Fevereiro é mês de Rescaldo na Culturgest, altura em que reunimos os projectos que mais se evidenciaram na cena musical de vanguarda nacional – nos mundos da electrónica, da livre improvisação e das tangentes, ao vasto espectro do rock e do jazz – ao longo do ano anterior.
Esta edição – a 10.ª – reforça a sua ligação à Culturgest, regressando não só ao Pequeno Auditório da Fundação, mas também à Garagem, usada pela primeira vez no festival do ano passado. O Rescaldo aventura-se ainda, pela primeira vez nestes 10 anos, numa incursão ao carismático espaço arquitectónico e acústico do PANTEÃO NACIONAL, no qual a trompetista Susana Santos Silva actua pela primeira vez num solo absoluto.
No programa constam, como tem sido cunho do festival, desafios particulares lançados a autores com percursos vincadamente próprios e sem receio de arriscar saídas das suas zonas de conforto – casos do solo de piano do músico Marco Franco (até à data reconhecido pelo seu trabalho como baterista), da colaboração entre o dinamarquês Paal Nilssen-Love e o histórico David Maranha, ou da formação inédita do fulgurante guitarrista e compositor Bruno Pernadas, a procurar assumir os caminhos da improvisação livre a partir do manancial de referências que tornam a sua música uma celebrada e complexa aventura no actual panorama luso.
Mostramos projectos recentes – Live Low e a sua portugalidade sem forma nem filtro; Älforjs e o minimalismo hipnótico, ritualista, neo-xamânico, de influência africana – e projectos de sempre – Bruno Silva, ou seja Ondness, fundador do duo Osso, uma das figuras mais criativas da cena musical independente lisboeta; Luís Lopes, guitarrista da franja experimental do jazz, conhecido pelos lacerantes noise solos, que vem apresentar ‘Love Song’, disco do ano passado, surpreendente, magistral passo em frente no percurso do músico – num só festival.
O experimentalismo no feminino é outras das marcas deste décimo Rescaldo: para além da supracitada Susana Santos Silva, constam no programa actuações da incontornável Ana Deus, da incisiva Jejuno, e das cada vez mais únicas Pega Monstro, numa prova de que a diversidade – todo o tipo de diversidade – é cada vez mais a norma nestas músicas maravilhosamente inclassificáveis que vos convidamos a apreciar.