Já vestiram os casacos? Então, aqui vamos nós até Ushuaia...
Passaram 4 horas desde que deixei Buenos Aires. O sinal de apertar os cintos anuncia a nossa descida. Estou quase aterrar na terra do fogo...
Incrível, pensar que Antártida está mesmo ali ao meu lado. A descida é rápida e a pique. Pista pequena mas envolvida numa paisagem de cortar a respiração, em tons de branco.
Mal a porta do avião se abre, sinto o ar gélido na minha cara. Paro e, por momentos, fico ali, em plena escada do avião, contemplando tamanha beleza. Seja pela enorme cordilheira Martial ou pelo estreito de Beagle.
Cheguei ao fim do Mundo! Curiosa esta designação pois dá nome a tudo o que existe nesta zona, tal é o seu aproveitamento, ex: Comboio do fim do Mundo, campo de futebol do fim do mundo; cemitério do fim do Mundo etc...
A cidade é portuária e não especialmente bonita, mas tem algo, tem uma identidade própria com a sua Avenida San Martín, a principal de Ushuaia, cheia de lojas e excelentes restaurantes, onde podemos degustar os famosos frutos do mar. Destaco, sem dúvida, o caranguejo gigante, com a particularidade de ser fresco e pescado na hora!...Amei...!
No dia seguinte, corro para o Porto ao som das sirenes dos navios e das gaivotas que teimam em dar as boas vindas aos muitos barcos de turismo e de expedições vindos da Antártida.
O dia está lindo mas esta zona do globo é extremamente instável e, a qualquer momento, tudo pode mudar, à que apressar!
Quero apanhar o barco o mais cedo possível e aproveitar o sol para admirar um dos pontos altos desta visita à Terra do Fogo: o famoso rochedo dos leões marinhos, bem no meio do canal de Beagle.
A vista da cordilheira gélida, observada no meio do canal, é impressionante e imponente mas impossível de transmitir por palavras. Temos que viver este momento!
Sinto os motores do barco a desacelerar e o rochedo aproxima-se dos nossos olhos. Chegou o momento!
Abrimos uma das portas de acesso ao exterior do navio e lá estão eles, com todo o seu esplendor, os Leões Marinhos no seu estado selvagem mais puro. Inimaginável!...
Por momentos, vem-me à memória tantas e tantas manhãs de domingo, onde encostava a cabeça ao colo do meu pai, ou da minha mãe, e observava atentamente os programas de animais selvagens, que passavam na RTP 1... Saudades ...
Agora estou em frente a eles, ao vivo e a cores, no seu habitat, na sua casa!
Fico mais de 1 hora a observar tamanha beleza. Machos e fêmeas brincando com as suas crias, sem ameaças por perto!
De regresso, passamos pelo não menos famoso Farol Les Ecaireurs, apelidado, como não podia deixar de ser, de “ Farol do Fim do Mundo”.
De volta à cidade, preparo-me para a minha segunda visita: o Parque Nacional da terra do fogo com os seus 63 mil hectares. Estamos a 31 mil Kms de Buenos Aires. Ali podemos contemplar a natureza morta por força das temperaturas gélidas, as imensas barragens construídas por castores, uma autêntica praga ambiental, e claro, como não podia deixar de ser, ... um pequeno passeio no trem do fim do Mundo!
Na manhã seguinte, da janela do meu quarto olho a cordilheira dos andes bem ao fundo e começo a pensar no meu próximo destino: “ Calafate “, onde iria viver um dos momentos mais sensíveis e extraordinários da minha vida... mas por hoje não vos quero cansar mais, até porque a viagem já vai longa!
Arrumo a minha mala e preparo-me para deixar Ushuaia ...
Vai deixar saudades a ilha dos lobos, com os seus leões marinhos, a aparição de alguns pinguins, e a própria cidade.
Para mim, Ushuaia não é apenas um porto de abrigo para cruzeiristas, ou barcos de expedições vindos da Antártida, pernoitarem uma ou duas noites.
Ushuaia, foi um dos locais do Mundo mais bonitos em que pude contemplar a natureza no seu estado mais selvagem e puro. Em Ushuaia, senti como nós humanos somos tão pequeninos perante a mãe natureza!
Por fim gostaria de pedir desculpas a todos os leitores, pela minha ausência na semana passada, assim como agradecer a preocupação demostrada. Gostaria de dizer que está tudo bem e acrescentar que os ladroes roubaram-me um computador e uma agenda com algumas crônicas que já tinha escrito mas não me roubaram a memória das muitas experiências vividas ao longo dos anos. Como tal, vamos continuar a viajar juntos!
Assim sendo, até Calafate, região que marcou para sempre a minha vida! Para a semana vão perceber por quê....
Forte abraço a todos...
Apresentação Jorge Santos
O meu nome é Jorge Santos, tenho 48 anos e trabalho na Agência Abreu há mais de 33 anos. A minha paixão é a família, e o Mundo, afinal de contas a minha verdadeira casa ao longo dos tempos. Como coordenador nacional dos grupos de lazer da Abreu, acompanho inúmeros clientes por esse mundo fora, assim como construção de viagens à medida e respectivas viagens de inspecção.
O que vou tentar transmitir através de alguns artigos, são simplesmente sentimentos e experiências vividas na primeira pessoa, e não falar tanto da vertente organizativa da viagem em si.