“Chain Of Events”(COE) foi uma experiência colaborativa entre música e voz. Danny e Moritz (Foreign Poetry) costumavam falar, depois das suas sessões no estúdio, sobre loucura aleatória - farsa política, desobediência, guerras com fins lucrativos, notícias no geral, o que é preciso para ser membro de um clube, o que é preciso para conquistar uma rapariga, Londres, diferenças culturais, corrupção corporativa, vaidade, comportamentos politicamente correctos - todas as coisas do mundo que vão para além da música. Muitas vezes, depois de voltarem para as suas respectivas cidades, uma música chegava. COE funcionou dessa maneira. Moritz trabalhava na instrumentalização e enviava para o Danny que escrevia as letras por cima e colocava a sua voz. Depois seguia de volta. Este trabalho dos dois estava sempre na mesma página, mesmo que a linguagem fosse desconhecida. Na vez seguinte que se juntavam em estúdio desenvolviam um pouco mais a música e começavam a misturá-la.
COE é sobre uma civilização desenfreada, sobre dissonância cognitiva, propaganda, medo e tensão, circunstâncias cíclicas que se transformam em caos, passividade culpável, histeria em massa. É também sobre a quantidade de desinformação, preconceito e emoção que alimenta estes tempos. Tempos que a velocidade da progressão introduz uma utopia / distopia digital, onde a indignação sobre as redes sociais é feita apenas pelas redes sociais, onde a preocupação com o ambiente social e natural é transmitida por meio de um iPhone.
A máquina está com um trabalho pesado. Cada dia que passa somos menos humanos. Somos dados. Parece muito pior do que parece, e quando se olha pela janela percebemos que é mesmo. As contradições estão no seu momento mais alto. Às vezes, no momento em que se passa a reconhecer algo, essa mesma coisa que se reconheceu desaparece. Não precisava de arranjo, só precisava de consciência. Algo que se pode aplicar num nível pequeno, mas que também é um enigma que se parece cada vez mais com a chave medicinal num nível macro, para fazer desacelerar esta locomotiva da civilização e, possivelmente, redirecionar seu destino. A internet abriu uma gigantesca quantidade de informações ao mesmo tempo que tentamos descobrir tudo - mas isso só é mais confuso e mais incerto.
“Chain Of Events” é sobre a história do mundo e a psique humana, como eles estão inseparavelmente relacionados um com o outro, como repetimos os erros da história, mesmo quando vemos tudo acontecer no nosso caminho outra vez. Parece que há um aviso superficial que é sempre levado a sério, mas raramente são os eventos e situações que precedem um evento histórico famoso. A ciência moderna diz-nos que tudo se move em espirais. Esta música é sobre isso também. Nada nunca permanece o mesmo, mas tudo é repetido.
Tínhamos a intenção de fazer um videoclipe para esta música com algo que fosse real, visualmente cru, historicamente relevante, algo que encapsulasse a estrutura que nos permitiu chegar a essa vida privilegiada de futurismo e pronunciada inércia. As filmagens foram tiradas de partes de Why We Fight de Frank Capra - uma série de vários filmes de propaganda usados com o objetivo de persuadir o público americano a apoiar a guerra. São imagens incríveis, de um tempo incrível, onde havia tudo a perder e a segurança das pessoas estava em constante vulnerabilidade. Gostamos do quão importante é este footage, gostamos que signifique algo. Nascemos em 1986 e é difícil entender que esta série de filmes é de facto real, que aconteceu realmente. E que foi filmado, com câmeras, algumas em 1918.
Nos dias que correm, a cultura parece ser escapista num sentido puramente distrativo, o que é bom até certo ponto, porque há muito prazer nisso, mas o equilíbrio está muito distante. Por exemplo, Childish Gambino fez uma coisa muito interessante e instigante com ‘This Is America’, mas ele foi reacionário e funcionou de acordo com o consumo de notícias. Normalmente, os videoclipes são uma forma de arte que está em constante progressão e a crescer na sua própria arte. O que falta são coisas como a instrução, epifanias, devoção e respeito. O que às vezes falta é uma memória.
