terça-feira, 19 de julho de 2016

Hélder Moutinho na "Noite de Fado de Lisboa" do Festival das Artes


Dono de uma voz poderosa e de uma rara profundidade emocional, Hélder Moutinho faz-nos esperar avidamente por cada novo disco. Em vinte anos de carreira, “O Manual do Coração” é apenas o seu quinto álbum de estúdio, distando três anos do anterior “1987”, justissimamente aclamado como um dos grandes discos do “novo fado” e como um dos melhores trabalhos da música portuguesa de 2013. Antes destes, o fadista publicara “Sete Fados e Alguns Cantos” (1999), “Luz de Lisboa” (2004) e “Que Fado é Este que Trago” (2008). 

Poeta e intérprete único no panorama nacional, Hélder Moutinho é a prova de que ser Fadista é cantar à vida. Da sua família herdou o gosto natural pelo Fado, crescendo e convivendo desde sempre nos meios mais tradicionais deste género. Se inicialmente cantava só para amigos, o dom deixou de poder ser guardado e a sede de cantar levou-o a fazer parte do elenco de uma casa de fados no Bairro Alto. Foram as tertúlias fadistas, pela noite dentro e com outros amantes do fado, que viram surgir as primeiras letras de sua autoria.

Vinte anos volvidos, Hélder Moutinho apresenta “O Manual do Coração”, escrito na totalidade por João Monge para as músicas de Carlos Barreto, João Gil, Zeca Medeiros, Manuel Paulo, Marco Oliveira, Mário Laginha, Pedro da Silva Martins e Luís José Martins (Deolinda), Ricardo Parreira e Vitorino. Se os anteriores discos de Hélder Moutinho tinham um lado narrativo muito forte, “contando uma história cada um”, este “conta uma série de histórias que fazem parte do coração, que têm a ver com as nossas emoções”, diz o artista. Na verdade, “O Manual do Coração” nasceu de longas conversas entre Moutinho e Monge, abordando episódios e histórias que lhes aconteceram, pessoalmente ou a amigos.

O álbum compõe-se maioritariamente de fados-canção, embora alguns temas respeitem a estrutura do fado tradicional. Como explica Hélder Moutinho, essa “fuga” à utilização e valorização das melodias do fado tradicional que tem norteado a sua carreira era importante neste disco. “Mesmo por defender o fado tradicional,” diz, “não fazia sentido para estas letras voltar a ir buscar fados tradicionais que já tivessem sido gravados muitas vezes. E acredito que alguns destes temas se vão tornar em novos fados tradicionais.”

A ideia de “O Manual do Coração” como uma “colecção de contos” vai estender-se à produção de palco - “com várias histórias à volta de um ponto de encontro que será a sala de espectáculos, que serão maioritariamente deste disco, mas poderão também vir dos anteriores”. E confirma a versatilidade de um artista de rara integridade – um cantor que só lança um novo álbum quando tem algo de novo para dizer. Hélder Moutinho pode fazer-nos esperar, mas ainda bem que o faz.