Os visitantes do Casino Lisboa podem observar, até 12 de Setembro, a exposição In at the Deep End, “ORCA”, Xico Gaivota por Ricardo Ramos. Sob a curadoria de Ana Maria Catarino-Doria, esta mostra individual está patente no amplo espaço da Galeria de Arte, estando a suscitar, desde a sua inauguração, um expressivo interesse do público. A entrada é livre.
A original peça escultórica foi construída com diferentes materiais recolhidos pelo artista em praias não concessionadas, tais como chinelos, redes, plásticos, madeira, alcatruzes (armadilhas para polvos), esponjas, esferovite, "bidons", bóias, cordas e parafusos em inox.
É quase impossível ignorar os factos e as implicações do aquecimento global na mudança climática hoje. Ao lidar com esse assunto e com o objetivo de interpretar o que ele significa e suas implicações, não há melhor maneira de fazê-lo como expressarmo-nos através da arte. Um dos temas da Bienal de Veneza de 2019, fez exatamente isso exibindo um número de artistas e países. A exposição da artista mexicana Renata Morales, "Invasor" e "Plastic Reef" de Federico Uribe, foram uma gota no oceano, tanto quanto a criação de consciência sobre este assunto.
Fundamentalmente, a arte reciclada é sobre o reaproveitamento de materiais e conservação da natureza. Há uma mensagem subjacente na arte reciclada. A chave é reciclar, mas ao mesmo tempo a mensagem que esta arte envia são as consequências dos danos que estamos a infligir ao nosso planeta.
In at the Deep End é uma exposição que foca numa obra de arte específica do artista Ricardo Ramos. Enquanto nós, espectadores, apreciamos esta escultura, devemos nos questionar se alcançamos o ponto de não retorno ou se ainda há esperança?
“Orca” é uma expressão da relação muito especial que Ricardo compartilha com o mar, do seu desejo de reinventar esse plástico regurgitado e de reutilizar materiais para criar algo novo. Sua criatividade e talento, assim como sua paixão, transcendem suas obras e ele é capaz de nos trazer a arte que prezamos e valorizamos e será uma lembrança do que está a acontecer com o mundo.
Sobre Ricardo Ramos
Ricardo Ramos nasceu em 1978, na cidade de Lisboa. A sua relação com o mar vem de sempre. Inicialmente, de forma lúdica, através da exploração das arribas, das rochas e de todos os esconderijos encantados que só a comunhão do mar e da terra proporcionam, e, mais tarde, a dedicação a alguma fauna marítima que o transformou em pescador e mariscador.
A afinidade com o mar ganhou uma carga afetiva que impeliu Ricardo a proteger incondicionalmente a grande superfície de água salgada dos ataques que lhe são infligidos diariamente. Para atingir esse fim, escolheu subir e descer as arribas (mesmo aquelas que julgamos intransponíveis), calcorrear os trilhos ou caminhar exaustivamente pelos areais, sempre com o objetivo de recolher toda a matéria plástica, e outras tantas, que o mar vai devolvendo à areia. Ricardo sabe que aquilo que não recolher voltará a ser engolido pelas marés e tem consciência plena que esse vai e vem terá custos elevados para os oceanos.
Xico Gaivota começou por ser um desafio. Para Ricardo Ramos, o seu mentor, tratava-se apenas de um jogo simples, familiar e contido, que experimentou exercitar com os seus filhos. Recolhiam todo o plástico que encontravam nas praias e fabricavam com a matéria-prima obtida presentes que ofereciam nas épocas festivas. O desafio teve sucesso, os miúdos encantaram-se e os presentes foram entregues.
Ricardo transformou o desafio em projeto de vida. Guiou-se por uma vontade genuína em proteger o planeta e dedicou o talento que lhe inato a uma conceção artística muito especial que utiliza unicamente aquilo que comummente se designa como lixo de plástico. (…)E ao transformar lixo em Arte, Ricardo desencadeia a regeneração do ciclo natural das coisas. Devolve-nos alento. Desperta-nos a criatividade. Entrega-nos a vontade de querer ser melhor. Mariana Castro Henriques (Diretora do Museu da Água)
É de registar, ainda, que as qualidades artísticas de Xico Gaivota (Ricardo Ramos), estarão, também, em destaque no Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras, em Lisboa. RETHINK | xicogaivota, por Ricardo Ramos estará patente de 4 de Julho a 6 de Outubro.
Sobre a curadora Ana Maria Catarino-Doria
Ana Maria Catarino-Doria é licenciada em arqueologia pela Universidade de Londres, UCL. Ela tem uma vasta experiência nas áreas de museologia e curadoria, tendo trabalhado no Centro Têxtil Antonio Ratti, no Museu Metropolitano de Arte de Nova York e no Departamento de Informação Pública das Nações Unidas em Nova Iorque. Foi Vice-diretora do Museu de Macau há uma década, e curadora consultora de outros museus de Macau. Atualmente é Curadora da Galeria de Arte, do Casino Lisboa tendo curado mais de 110 exposições e, igualmente, ocupando o cargo de Assessor da Direção.