terça-feira, 21 de julho de 2020

Crónica Saúde - Joana Franco



Esta semana vamos abordar o tema: Esquizofrenia.
A esquizofrenia é uma doença crónica que afecta o pensamento, as emoções e o comportamento. Estima-se que possa ocorrer em 1% da população, surgindo normalmente entre o final da adolescência e o início da idade adulta.
Embora se desconheça a causa exacta da esquizofrenia, a maioria dos especialistas concorda que na sua origem está uma base biológica (ou genética) e o meio ambiente a que estamos expostos, nomeadamente nascimento traumático, complicações durante a gravidez e/ou infecções virais, entre outros. Outros factores ambientais como o stress, perder o emprego ou o abuso de substâncias químicas podem desencadear os primeiros sintomas de esquizofrenia. O uso de drogas, em particular os alucinogénios e cannabis, parecem ser, factores de risco para a esquizofrenia.
O diagnóstico é essencialmente clínico e baseia-se na presença de sintomas positivos e/ou negativos. Estes podem incluir delírios (ideias e pensamentos que apresentam conteúdos que para os doentes são verdade, como acreditar que é perseguido, filmado, que tem poderes especiais ou uma missão muito importante no mundo), alucinações (ouvir vozes que comentam o seu comportamento ou dão ordens, sem haver ninguém presente, sentir odores e sabores diferentes ou outras sensações tácteis), alienação do pensamento (sensação de que os pensamentos podem ser lidos, roubados, inseridos ou controlados por outras pessoas), passividade somática (sensação de estar a ser controlado), alterações do pensamento (bloqueio, respostas ao lado, etc.), alterações cognitivas (dificuldade de concentração e alterações da memória), falta de interesse e prazer nas actividades, isolamento social e dificuldade na expressão emocional.
A esquizofrenia evolui através de exacerbações e períodos de remissão. Como tal, é importante cumprir a terapêutica prescrita, para evitar o aparecimento de sintomas anteriormente descritos. O tratamento baseia-se no uso de medicamentos denominados antipsicóticos, que deverão ser escolhido de acordo com as necessidades do doente e o efeito terapêutico pretendido.
Os antipsicóticos regulam a acção de determinados neurotransmissores no cérebro, reduzindo assim, os efeitos causados pela libertação excessiva dos mesmos. A acção terapêutica destes fármacos desempenha um papel crucial no tratamento da esquizofrenia.
O projecto terapêutico pode envolver também a psicoeducação, psicoterapia individual, grupos de apoio, terapia familiar, psicoterapia cognitiva-comportamental ou treino de capacidades sociais ou vocacionais.

As intervenções psicossociais têm como objectivo a reinserção social, vocacional e laboral dos doentes e ajudar as famílias neste processo.
SINTOMAS INICIAIS
Os sintomas precoces da esquizofrenia, também conhecidos como prodrómicos (do grego pròdromos = precursor), são aqueles que ocorrem meses a anos antes de um primeiro surto, não sendo  específicos da doença.
Em alguns casos, a doença surge de forma repentina mas, na maioria dos doentes, ocorrem sinais subtis e há um declínio gradual no funcionamento habitual do doente.
Alguns dos sintomas iniciais que poderão estar presentes são:
Isolamento social
Hostilidade ou desconfiança
Negligência dos hábitos de higiene
Diminuição da expressão emocional
Sintomas depressivos
Hipersonolência ou insónia
Discurso irracional ou bizarro
Dificuldade de concentração
Hiperactividade à crítica

SINTOMAS E SINAIS
Existem cinco tipos de sintomas característicos da esquizofrenia: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento desorganizado e sintomas negativos.
No entanto, estes sintomas são variáveis, tanto no padrão como na gravidade. Os sintomas acima descritos poderão não estar todos presentes e podem variar ao longo do tempo.

Delírios
Os delírios são muito comuns na esquizofrenia, estando presentes em 90% das pessoas com esta doença.
O doente pode criar uma realidade fantasiosa, na qual acredita plenamente a ponto de duvidar da realidade do mundo e das pessoas ao seu redor. O delírio pode ter diversas temáticas, inclusive no mesmo episódio. As mais comuns são a ideia de estar a ser perseguido por alguém, de ser observado ou de que as pessoas falam dele ou sabem de tudo que se passa na sua vida. Outras ideias irrealistas, como de temática religiosa, mística ou grandiosa também podem ocorrer. Menos frequentemente ocorrem delírios de culpa e de ciúme.
O delírio não é uma criação intencional da pessoa ou motivada por factores psicológicos ou de relacionamento. Na esquizofrenia, o delírio surge espontaneamente e invade e domina a consciência da pessoa. É comum, o doente sentir-se ameaçado ou amedrontado ou então, agir com alguma tensão, mas sem um propósito claro ou racional. O delírio  origina sofrimento e fragmentação da própria personalidade, como se a pessoa perdesse controlo da sua própria vida.

