Nos seus tempos de cônsul em Inglaterra e França, Eça de Queirós endereçou a Ramalho Ortigão algumas cartas sobre um romance que tencionava escrever, prevendo o seu êxito retumbante e deliciando-se com o escândalo que provocaria na sociedade portuguesa, que detestaria ver a Pátria retratada como uma nação miserável à boleia do mundo e humilhada por uma invasão espanhola, mesmo que isso acabasse por regenerá-la. É a partir dessas cartas e de um conto que Eça deixou incompleto (A Catástrofe) que Mário Cláudio constrói o presente romance, colocando, aliás, no centro da intriga, o escritor oitocentista lutando quotidianamente com as angústias da criação literária. Mas, se em vida a obra ficou pelo caminho, na ficção ela vai-se cumprindo página a página, para gáudio dos leitores que, assim, poderão assistir aos últimos vinte anos da vida de Eça, doente e cansado como o seu Portugal decadente, e à grande prosa de Mário Cláudio que, dialogando magistralmente com a obra queirosiana, nunca corre o perigo de se deixar contaminar.
Nas livrarias a 27 de Agosto