Os Templários em Portugal
A história dos Templários é a mais oculta e mais difusa apresentada em livros, estudos ou romances que vemos na actualidade. Alguns estudiosos da matéria afirmam que eles eram uma sociedade envolta em grandes mistérios, estranhas simbologias, associados a mágicos, alquimistas e bruxos. No entanto a Ordem dos Templários, conhecida como os cavaleiros do Templo, devotados à defesa dos lugares santos da Palestina, foi fundada em 1119 por Hugo de Payens (1070 - 1136), um fidalgo francês da região de Champanhe, juntamente com mais oito cavaleiros companheiros do nobre militar Godofredo de Bulhão ou Godofredo de Bolhões (1058 - 1100), totalizando o número de nove: entre os quais Godofredo de Saint – Omer e o português Arnaldo da Rocha. Nove anos depois, em 1128, a Ordem dos Templários foi confirmada pelo Papa a pedido de S. Bernardo de Claraval (1090 - 1153), que lhe terá redigido as regras que foram aprovadas em 13 de Janeiro de 1123 no Concilio de Troyes no mesmo ano e lhe imprimiu o seu espírito, tendo para tal escrito um livro em louvor dos Templários. Esta foi a única Ordem fundada, não com o intuito de auxiliar peregrinos e doentes, mas sim para combater de forma radical os infiéis. Nos seus documentos oficiais designam-se com "Fratres militiae Templi ou Pauperes commilitones Christi Templique Salomonis" O rei de Jerusalém Balduíno II oferece-lhes para a sua sede uma ala do seu palácio situado na Mesquita El-Aksa, construída no lugar onde se situara o antigo Templo de Salomão, de onde tiraram o nome e oficializando a Ordem. A Ordem compreendia quatro classes: Os cavaleiros, os escudeiros, os irmãos leigos e os capelães e sacerdotes (chefes militares, sargentos, soldados, clérigos). Juravam consagrar a sua vida ao serviço de Deus, defender no temporal a fé cristã e os lugares santos e combater os seus inimigos, fazendo votos de pobreza, obediência e castidade. O santo abade Bernardo de Claraval descreve-os como "monges – cavaleiros de Deus", vivendo numa sociedade simples, sem mulheres, sem filhos, sem terem nada de próprio. Nunca estão ociosos, nem espalhados fora das suas casas, quando não estão em campanha contra os infiéis, reparam as vestes, armas e os arreios dos cavalos, ou estão ocupados em exercícios piedosos. Detestam os jogos e futilidades, não se permitem caçar e banham-se raras vezes, andam vestidos de forma desmazelada com a cara queimada pelo sol. Para o combate armam-se espiritualmente de fé e por fora de ferro, sem qualquer espécie de ornato e tendo as armas como único enfeite. Toda a sua confiança está no Deus dos exércitos e, combatendo pela sua causa procuram uma vitória certa ou uma morte santa e honrosa. As suas vestes brancas assim como os mantos, eram ornamentadas com uma cruz vermelha de quatro lados iguais, tal como os seus estandartes, que simbolizava a fé e protecção. O selo dos cavaleiros Templários tinha também ele um simbolismo, era constituído por dois cavaleiros montados no mesmo cavalo, o que significada a fraternidade, entre os cavaleiros tal como o seu voto de pobreza e o templo de Salomão. Enquanto viveram na Palestina, houve sempre uma rivalidade entre os Templários e os Hospitalários, que não poucas vezes se traduziu em lutas armadas que muito enfraqueceram as posições cristãs na Terra Santa. Após a queda de S. João de Acra em 1291 ambas as Ordens transferiram-se para Chipre que o rei de Inglaterra Ricardo Coração de Leão (1157 - 1199), tinha dado ao rei de Jerusalém. Essa rivalidade prolongou-se até à extinção da Ordem dos Templários pelo papa Clemente V a instâncias do rei de França Filipe IV o Belo (1268 - 1314). Os líderes Templários foram supliciados. E em 1314, o último grão-mestre, Jacques de Molay (1243 - 1314), foi queimado na fogueira em Paris. De acordo com a lenda, de dentro das chamas este amaldiçoou o rei Filipe IV e sua descendência, o papa Clemente V e o ministro Guilherme de Nogaret, afirmando estes seriam convocados perante o tribunal de Deus no prazo de um ano. De facto, todos os três morreram dentro desse prazo.
