Se há um autor na história da música popular portuguesa do século XX que não tem tido o devido e justo reconhecimento é, sem dúvida, Luís Cília.
Daí que, em boa hora, Octávio Fonseca – autor de livros sobre José Afonso, José Mário Branco ou Carlos Paredes – tenha decidido contar a história do percurso deste músico e compositor que, juntamente com José Afonso e Adriano Correia de Oliveira, foi um dos precursores da balada de conteúdo político antifascista no nosso país.
No presente livro, a obra musical de Luís Cília é avaliada e discutida através dos seus discos, com reporte às críticas e entrevistas publicadas na imprensa, bem como aos episódios mais relevantes da sua carreira musical, incluindo entrevistas que concedeu ao longo do seu percurso.
Tudo é explanado seguindo uma linha cronológica, de modo a proporcionar uma perspetiva sequencial da sua vida artística, sem a fragmentar por áreas de atividade. Os discos surgem naturalmente no tempo em que foram lançados, enquadrados nos diversos eventos que fazem esta história da vida musical de Luís Cília.
A narrativa está dividida pelos locais em que o músico viveu, sendo que cada uma das partes se divide em capítulos, respeitantes aos discos que editou e aos eventos relevantes da sua carreira.
O livro apresenta também importantes depoimentos de figuras relevantes da cultura portuguesa e internacional, como Rui Pato, Jorge Sampaio, José Mário Branco, Sílvio Rodriguez, Manuel Alegre, Paco Ibañez, ou José Saramago.
Esta edição inclui ainda 11 CD, dos quais 10 com a discografia completa de Luís Cília, e um CD extra com os temas de bandas sonoras, compostas pelo músico entre 1967 e 2022.
Sobre Luís Cília
Luís Cília é um cantor de intervenção que, no exílio em França, denunciou a guerra colonial e a falta de liberdade em Portugal.
Em 1959 veio de Angola para Portugal, para prosseguir os estudos. Em 1962 conheceu o poeta Daniel Filipe que o incentivou a musicar poesia. Datam desse ano as suas primeiras experiências nesse campo ("Meu país" ou "O menino negro não entrou na roda"), mais tarde incluídos no seu primeiro disco, gravado em França, para a editora Le Chant du Monde. Em Abril de 1964 partiu para Paris, onde viveu até 1974.
Em França estudou guitarra clássica e composição. Entre 1964 e 1974 realizou recitais em quase todos os países da Europa.
Após o seu regresso a Portugal, continuou a gravar discos, como compositor e intérprete, e a realizar recitais. Como intérprete, gravou dezoito álbuns, alguns dos quais dedicados a poetas, como Eugénio de Andrade, Jorge de Sena ou David Mourão-Ferreira.
Nos últimos anos tem-se dedicado apenas à composição, nomeadamente para Teatro, Bailado e Cinema.
A 9 de junho de 1994, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade.