A exposição Acha que Minto?, de Jimmie Durham (E.U.A., 1940) é apresentada na Culturgest Porto, com entrada gratuita, de 14 de Setembro de 2019 a 5 de Janeiro de 2020. A inauguração é no dia 13 de Setembro, às 22:00, e conta com a presença do artista.
O percurso de Jimmie Durham - que recebeu, este ano, o Leão de Ouro na 58.ª Bienal de Veneza - cruza a poesia, o ativismo político e a prática artística numa enorme coerência que tem dado novos sentidos à relação entre política e poética.
Acha que Minto? retoma outra exposição — História Concisa de Portugal — apresentada pelo artista, em 1995, na Galeria Módulo, a primeira presença do seu trabalho em Portugal que veio a ser relevante no seu percurso.
Inspiradas no livro O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago (que Durham considera um livro de referência para si e para a história do século XX), as obras incluem citações do texto que, datilografadas ou manuscritas, integram individualmente cada uma das peças, não se constituindo, no entanto, como metáforas ou ilustrações. Esta exposição recupera um momento importante do seu percurso e, ao mesmo tempo, faz a ponte com o seu trabalho presente, demonstrando a sua aguda atualidade.
O trabalho artístico de Jimmie Durham é frequentemente vinculado ao lugar específico onde é criado. Construídas a partir de objetos encontrados pelas ruas da cidade de Lisboa (troncos e pedaços de madeira, pedras e peças variadas de metal, plástico, cerâmica ou tecido), as peças parecem definir um universo precário e resgatado a um tempo indefinido. A relação paradoxal entre realidade e ficção, essencial na estrutura do livro de Saramago que narra o último ano da vida do mais famoso heterónimo de Fernando Pessoa, possui aqui um correlato expresso no título da exposição Acha que Minto?, ele próprio uma citação do mesmo livro. Valerá a pena transcrever o texto de Saramago, por sua vez incluído numa das obras de Durham: «Acha que minto, Não, que ideia, aliás, nós não mentimos, quando é preciso limitamo-nos a usar as palavras que mentem».
No seu conjunto, estas obras retomam as temáticas que o artista tem vindo a desenvolver: a quebra, o estilhaçar do mundo e, simultaneamente, o seu encantamento assente no acidente, e as políticas de representação identitária.
Acha que Minto? constitui, desta forma, não só a recuperação de um momento importante no percurso de Jimmie Durham, mas também uma ponte em relação ao seu trabalho presente, demonstrando a sua aguda atualidade.
Esta exposição é o segundo momento do ciclo Reação em Cadeia, uma colaboração entre a Fidelidade Arte e a Culturgest, que propõe aos artistas participantes o convite ao artista que lhes sucede em ambos os espaços. O ciclo implica sempre uma estreita adequação do projeto às galerias, em diferentes declinações em Lisboa e no Porto. Jimmie Durham foi o artista proposto por Ângela Ferreira (Maputo, 1958), que o antecedeu, sendo Elisa Strinna (Pádua, 1982) a artista que o sucederá.
Sobre Jimmie Durham
Jimmie Durham (E.U.A., 1940) iniciou o seu percurso como ativista político, poeta e performer muito jovem, no início da década de 1960. Em 1969, já em Genebra, estudou escultura e performance na École National Supèrieure des Beaux Arts.
De regresso aos Estados Unidos envolveu-se com o American Indian Movement, do qual integrou o Conselho Central e, posteriormente, dirigiu o International Indian Treaty Council, tendo vindo a ser o seu representante nas Nações Unidas.
Em 1980, voltou a dedicar-se à arte, mantendo, no entanto, o ativismo político e associativo. Deixou os E.U.A. em 1987 e foi viver para Cuernavaca, México, período durante o qual participou em exposições internacionais de referência, como a Documenta (Kassel, Alemanha) ou a Bienal de Whitney (Nova Iorque, E.U.A.). Estabeleceu-se na Europa em 1994, residindo atualmente entre Berlim e Nápoles.
Os seus textos foram reunidos num livro intitulado A Certain Lack of Coherence (Kala Press, 1993), tendo sido publicado um segundo volume mais recentemente, Jimmie Durham: Waiting to be Interrupted. Selected Writings 1993–2012 (M HKA e Mousse Publishing, 2014).
Em 2017, foi objeto da exposição retrospetiva Jimmie Durham: At the Center of the World, organizada pelo Hammer Museum (Los Angeles, E.U.A.) onde foi primeiramente apresentada, tendo passado posteriormente por outros locais: Walker Art Center (Minneapolis, E.U.A.), Whitney Museum of American Art (Nova Iorque, E.U.A., 2017-2018) e Remai Modern (Saskatoon, Canadá, 2018).