Mas enquanto os Cavaleiros do Hospital se conservavam no Mediterrâneo Oriental, os Templários, na linha da sua missão universal expandiram as suas implantações no Ocidente da Europa. A Ordem do Templo chegara ao Condado Portucalense ainda no governo de D. Teresa de Leão (1080 - 1130), mãe de D. Afonso Henriques (1109 - 1185), e condessa-rainha de Portugal, que lhes fizera, antes de 1126, a doação da vila de Fonte Arcada, actual concelho de Penafiel, data desse período a construção do castelo de Santa Maria da Feira que foi concedida à Ordem dos Templários. D. Teresa patrocinara ainda a instalação da Ordem em Portugal pela importante doação, em 1127, dos castelos de Soure e de Pombal, na linha do rio Mondego, sob o compromisso de colaborar na conquista de terras aos Muçulmanos. Os seus templos constituíam verdadeiras fortalezas, inexpugnáveis, que subsistem ainda hoje em Portugal. Foi principalmente na Península Hispânica, e em particular em Portugal, nas campanhas de reconquista contra os árabes, que os Templários mantiveram a sua acção de luta pela propagação da fé cristã. Atendendo a que em França e na Inglaterra não tinham as mesmas condições, dedicaram-se sobretudo às actividades financeiras, o que os tornou odiosamente vítimas da inveja dos grandes senhores feudais e mesmo de Reis. Para tal, contornavam as disposições da igreja que proibiam os cristãos de exercer tal actividade. Foram até banqueiros do papa, de Reis, de príncipes e de particulares. O seu grande poderio financeiro colocou-os mais tarde em conflito com a maioria dos soberanos, ao pretenderem estes defender os seus interesses e dos seus vassalos, que com arrogância cobiçavam as suas riquezas, denunciavam publicamente às mais altas instâncias eclesiásticas, a duvidosa origem lícita dos bens dos Templários. Por assim dizer, eram um estado dentro doutro estado, que originavam muitas vezes graves perturbações de prosperidade económica no entender dos ditos soberanos. Os Templários na Península Ibérica tiveram uma actuação benemérita que foi reconhecida e recompensada pelos Reis com benefícios importantes. Estavam isentos de impostos e da jurisdição episcopal como os censos eclesiásticos gerais. Ao contrário do que ocorria em França e na Inglaterra, na Península Ibérica os Reis concediam-lhes privilégios e doações de territórios muitos dos quais situados nas fronteiras, de preferência em zona de combate e de vanguarda cristã contra os árabes.
