quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Crítica "Os Vizinhos de Cima"



A peça “Os Vizinhos de Cima, em cena no Teatro Villaret, é uma acutilante comédia que retrata a vida de dois casais com estilos de vida opostos.

Da autoria de Cesc Gay, estes vizinhos levam-nos numa viagem cheia de bom humor e ironia, onde o sexo é o tema principal, mas também as tensões entre eles como vizinhos e as tensões dentro de um dos casais.

Fernanda Serrano e Pedro Lima convidam os vizinhos Ana Brito e Cunha e Rui Melo para um convívio caseiro, a partir daqui o desenrolar da história apresenta-nos a vida de muitos casais nos dias que correm.

Os primeiros pensam que são muito liberais mas o seu casamento está num ponto de ruptura iminente onde a comunicação, afecto e sexo são praticamente inexistentes.

Os segundos são dados a experiências sexuais mais ousadas, em consequência das quais o barulho acaba por incomodar os vizinhos mais conservadores.

Se este encontro começa com as regulares conversas de circunstância entre vizinhos, rapidamente se descontrola para conversas mais ousadas e provocantes mas também espelho de ambas as relações.

1h30 de peça em que o espectador é levado a rir, reflectir e deixar-se transportar para as vidas destes quatro personagens ímpares.



Como em qualquer experiência, ou espectáculo partimos sempre de algo pré concebido, uma ideia feita daquilo que nos espera.

Apesar de alguma expectativa quanto à peça e ao seu desenrolar, “Os Vizinhos de Cima” superaram tudo o que tinha em mente.

O trabalho dos actores é fantástico, o Pedro Lima apesar de ter um personagem mais sério consegue através do sarcasmo e da ironia levar-nos ás lágrimas.

Quanto a Fernanda Serrano, se ia com uma imagem negativa da actriz devido aos seus papéis na televisão, nesta peça é genial. A sua personagem é uma montanha russa de emoções nas quais acerta com uma pontaria milimétrica.

O timming que Rui Melo imprime ao seu personagem é incrível, e apesar de achar um personagem mais cliché, reconhecemos nele traços de muitas pessoas que já se cruzaram connosco numa ou outra altura da vida.

O papel Ana Brito e Cunha ganha maior dimensão com o aproximar do final da peça, servindo de chave para o desenlace um tanto ou quanto imprevisível.

Uma vez mais a Força de Produção consegue trazer casa cheia ao Villaret com esta peça, sessões atrás de sessões praticamente esgotadas com todo o mérito.

Esperemos que possam levar estes “Vizinhos de Cima” a mais partes do país e quem sabe um especial de televisão, porque deveria ficar para memória futura já que retracta um pouco da nossa sociedade actual.