Europa no tempo da pós-memória . No início do debate, Pitcho apresenta a performance L’ expérience Pi.

No mesmo dia, às 21:30, é apresentado o premiado filme A Língua de Zahra, de Fatima Sissani , que nos apresenta Zahra, uma mulher nascida numa pequena comunidade cabila nas montanhas argelinas - e mãe da realizadora - que imigrou há vários anos para França mas recusa-se a aprender francês. A partir do retrato fílmico da sua mãe, Fatima Sissani trabalha a arte da palavra, tão cara ao universo cultural da imigração argelina em França. Muitas vezes relegados a trabalhos silenciosos e isolados, estes imigrantes encontram na língua do país de origem o retorno às suas raízes, memórias e histórias.

MEMOIRS — Filhos do Império e Pós-memórias Europeias é um projecto de investigação comparada sobre a diversidade europeia a partir das suas heranças coloniais. Estuda casos de Portugal, França e Bélgica onde ecoam presenças de Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Argélia e Congo.

As imagens dos materiais de divulgação deste ciclo são da autoria do artista plástico Francisco Vidal, criadas para o ciclo Memórias Coloniais, para além de serem também usadas algumas imagens da sua série Fogo Fogo.

O  ciclo Memórias Coloniais é de acesso gratuito, excepto. 

A entrada nas conferências, debates, instalação e ciclo de filmes é gratuita (sujeita à lotação da sala e mediante levantamento de bilhete), o bilhete para o espectáculo de teatro custa 12€ (a partir de 6€ com desconto) e o bilhete para a performance custa 6€ (preço único sem descontos).