Na saga do rei D. Afonso Henriques, pela conquista das terras que formariam o reino de Portugal, os Templários ajudaram em grande parte com os seus conhecimentos militares e com a força dos seus sacerdotes soldados. Em 15 de Março de 1147, estão ao lado do primeiro rei português nos combates intensos que culminaram nas conquistas de Santarém e Lisboa aos mouros, que assegurariam a extensão das fronteiras portucalenses nas áreas da linha do Tejo. Como recompensa pela ajuda à vitória contra os Muçulmanos, o rei D. Afonso Henriques fez-lhes doações do eclesiástico das terras libertadas. Em 1159, D. Gualdim Pais (1118 - 1195), era o mestre da ordem em terras portucalenses. É nesta época que os Templários recebem o castelo de Ceras, muitas vezes confundido com o castelo de Tomar, e todas as terras a ele adjacentes, num vasto território que ia do rio Mondego ao rio Tejo, correndo pela linha do rio Zêzere. São instalados na região por doação hereditária daquele ano, concedida por D. Afonso Henriques. O castelo de Ceras foi entregue aos Templários em ruínas, o que levou D. Gualdim Pais a decidir edificar uma nova fortaleza na colina sobranceiro às margens do rio Nabão. A edificação da fortaleza foi iniciada em 1 de Março de 1160, na colina situado do lado direito das margens do Nabão. Na mesma época, iniciou-se a construção da Charola, posteriormente adaptada a Capela-mor, uma das edificações templárias mais importantes no Ocidente. A partir de então, deu-se o princípio da vila de Tomar, que se desenvolveu ao redor dessa colina. Mediante a grandes doações régias, os Templários passaram a ser donos de uma grande fortuna no jovem reino de Portugal. A sua expansão prosseguia, em 1165 recebiam mais territórios e construindo e reedificando castelos como o de Castelo Branco, Nisa, Idanha - a - Velha, Penha Garcia e de Monsanto. A partir de 1169, passaram a receber como doação, a terça parte de tudo que viessem a conquistar além do Tejo. Ainda naquele ano, foram confirmadas a posse da ordem aos castelos da Cardiga (na foz do rio Zêzere) e de Tomar. Por esta ocasião, o castelo de Almourol, uma fortaleza situada numa ilha escarpada no meio do rio Tejo, e conquistado aos árabes em 1129, foi entregue aos Templários, que o reedificou, fazendo com que assumisse a beleza arquitectónica que se vê na actualidade. No reinado de D. Sancho I (1154 - I211), o emir do Magrebe, Ibne Iuçufe, empreende um grande cerco ao castelo de Tomar. O cerco aconteceu a 13 de Julho de 1190, mas foi malogrado pela habilidade belicosa dos Templários, que defenderam com eficácia o reino. Desde então, a presença dos cavaleiros da ordem tornou-se indispensável em todo território português, formado na sua maior parte, por terras conquistadas aos mouros. Os cavaleiros garantiam a conquista desde a linha do Mondego ao Tejo. Em agradecimento a esta protecção, aumentavam as doações à ordem, vindas de particulares ou de cartas régias. Além de garantir a posse das terras, os cavaleiros ajudavam na fomentação dos povoamentos das regiões que defendiam. Devido a vicissitudes várias e a factores que ainda hoje carecem de explicação cabal, a Ordem do Templo foi, há sete séculos, depois de quase duzentos anos de existência, submetida a um processo trágico que levou à sua extinção. Foram e continuam sendo várias as teorias a respeito dos tesouros encontrados pelos Templários e uma delas é que os verdadeiros não foram os artefactos do Templo, mas sim relíquias que pertencem a Jesus Cristo, incluindo os seus ossos, o Santo Graal, entre outras relíquias.
A Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo originalmente era uma ordem religiosa e militar, criada a 14 de Março de 1319 pela bula pontifícia Ad ea ex-quibus do Papa João XXII, que, deste modo, atendia aos pedidos do rei D. Dinis I (1261 - 1325). Recebeu o nome de Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo e foi herdeira das propriedades e privilégios da Ordem do Templo. No mês de maio desse mesmo ano, numa cerimónia solene que contou com a participação do Arcebispo de Évora, do Alferes-Mor do Reino D. Afonso de Albuquerque (1453 - 1515) e de outros membros da cúria régia, o rei D. Dinis ratificou, em Santarém, a criação da nova Ordem. Foi-lhe então concedida como sede o castelo de Castro Marim, no entanto em 1357 já a sede tinha sido instalada no castelo