Alucinações
Outro sintoma igualmente importante é a alucinação. Os doentes podem ouvir ou ver coisas que não existem ou não estão presentes, como vozes a dialogar entre si ou que se referem ao próprio, insultando-o ou ordenando que faça alguma coisa. Podem ver vultos ou imagens de pessoas, personagens do seu delírio, com as quais é capaz de conversar e interagir. Há casos também de alucinações olfactivas (sentir cheiros estranhos), gustativas, tácteis (sentir choques ou como se bichos andassem no seu corpo) e dos órgãos internos (como por exemplo, sentir que os órgãos estão a ser puxados).
Assim como no delírio, o doente não tem controlo sobre as alucinações. Estas têm igual capacidade de dominar a consciência e influenciar o comportamento. A percepção de uma alucinação é igual à que ocorre para um objecto real, não sendo possível, para o doente, distingui-la da realidade.

Discurso desorganizado
A fragmentação do pensamento é um sintoma característico da esquizofrenia. Externamente pode ser identificado pela forma como o doente fala. Os doentes com esquizofrenia têm dificuldade em concentrar-se e em manter o curso do pensamento. Poderão falar de forma incoerente, pouco lógica e responder de forma inadequada a uma pergunta.
Sinais comuns de discurso desorganizado na esquizofrenia incluem:
Afrouxamento associativo -  mudança rápida de um tópico para outro, em que se perde a relação entre o primeiro pensamento e o seguinte.
Neologismos – Palavras ou frases criadas pelo doente que apenas têm significado para ele.
Perseveração – Repetição de palavras ou afirmações de forma continuada.

Comportamento desorganizado
A esquizofrenia tem um impacto importante no funcionamento global do doente, que altera a capacidade de se auto cuidar, trabalhar e interagir com os outros. O comportamento desorganizado pode ser identificado como:
Declínio no funcionamento global
Respostas emocionais imprevisíveis ou inadequadas
Comportamentos que podem parecer bizarros e sem propósito
Ausência de inibição ou controlo dos impulsos

Sintomas negativos 
Os sintomas negativos da esquizofrenia referem-se à ausência de comportamento normal encontrado em indivíduos saudáveis. Alguns destes sintomas são:
Ausência de resposta emocional – Fáceis inexpressivo, incluindo tom de voz aplanado, ausência ou dificuldade no contacto visual.
Ausência de interesse/entusiasmo – Ausência ou diminuição de motivação para as actividades de vida diária, isolamento social.
Dificuldade e alterações do discurso – Dificuldade em estabelecer e manter uma conversação, tom monótono do discurso, respostas curtas e por vezes descontextualizadas.

Para a semana iremos abordar causas e tratamento da Esquizofrenia.
Uma boa semana. Até lá, cuidem sempre da vossa saúde. Da vossa e da dos que os rodeiam. Procure ajuda especializada quando necessário, sem preconceito.

Apresentação Joana Franco

Chamo-me Joana Franco, tenho 32 anos, e sou natural de Geraldes, aldeia pertencente ao Concelho de Peniche.
Enfermeira de Profissão, terminei o Curso de Licenciatura em Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Francisco Gentil, em Lisboa, no ano de 2010.
Nos anos mais recentes abracei desafios noutros países, nomeadamente Dubai onde fiz parte um projecto na área de Turismo, e em Inglaterra, onde trabalhei como Enfermeira em “Nursing Homes”, a cuidar de Pessoas com Demência.
Em Portugal, demonstrei o meu trabalho como Enfermeira no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Hospital Júlio de Matos e, actualmente, trabalho na Clínica Psiquiátrica de Lisboa, em Telheiras.
Sou uma pessoa que aceita novas aventuras e, como tal, aceitei o convite de escrever para o Blog ‘Cultura e não Só’, em que apresento novos pontos de vista e dicas para tornar melhor a saúde do leitor