Desde Londres, os Foreign Poetry emergiram no início de 2018 e são a conclusão de uma parceria de estúdio onde a experimentação e a mistura deram origem a um álbum. Usando variadas texturas e arranjos, melodias vocais com raízes folclóricas e uma crua vulnerabilidade, o produtor Moritz Kerschbaumer e o cantor/compositor Danny Geffin entregam a este álbum de estreia um trabalho relevante, provocador, rico e até um pouco austero. Conseguem atingir enormes paisagens sonoras e orquestrações complexas, como também grooves mais descontraídos que afastam parte da instrumentação em favor de uma narrativa lírica mais simples. Em cada canto do disco há uma nuance para ser descoberta na qual a banda constrói um mundo possível para se perder. Com uma espécie de álbum conceptual, abordam uma variedade de noções abstratas mais amplas, como também mais incisivas - às vezes de passagem, às vezes como coda central. Há também espaço para o universo pessoal, as complexidades da vida e das relações humanas.
Citando Danny:"Há partes do álbum que se preocupam mais com as minúcias do nosso mundo interior, e outras com a cacofonia global de um progressismo não regulado, a morte das nuances, a negligência ambiental e o fim dos Impérios. No inicio não estávamos muito certos para onde íamos, mas o resultado foi uma exposição sincera, tanto como lembrete de algo mais humano e humilde, que às vezes pode ser esquecido, como uma crescente preocupação pela contínua falta de propósito e ligação evidentes através da expansão de um caos globalizado. É como se fosse o melhor momento para se estar vivo, mas porque não o sentimos dessa forma?"
Grace and Error on the Edge of Now é um disco rock-psicadélico sem rock nem psicadelia - talvez seja antes mais próximo de folk ou anti-pop. Com referências como Arthur Russell, The National, Lambchop e Future Islands, há diferentes estilos ao longo do álbum, assim como diferentes universos temáticos, somando-se numa meditação sobre a conexão espiritual, se a noção de fé tem um valor funcional na nossa evolução, o impacto da conveniência tecnológica na condição humana, a disseminação da informação à medida que informa e monitoriza uma aparente mudança na nossa consciência humana, a doutrinação da juventude e o processo de ultrapassar a fase da adolescência.
O álbum será lançado dia 20 de Setembro pela Pataca Discos. Produzido e gravado pelos Foreign Poetry no Elephant Ear em Londres e no Studio 15ª em Lisboa. Misturado por Luís 'Benjamin' Nunes e Moritz Kerschbaumer. Masterizado por Tiago de Sousa. Todas as canções foram escritas e arranjadas pelos Foreign Poetry.
Sobre os Foreign Poetry
Os Foreign Poetry são Danny Geffin e Moritz Kerschbaumer. Danny é inglês, Moritz austríaco e ambos tocam vários instrumentos e escrevem canções. Conheceram-se em Londres, durante o verão de 2011, quando tocavam em projetos diferentes mas se cruzaram na mesma noite no The Ritzy, em Brixton - Moritz com Luís Nunes, mais conhecido por (Walter) Benjamin e Danny como metade dos Geffin Brothers. Moritz e Benjamin produziram o EP homónimo destes últimos e acabaram por tornar-se autónomos e tocar regularmente juntos numa banda de quatro elementos. Depois de alguns obstáculos e decisões de vida, as bandas separaram-se e seguiram a sua vida.
Os Foreign Poetry nasceram na produção de um EP de material de Danny, que nunca chegou a ser editado, resultado de muitas horas de trabalho com Moritz. Um dia, no inverno de 2016, Moritz envia a Danny duas ideias para canções nas quais andava a trabalhar e este retribui dias depois devolvendo-as cheias de ideias novas. Este encontro tornou-se num hábito, as ideias de ambos começaram a andar para trás e para a frente e ao fim de 12 meses neste sistema de trabalho, com alguns dias passados no estúdio por mês, destas canções nasceu uma continuidade e um caráter próprios. E a forma de um disco tornou-se evidente. A última peça no puzzle foi o polimento destas sessões nos estúdios da Pataca Discos, em Lisboa, onde o disco ganhou novas e belas texturas. E a magia que alguns amigos músicos acrescentaram na gravação: Anna Louisa Etherington (violino), Alice Febles Padron (coros), Luís (W. Benjamin) Nunes (bateria, percussão e coros) e Tony Love (bateria).