de Tomar, anterior sede Templária. Foi assim criada a Ordem de Cristo em Portugal designada de Ordo Militiae Jesu Christo pela bula Ad ae exquibus de 15 de Março de 1319. Em Portugal, os bens dos Templários ficaram "reservados" por iniciativa do rei, transitando para a coroa entre 1309 e 1310, enquanto decorria o processo, não sem que o monarca rejeitasse o administrador Estêvão de Lisboa, nomeado pelo papa Clemente V. Esses mesmos bens passaram indemnes para a nova congregação em 26 de Novembro de 1319, sendo que o papa concedera a excepção aos reis de Castela e Leão, Aragão e Portugal, que se coligaram para contrariar a execução da medida que ordenava a sua transferência para a Ordem do Hospital. Foi feito por Carta Régia em Santarém, a 26 de Novembro da era de 1357 (15 de Novembro de 1319), se mandou fazer a entrega a D. Gil Martins, 1º Mestre da Ordem de Cristo, de todos os bens, rendas e direitos que foram da Ordem do Templo, tanto Espirituais, Temporais, e dívidas. A nova Ordem surgia, assim como uma reforma dos Templários. Tudo mudou, para ficar mais ou menos na mesma, o hábito era o mesmo, a insígnia também, com uma ligeira alteração, e os bens, transmitidos pelo monarca, correspondiam aos bens Templários. O momento fundamental para o futuro da Ordem surge com a nomeação do Infante D. Henrique (1394 - 1460), Duque de Viseu, como "governador e administrador". O célebre Infante, senhor de grande parte das terras do Reino, não podia fazer voto de pobreza, tendo por isso sido criado o novo cargo. Sendo função do Infante a administração dos bens da Ordem, não surpreende a utilização dos seus importantes recursos no grande desígnio nacional que eram então os Descobrimentos. A Cruz de Cristo, símbolo da Ordem, conquistou os mares desconhecidos, erguida nas velas das caravelas portuguesas, tornando-se um dos mais reconhecidos símbolos nacionais. A 11 de Junho de 1421, um capítulo reunido em Tomar adoptou como regra da Ordem de Cristo a da Ordem de Calatrava, o que resolvia quaisquer pendências de natureza espiritual e de obediência, mantendo-se na esfera da cavalaria. Quando Portugal perde a sua independência, em 1580, o rei espanhol Filipe II (1527 - 1598), herdeiro do trono português como Filipe I, torna-se também mestre da Ordem de Cristo, assim como os monarcas espanhóis que lhe sucederam. Com a restauração da independência de Portugal em 1640, o novo rei português, D. João IV (1604 - 1656), restabelece o ramo da cavalaria na Ordem de Cristo com uma original inovação: Os novos cavaleiros advêm irmãos religiosos seculares da Ordem. Estes viviam fora do convento com as suas famílias e tinham uma regra especial para a sua vida secular. A missão destes cavaleiros era principalmente de lutar na guerra da Restauração. O carácter de cavaleiros religiosos laicos é definitivamente consagrado em 1779 pela reforma da rainha D. Maria I (1734 - 1816). Em 1834 com a extinção das ordens religiosas masculinas a Ordem de Cristo é extinta, mas a rainha D. Maria II (1819 - 1853), decide manter a Ordem de Cristo enquanto Ordem Honorifica. A Ordem de Cristo mantêm actualmente essa dignidade sendo o seu Grão-Mestre o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa. A influência e importância dos Templários em Portugal foi de tal forma que a Ordem de Cristo é a última e única réstia sucessora que ficou desta Ordem religiosa, sendo Portugal o único pais esta herança secular. A Cruz da Ordem de Cristo ou Cruz de Portugal é o emblema da histórica Ordem de Cristo, que desde então tornou-se um símbolo intrínseco a Portugal. Foi usado, por exemplo, nas velas das naus do tempo dos Descobrimentos e na actualidade é usado pela Força Aérea Portuguesa, nos navios da Marinha Portuguesa, na bandeira da Região Autónoma da Madeira e em mais brasões de cidades portuguesas, insígnias, símbolos e emblemas de clubes portugueses.
Publicação feita ao abrigo do acordo de partilha de conteúdos entre o blogue "Histórias com História" e o site "Cultura e Não Só".
Texto:
Paulo Nogueira
Fontes e bibliografia:
LOUÇÃO, Paulo Alexandre. Portugal esotérico. Volume I: Os Templários na formação de Portugal. Lisboa: Ésquilo, 2009
OLIVEIRA, Nuno Villamariz. Castelos Templários em Portugal, Edições Ésquilo, 2010, Lisboa
SILVA, Freddy, Portugal - A Primeira Nação Templária, Edição Alma dos Livros, 2018, Lisboa