terça-feira, 12 de novembro de 2024

Um estudo magistral e inovador sobre a essência do que significa ser-se espanhol ou português



«Por que razão os mercadores cristãos-novos, descendentes dos judeus que haviam sido forçados a converter-se ao cristianismo, na Península Ibérica, entre 1391 e 1497, têm uma ascensão que os leva a desempenhar um papel fundamental no comércio intercontinental, nos dois séculos seguintes, para depois entrarem em declínio e desaparecerem praticamente como uma elite étnica, em meados do século XVIII?». É com esta questão que o autor começa a sua introdução e descreve- a como a linha que orienta o livro. Seguem-se 650 páginas de uma história contada de forma cronológica, dividida em quatro partes e com o apoio de imagens, mapas, um glossário e notas.

A King’s College em Londres, universidade onde Francisco Bethencourt dá aulas, descreve-o como «um dos principais historiadores do mundo lusófono». Para esta obra o autor desenvolveu um trabalho de investigação que passou por seis países e 18 arquivos.

Francisco Bethencourt estima que existiam cerca de 260 mil cristãos-novos em 1500, mais de metade da população urbana da Península Ibérica. A maioria deles permaneceu na Ibéria, mas um número considerável viajou para a Europa, África, Médio Oriente, o litoral asiático e o Novo Mundo, tendo estabelecido comunidades sefarditas no norte de África, Império Otomano, Itália, Amsterdão, Hamburgo e Londres. Bethencourt centra-se na elite de banqueiros, financeiros e mercadores entre os séculos XV e XVIII e no papel crucial deste grupo no comércio global e nos serviços financeiros. Analisa o seu impacto na religião (por exemplo, com Teresa de Ávila), pensamento jurídico e político (Las Casas), ciência (Amatus Lusitanus), filosofia (Spinoza) e literatura (Enríquez Gomez).

«Com frontalidade, Bethencourt aborda um tópico complexo e divisivo. Os especialistas ficarão deslumbrados com a sua exposição sábia e abrangente. Todos os leitores encontrarão as pistas para um debate académico urgente sobre as primitivas e variadas manifestações do pensamento racializado.» Francesca Trivellato, Institute for Advanced Study, Princeton

O livro Estranhos na Sua Terra será apresentado no dia 27 de novembro, às 17h30, na Biblioteca Nacional da Portugal. A apresentação estará a cargo dos Professores Leonor Freire Costa (ISEG), José Pedro Paiva (FLUC) e José Alberto Tavim (FLUL). A sessão será presidida pelo Professor Diogo Ramada Curto, diretor da Biblioteca Nacional de Portugal. 

A obra chega às livrarias a 14 de novembro. 

Sobre o Autor

Francisco Bethencourt é titular da cátedra Charles Boxer de História no King's College de Londres. É autor de História das Inquisições – Portugal, Espanha e Itália (Círculo de Leitores, 1994) e Racismos – Das cruzadas ao século XX (Temas e Debates, 2015) e coordenador de História da Expansão Portuguesa (com Kirti Chaudhuri, 5 volumes, Círculo de Leitores, 1998-1999), Correspondence and Cultural Exchange in Europe (2007) e Racism and Ethnic Relations in the Portuguese-Speaking World (2007). Foi diretor do Centro Cultural Gulbenkian em Paris (1999-2004) e da Biblioteca Nacional de Portugal (1996-1998). 
De Francisco Bethencourt a Temas e Debates publicou Racismos – Das cruzadas ao Século XX (2015).