A longa-metragem de estreia de Ibrahim Nash'at, um dos 15 documentários que concorrem a uma nomeação para os Óscares este ano, chega à Filmin.
Em Hollywoodgate o cineasta Ibrahim Nash'at, arrisca a sua vida ao acompanhar os Talibãs na tomada de uma base militar americana abandonada no Afeganistão.
Imediatamente após a retirada dos EUA do Afeganistão, os talibãs ocuparam o complexo “Hollywood Gate”, supostamente uma antiga base da CIA em Cabul. Os Talibãs encontraram inúmeros aviões, armas e peças de equipamento militar.
Ao longo de um ano, o cineasta acompanha o desenvolvimento de “Hollywood Gate” e oferece uma visão autêntica da rápida ascensão dos Talibãs ao poder. Mostra o seu centro de controlo a partir do interior e destaca a forma como se transformam de uma milícia extremista num poderoso regime militar.
Foi nesta fase inicial do regime que Ibrahim Nash'at conseguiu contactar MJ Mukhtar, um soldado que se deixa filmar com a autorização do seu supervisor, Mawlawi Mansour, o novo chefe da força aérea do governo. No início, os media tinham mais poder sobre eles. E havia também o ego, claro: eles adoravam ser perseguidos por um estrangeiro. Isso dava-lhes uma sensação de importância, explica o realizador.
Mas nem toda a gente ficou satisfeita com a ideia do documentário. Durante o filme, é possível ouvir alguns dos soldados que estão a ser filmados a falar sobre ele. Comentários como: Aquele diabinho está a filmar-nos ou, vindo do próprio Mansour: Se as suas intenções são más, morrerá em breve. Nash'at explica que a sua forma de lidar com esta situação foi simplesmente não descobrir: Pedi ao tradutor que não me dissesse as coisas más que estavam a dizer sobre mim. Não queria ficar com medo ou ficar com essas opiniões negativas na minha cabeça.
Com o passar do tempo e o aumento do poder dos Talibãs, as suspeitas sobre o documentário começaram a crescer. Os serviços secretos vieram ter comigo e disseram-me: 'Venha amanhã com o seu material ao nosso gabinete, queremos verificar o que tem. E eu sabia que estava a correr perigo. Por isso, saí do país no mesmo dia, conta o realizador. Agora que o documentário foi publicado, a pergunta que se coloca é: esse medo ainda existe? Ibrahim Nash'at responde: No final do dia, sou um ser humano, claro que existe medo! Mas tomei a decisão de ir para o Afeganistão. Os afegãos não tiveram escolha para viver esta vida. O meu sofrimento não é nada comparado com o deles.
A longa-metragem de estreia de Ibrahim Nash'at, realizador e jornalista egípcio, estreada em festivais como Veneza, CPH:DOX e Atlàntida Mallorca Film Fest, e que este ano entrou na shortlist para os Óscares, sendo um dos 15 documentários mais relevantes da temporada, com co-produção germano-americana consegue expor de forma inteligente os jogos de poder e de propaganda dos líderes talibãs.
Sobre Ibrahim Nash'at
Nasceu na Arábia Saudita em 1990. Tem um mestrado em Cinema Documental pela Met Film School. Trabalhou para vários canais e plataformas internacionais, como a Deutsche Welle, a Al Jazeera e a Business Insider, entre outros. Foi co-editor de “Under the Sky of Damascus” (2023), do realizador Talal Derki. “Hollywoodgate” é a sua primeira longa-metragem.