O professor Carlos Neto é um dos maiores especialistas mundiais na área da brincadeira e do jogo, e as suas entrevistas costumam ser lidas por larguíssimos milhares de pessoas. No entanto, tirando duas obras de cariz académico lançadas no começo dos anos 80, nunca havia – ao longo de 50 anos de percurso como professor universitário – publicado um livro para o chamado grande público. Ele agora aí está, publicado pela Contraponto, prometendo afirmar-se como imprescindível durante as próximas décadas tanto para pais, como para educadores e professores.
Intitula-se Libertem as Crianças e, afirmando a urgência de as crianças brincarem e serem ativas, faz uma síntese de tudo o que este professor catedrático acabado de se jubilar foi aprendendo sobre e com as crianças. O prefácio é de Gonçalo M. Tavares.
Do protagonista da entrevista mais lida e partilhada de sempre em Portugal
O professor Carlos Neto é o protagonista da entrevista mais lida e partilhada de sempre em Portugal. Corria o ano de 2015 e o então catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa afirmava, ao Observador: «Estamos a criar crianças totós, de uma imaturidade inacreditável». Esta declaração tornou-se viral e fez o País acordar para a situação dramática das crianças de hoje.
Em Portugal, escola e modelo de aprendizagem estão ultrapassados há muito, mas é lá que as crianças passam a maior parte do dia, fechadas dentro das salas de aula. Os períodos de recreio são cada vez mais curtos e os espaços de brincadeira padronizados, aborrecidos e pouco desafiantes. O trajeto casa-escola-casa, que antes era feito a pé juntamente com os colegas, passou a ser feito de carro. Os nossos filhos quase nem têm tempo para brincar, apenas aqueles minutos que se conseguem encaixar na agenda, por entre as inúmeras atividades extracurriculares.
Fora da escola, não os deixamos brincar ao ar livre e fechamo-los em casa, numa redoma almofadada dominada pelo poder sedutor e anestesiante dos ecrãs. A rua, que desempenhou um papel determinante nas nossas infâncias e na nossa formação como adultos, tornou-se território proibido para os nossos filhos.
Crianças de três anos queixam-se de que estão cansadas ao fim de vinte minutos de brincadeira. Outras, aos sete anos, são capazes de programar em computador mas não sabem atar os sapatos. Quase metade das crianças do 2.o ano do 1.o ciclo não consegue dar uma cambalhota.
É inegável: as nossas crianças brincam e mexem-se cada vez menos. O analfabetismo motor tornou-se um problema gravíssimo. Ao queremos superprotegê-las daquilo que entendemos ser perigoso, estamos a comprometer o seu desenvolvimento e a impedi-las de se tornarem adultos funcionais, tanto em termos físicos, como cognitivos.
Em Libertem as Crianças — A urgência de brincar e ser ativo, o professor Carlos Neto apresenta-nos as estratégias para invertermos esta situação potencialmente catastrófica e devolvermos a magia da infância aos nossos filhos. Só assim poderemos ter adultos felizes e saudáveis.